segunda-feira, 10 de agosto de 2015

IR À «TERRA»

CLARA CORREIA
“Meu querido mês de Agosto”, não só o “meu”, como dizia a letra de uma canção de pendor ”emigrante”, mas o de todos em geral, tem, quase sempre, tanto de “silly” como de sentimental … ou não estivéssemos em plena “silly season” e em pouco serena, por vezes, arena de sentimentos; eles, os sentimentos e as sensações (não só as causadas pelo “sol na pele ao léu”, como dizia uma outra canção a pender mais para o tropical) soltam-se por aí (que no ar livre estival desfrutam bem do privilégio da liberdade), à rédea tão solta como livres de “rei e roque”. 

De modo que, à semelhança dos ditos “amores de Verão”, que também exigem um considerável aporte emocional e, tipicamente, duram o ápice do pico passional sazonal, as idas anuais (ou bi-anuais, se natalícias) à “terra” (a de cada um, bem entendido) têm a duração do prazo para a despedida forçada, que o que tem de ser, tem, de facto, muita força … sobretudo no que respeita a tudo o que respeite à chamada “rentrée” que, afinal, mais não é do que um estrangeirismo “três chic” para fazer regressar a “plebe” à realidade da rotina laboral e de outros compromissos deliciosamente omissos nas férias e viagens a elas associadas, nomeadamente, à “terra”! 

Ora, a ida “à terra” é precedida pelo artigo definido “a” em vez do artigo indefinido “uma” pela mesma razão que nos faz ser “filhos dela” (da “terra”) e não de qualquer outra. E se chegar à “terra” implica viajar milhares de quilómetros pela mesma estrada que conduziu à emigração, então, a ida toma a forma da saudade saciada pela ambicionada ausência da distância geográfica, para quem vai e para quem lá espera!

Se “ir à terra” equivale a passar uns dias na província, o que sucede a maioria das vezes, a expressão adquire um significado ainda mais especial, dependendo, ainda assim, da manutenção que se cuida em fazer no que respeita à afinidade com a terra e à cumplicidade com os conterrâneos; uma parte destes, provavelmente, participaram no cenário da nossa infância e é precisamente a infância, como a arca dos tesouros mais ou menos únicos que nos compõem enquanto indivíduos, que nos liga indelevelmente à “nossa terra” … mais um motivo, em boa parte dos casos, para (re)vivermos este e cada Verão!

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