ANABELA BORGES |
Aproxima-se o
Natal.
A quadra
festiva, para mim – que faço parte do grupo de pessoas que adora o Natal –,
representa, acima de tudo ESPERANÇA. Não consigo entender a ideia de muitas pessoas,
a quem não falta nada, de dizerem – à boca cheia – que detestam o Natal;
que-assim-que-assado-que-mais-isto-e-mais-aquilo. Com argumentos que lhes
enchem as bocas de embaraços, como se foram insectos a entupi-las e elas a
cuspi-los, aos engasgos. Não entendo, usem os argumentos que usarem. Falam de
barriga cheia, literalmente.
Natal só é tempo
de hipocrisia se fizerem dele um tempo hipócrita. Muitos dos que dizem que o
detestam, também estão a ser hipócritas. E bem podiam esses juntar-se, em fila,
no presépio, a engrossar a carneirada do pastor, pois, se acham que estão a ser
diferentes, estão – única e simplesmente – a copiar outros, que se julgam
diferentes. Isto que aqui digo é confuso e não é para perceber. E não faz
diferença, porque não presta para nada. Pessoas assim não prestam para nada.
Já, de outro
modo, entendo que uma pessoa que nunca teve direito a um verdadeiro Natal – em união,
alegria, partilha – deteste o Natal. Essa pessoa, de facto, não tem motivos
para gostar do Natal. Mas pode ser que a vida ainda lhe proporcione um. E então
– a esperança – essa pessoa poderá, ainda, vir a descobrir o que é
verdadeiramente o Natal, e não terá motivos para odiá-lo mais.
Daí que mantenho
a opinião de que todo o ser humano, independentemente da sua cor, nacionalidade
ou crença, deveria ter direito a pelo menos um dia de Natal por ano.
Seja, com isso,
um dia de luz, união, alegria, calor, partilha – ESPERANÇA.
É isso que
procuro mostrar no meu conto “O Natal de Anne Frank”.
«Outro Natal.
“SEXTA-FEIRA, 24
DE DEZEMBRO DE 1943
[…] Estamos presos nesta casa como leprosos, o
que é principalmente difícil durante o Inverno e nos feriados do Natal e do Ano
Novo.
[…]
Sexta-feira à noite, pela primeira vez, na minha
vida, recebi um presente de Natal. […] Miep fez um bolo delicioso, com as
palavras «Paz 1944» escritas em cima, e Bep contribuiu com uma fornada de
biscoitos à altura de um dos melhores padrões do pré-guerra.”
O Dia D: também
Anne soube do “Dia D”, pela rádio, e isso não a libertou…
1944-1945.
Auschwitz e Bergen-Belsen. O último Natal de Anne.
Anne tem 15
anos. Apesar de viver “mergulhada”, “No topo do mundo, nas profundezas do
desespero”*, continua a procurar formas de ser feliz.
[…]
O historiador do Holocausto Yehuda Bauer
lança três novos mandamentos, a serem
tomados como lição: “Não serás um criminoso; Não serás uma vítima; Não serás um
espectador”.
Se é a vida tão frágil, no regerem-se os
homens pelas contas do calendário, então devia cada um, independentemente da
religião ou do lugar onde nasceu, ter direito a pelo menos um dia de Natal por
ano. Uma noite de luz, de calor, de alegria, de esperança.
Anne Frank também nos ensinou isso»**.
Sejamos nós esse Natal.
Notas:
*Uma frase famosa de Goethe.
Citações do livro “Diário de Anne Frank”, escrito
por Annelies Marie Frank.
**Excertos do conto de Anabela Borges, da colectânea
LUGARES E PALAVRAS DE NATAL 2015, da editora Lugar da Palavra.
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