quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

DESALENTO*

Salvar a vida, até onde é possível, mesmo à custa da morte. É o acto do suicida.
Vergílio Ferreira (escritor)


DR CARLOS MOURA
ANABELA BORGES
Vestiste o teu melhor fato. É sempre bom estar preparado, nunca se sabemos quem nos espera.
(o leito do moribundo; o fato do defunto)

O que buscas?
Que silêncios te perseguem nas vozes insanas que te enchem a cabeça?

A vida é aquele lugar desamparado, sem tábua onde deitares a mão.

Que solidões te atormentam, no sentires que estás sozinho no meio de gente que não te entende?
Que mágoas buscas arrancar ao álcool, abafar o grito, os soluços, as palavras amargas?
Que esperanças te abandonaram no caminho que percorrias de pedregulhos assassinos?
Que dores te confundem a ideia e te levam ao delírio de pensar em não pensar em nada, enquanto pensas em mil coisas?
Que seres te rodeiam, que não te vêem as mãos desertas e os olhos baços a buscar libertação?

O mar é esse incessante vai-vém de dunas e veios e vazas – que tudo altera e transforma – e águas profundas.
É silêncio e voz, solidão, mágoa e apaziguamento, esperança, caminho, dor, deserto, libertação.

O mar é vida.
Contempla-o e volta para casa.
Alguém há-de precisar de ti.

 ANABELA BORGES
*Este texto foi escrito em resposta a estas duas fotografias reais (não encenadas), que me enviou o fotógrafo Carlos Moura, depois de as registar, perturbado. Nesse dia, conversou com o senhor que, naquela hora, recuou nas suas intenções e abandonou o local. Talvez o Carlos Moura tenha salvado a vida àquele homem. Quem vai saber? Mas ficou claramente impressionado pela força e o poder da morte numa hora má. Ninguém está livre de uma hora assim.  

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