PAULO SANTOS SILVA |
Quis o acaso do destino que hoje, dia em que faz precisamente 14 anos que passaste a ser a estrela mais brilhante do meu céu, tivesse que escrever uma crónica. Evidentemente que o tema dela, terias de ser tu.
São tantas as lembranças que nem sei por onde começar. Talvez pelo princípio ou pelo menos pelo mais perto do princípio que me lembro. Do teu abraço meigo e carinhoso, que à medida que eu ia crescendo, me pedias para “não apertar tanto, que me magoas!...”. Era mais forte que eu. Em cada um desses abraços, eu sabia que não poderia ficar nada comigo. Teria de te dar tudo, tal e qual como tu fazias, incondicionalmente, comigo. Depois, a paciência. A paciência que sempre demonstraste comigo e com todos. E sei que nem sempre foi fácil tê-la comigo…
A bondade. A bondade que te caraterizava e que tantas amizades te granjeou ao longo da vida. Que grande lição me deste quando uma mendiga nos bateu à porta e pediu um copo de água. Do “alto” da minha meninice, fiquei muito escandalizado por o teres ido buscar. Não me esqueço da tua resposta. “Um copo de água, não se nega a ninguém! E de mais a mais, não reparaste que a senhora estava grávida?...” Não, não tinha reparado e a minha vontade naquele preciso momento, foi cobrir-me de vergonha.
A sabedoria. A sabedoria de com pouco fazer muito. Em cada pequena ação. Em cada pequeno gesto. Ainda hoje, cada vez que vejo um Bolo de Arroz, me lembro do que me davas na Pastelaria Chaimite, sempre que vínhamos de casa da prima Maria Lília, onde eu te acompanhava quando ias fazer trabalhos de costura. A tua costura, que tinhas aprendido num curso nas lojas Singer, do qual ainda hoje guardamos religiosamente encaixilhado o diploma. Tudo isto, depois de vermos um comboio a apitar na Estação da Avenida de França, que tu à ida ou à vinda, arranjavas sempre um bocadinho de tempo para me deixar ver.
Tantas e tantas memórias!!!
Finalmente, a última lição que me deste. A de que esta vida é uma passagem e que devemos encará-la com a perspetiva de lidar com as coisas, à medida que elas nos surgem. Foi assim, que lutaste dois anos contra essa doença maldita. Foi assim, que me levaste ao altar com a certeza absoluta que me estavas a entregar nas melhores mãos. Foi assim, que ainda conheceste o meu filho mais velho e ainda lhe pegaste ao colo. Foi assim, que me disseste no corredor daquele hospital “estou pronta”.
Tenho saudades tuas. Muitas. Todos os dias penso em ti, porque sei que estás a velar por nós todos, com esse sorriso terno e meigo que tanta falta nos faz. Um beijo e um xi-coração apertadinho!!!
Do teu filho.
Porra! Deixaste-me de olhos rasos de água...
ResponderEliminar