“- É proibido?
- É!
- E pode fazer-se?!
- Pode!
- E o que é que acontece?
- Nada!”
GABRIEL VILAS BOAS |
Nunca se soube tanto sobre as feias entranhas do país como agora e nunca como agora se fez tão pouco para as estripar de um corpo muito acostumado à sua doença crónica.
Poucos portugueses ignoram os casos de corrupção na banca e na política; a pornográfica morosidade da justiça; as falhas de um sistema nacional de saúde exausto, onde até a humanidade já tem um preço.
Quase diariamente somos confrontados com mais uma notícia sobre uma vilania, um crime, uma imoralidade. Já nos tornámos emocionalmente imunes, especialmente porque nos sentimos impotentes para os reverter. Percebemos que as leis que nos regem são apenas lixo legislativo, laboriosamente fabricado para impedir criminosos de pagar as suas malfeitorias.
É provável que sempre tenha sido assim e que agora só tenhamos mais consciência disto ou que a pouca vergonha ande à solta. Discutir quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha, é só uma forma de esgotar energias e perpetuar um país feio, onde gente de bem não se revê.
Os portugueses não precisam de mais uma denúncia, mais um escândalo para vampirizar, mais um banco falido, mais uma morte num hospital central, por falta de meios humanos ou de medicamentos.
Os meus concidadãos precisam que cada profissional vá resolvendo a parte do problema que lhe cabe, com celeridade, ponderação, justiça e coragem.
Ao contrário do que possa parecer, acho que cada um de nós pode fazer algo para drenar o pântano. Podíamos começar por não fomentar discussões inúteis acerca de assuntos que não admitem duas interpretações e fazer a nossa parte na empresa, na família ou no café.
Quando a audiência da Casa dos Segredos descer ao nível do programa, “aquela coisa” acaba; quando deixarmos de votar em gente corrupta ou altamente suspeita de corrupção, o seu poder diminuirá e os pouco corajosos agentes da justiça tratarão de os acusar e julgar. Não aceitemos julgamentos televisivos, mas exijamos decisões rápidas nas verdadeiras Casas da Justiça. Portugal está muito necessitado de dirigentes que decidam, que invistam em quem quer desenvolver o seu trabalho com rentabilidade nas diversas áreas da economia.
Atualmente, poucas instituições internacionais acreditam na credibilidade do país. Não é do partido A ou B, mas de Portugal. Não tenhamos ilusões tontas. Claro que quem descredibilizou o país não foi o português anónimo, mas aqueles que governaram Portugal. Ora, foi o nosso não querer saber, o nosso “deixa andar”, que criou este estado parasitário que nos suga os ossos e afugenta os médicos. Não temos o direito nem credibilidade para aumentar 30 euros aos salários mais baixos da nação, porque os nossos geniais gestores bancários nos envergonharam em vários milhões de euros à hora.
Gostava de viver num país onde os atos tivessem sempre consequência. Os bons e os maus, porque, por vezes, pior do que decidir mal é não decidir.
Nos dias que correm, as peças de teatro não agonizam nas salas vazias de espetáculos. Ao fim de cinco/seis sessões, todo o público com vontade de ver determinada peça já a viu e a Companhia ruma a nova cidade ou parte para outro projeto.
A vida faz-se de ação e decisão. A vida não para, nós é que paramos! E parar é chamar a morte…
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