[CAR.NA.VAL]
(de carnelevare, retirar a carne)
ANABELA BORGES |
Gosto do Carnaval. Gosto mesmo muito do Carnaval. Desde pequena. Sempre gostei, sempre me diverti muito nesta festividade, fizesse chuva ou sol.
Hoje-em-dia, nem sempre é fácil as pessoas desfrutarem do Carnaval porque colocam expectativas demasiado elevadas nas festividades que pretendem apresentar. E não é fácil porque as pessoas esquecem-se sempre de um detalhe; é apenas um detalhe, mas faz toda a diferença: o clima.
As pessoas preparam carros alegóricos que facilmente derretem com a chuva; as pessoas tiram as roupas do corpo, pensando que estão em ambiente tropical, e querem sambar. É um desatino!
Hoje-em-dia, há anos que não saio para me divertir no Carnaval. Estou a perder-lhe o espírito, estou a ir na onda de deixar que as pessoas, as ideias de clima tropical, de despir em vez de vestir – estou a deixar que isso me deixe cheia de desgosto e que comece a ficar indiferente ao Carnaval. E assim passo a contribuir para o grosso de gente que, lentamente, desfigura o Carnaval português, o transfigura e o distancia das suas raízes.
Sim, porque nos meus carnavais não nos despíamos – isso era impensável – porque, valha-nos Deus, está frio! Nos meus carnavais vestíamos camadas de roupa e usávamos guarda-chuvas.
Nos meus carnavais fazíamos bailes muito divertidos. Eramos os mascaréus, nem nos reconhecíamos, e isso era muito divertido, porque fazia rir gargalhadas loucas e puras.
E nunca ninguém nos disse “este ano não podereis brincar ao Carnaval, porque não tendes roupas adequadas”.
Tenho saudades de me divertir como nesses carnavais. Já não se fazem carnavais assim.
Os meus carnavais eram um “retirar a carne” da rotina, do quotidiano – creio que deve ser isso o Carnaval – era espantar os demónios do corpo, nessa oportunidade única.
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