GABRIEL VILAS BOAS DR |
O lixo é um assunto que não interessa a ninguém. É feio, cheira mal, dá náuseas. É até de mau tom falar dele. No entanto, ele existe… e todos os dias.
Por ano, cada português produz mais de 450 quilos de resíduos domésticos, ou seja, mais de um quilo por dia. É certo que a média dos países da União Europeia é superior (492 quilos), mas o lixo dos outros nunca impediu o nosso.
O grande problema do lixo sempre foi o que fazemos com ele. Nós depositamos em aterros mais de metade do nosso. Só reciclamos 12%, ou seja, cerca de cem quilos. Já os outros europeus atingem uma taxa de reciclagem de 27% dos seus resíduos.
A primeira conclusão a que chego é que ainda reciclamos muito pouco. Não porque não haja meios, mas porque não estamos para aí virados. É um problema de mentalidade, mas em breve a nossa mentalidade vai custar-nos uns bons euros a mais ao fim do mês. E não havia necessidade!
Há poucas semanas, conversando com um familiar emigrado em Londres, fiquei a saber que cada proprietário/inquilino paga uma espécie de imposto camarário de cerca de 300 euros mensais. Quando lhe perguntei que serviços justificavam essa verba, respondeu: “Basicamente, vêm buscar o lixo uma vez por semana! E enquanto não chega esse dia, temos de guardar o lixo dentro de casa!” E acrescentou que há localidades onde essa recolha se faz duas vezes por mês. E cobram 300 euros (ou mais) por isso. Em Portugal, temos contentores e ecopontos, por isso não temos de guardar o nosso lixinho dentro de portas. A recolha é feita com mais regularidade e pagamos por isso cinco ou dez euros. Em breve, as regras mudarão, até porque as empresas municipais de recolha e tratamento do lixo são financeira e economicamente deficitárias.
Não demorará muito para que o lixo seja um negócio muito lucrativo, porque ele é tão desprezível como incomodativo. Em Nápoles, a máfia domina o negócio e obrigou, há uns anos, o governo italiano a ceder aos seus caprichos; Margaret Tatcher teve de enfrentar a crise do lixo e a sua popularidade ficou ao nível de… lixo.
É sabido que os aterros não são eternos e muito menos imensos. Nenhuma população os quer por perto, mas continuamos a produzir lixo como nunca. O que não deixa de ser cómico e trágico, estando nós na era do digital e da síntese.
A solução é obviamente produzir menos lixo e apostar na reciclagem, como atitude padrão. Reciclar ou compustar. É a única medida inteligente e económica viável.
Desta vez não podemos dizer que não há condições. Elas existem e em quantidade suficiente. O que não existe é uma mentalidade capaz. Ora a mentalidade constrói-se na escola e em casa. Leva anos a implementar, mas vive dos pequenos gestos e hábitos. E os hábitos crescem com exemplos.
Ao contrário do pensamos, o ambiente que respiramos constrói-se. E ainda que não seja pelas melhores razões, não permitas que o lixo te lixe a vida.
Faço separação de resíduos desde cerca de 2000 (comecei pelo papel e depois "estendi" a separação aos outros tipos de lixo). Confesso que fiquei muito satisfeita quando visitei a Resinorte, com a EB 2,3 de Amarante. É compensador ver que o esforço diário que se tem dá frutos, e que há mais quem se dê a esse "trabalho", engrossando assim as toneladas de lixo que poderão vir a ser utilizadas para outros fins que não o de acabar soterradas sob aquilo que no futuro serão verdes parques com um segredo ruim.
ResponderEliminarAinda sobre o lixo, nunca é demais recordar que tão importante como separar, é reduzir o volume de lixo que cada um de nós produz, o que pode ser feito (por exemplo) evitando a compra de produtos que trazem embalagens desnecessárias ou realizando a compostagem dos resíduos orgânicos.
Ana Alves