GABRIEL VILAS BOAS DR |
Quando em pleno século XIX, a revolução industrial toma
conta da Europa e a máquina ocupa a vida das pessoas, um novo conceito
sociológico inicia o seu reinado: a rotina.
Este conceito começou no emprego mas rapidamente tomou conta
da vida das pessoas. Primeiro, nos processos mecânicos que tiranizaram o
trabalho dos indivíduos, depois no estilo de vida que foram obrigados a levar e
finalmente naquilo em que a vida pessoal e afetiva de cada um se tornou.
Quando cada um de nós se deu conta que a rotina tinha
chegado à sua vida pessoal, a rotina deixou de ser um bem indiscutível. Passou
a ser analisada, questionada, criticada.
Contudo, não devemos negar a evidência: a rotina fez e faz
muito pelo ser humano. Rentabilizou-lhe o tempo, organizou-lhe a vida
profissional e social, ajudou-o no seu crescimento, tornou-o confiante e
confiável. Os seus méritos são inúmeros e não são descartáveis. Além disso,
toda a rotina tem a sua beleza. Há uns meses atrás li um poema, dum autor
desconhecido, muito elogioso para a rotina que não resisto a citar:
“A ideia é a rotina do papel
O céu é a rotina do edifício
O início é a rotina do final
A escolha é a rotina do gosto
A rotina do espelho é o oposto
A rotina do jornal é o facto
A celebridade é a rotina do boato
A rotina da mão é o toque
A rotina da garganta é o rock
O coração é a rotina da batida
A rotina do equilíbrio é a medida
O vento é a rotina do assobio
A rotina da pele é o arrepio
A rotina do perfume é a lembrança
O pé é a rotina da dança
Julieta é a rotina do beijo
A rotina da boca é o desejo
A rotina do caminho é a direção
A rotina do destino é a certeza”
O céu é a rotina do edifício
O início é a rotina do final
A escolha é a rotina do gosto
A rotina do espelho é o oposto
A rotina do jornal é o facto
A celebridade é a rotina do boato
A rotina da mão é o toque
A rotina da garganta é o rock
O coração é a rotina da batida
A rotina do equilíbrio é a medida
O vento é a rotina do assobio
A rotina da pele é o arrepio
A rotina do perfume é a lembrança
O pé é a rotina da dança
Julieta é a rotina do beijo
A rotina da boca é o desejo
A rotina do caminho é a direção
A rotina do destino é a certeza”
O problema é que a rotina não é aplicável a todas as
dimensões da nossa vida. E quando deixamos que a nossa preguiça ontológica nos
capture, permitimos que a Rotina se instale na nossa vida íntima e afetiva. E
aí começam os problemas, ou melhor, as frustrações.
O primeiro erro que cometemos é deixar que a Rotina colonize
a nossa liberdade. Richard Bach dizia que para se viver feliz era necessário
sacrificar-se a rotina, mas isso quase nunca era um sacrifício fácil. Até
porque a rotina traz sempre a garantia do resultado alcançado.
A solução é fazer novos caminhos, permitir-se perder-se, quebrar a rotina, visto que
ninguém encontra um atalho sem se perder antes.
As pessoas não são rotina. São feitas de sentimentos, de
emoções, de problemas, de diferenças. Em muitos momentos, a déspota rotina que
escolhemos para a nossa vida não autoriza que vejamos os outros deste modo.
Infelizmente apenas reparamos nisso quando a rotina dos outros nos mostra o
vazio mecânico em que nos tornámos.
Quando nos acomodamos à rotina deixamos de viver, perdemos,
pouco a pouco, o pulso de nós mesmos, deixando o nosso processo de crescimento
à mercê das influências e das circunstâncias alheias. Hábito e rotina têm um
inacreditável poder para desperdiçar e destruir.
Em muitos casos, a rotina tira valor às coisas. Talvez por
isso, a rotina seja hoje citada como uma das causas mais fortes da separação
dos casais. Isto acontece porque na rotina, as pessoas criam padrões
repetitivos, enquanto na incerteza, os indivíduos têm instintos inovadores. E o
instinto é uma das mais importantes regras de sobrevivência…
Talvez por isso tenha medo do tédio e da monotonia, da “mesmice”,
da rotina. Sinto-as como um desperdício de vida, uma desistência, uma anulação.
Gosto de percorrer caminhos desconhecidos, tenho simpatia
pela inovação, pois é através das novidades que o mundo gira.
Sei bem que a rotina faz parte da vida, mas isto não quer
dizer que os nossos atos tenham de ser feitos na mesma sequência. É necessário
ter capacidade para nos surpreender.
Se o ser humano fosse
para viver de rotina, no lugar do cérebro teria um chip.
A " ROTINA " TEM A SUA BELEZA GABRIEL!!! LINDÍSSIMO POEMA. PARABÉNS.
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