Gabriel Vilas Boas DR |
A violência é um ícone das
sociedades modernas.
Não falo do conceito clássico que habitualmente
associamos a conflitos armados ou da repressão policial em regimes pouco
democráticos. Não falo da violência que vemos nas ruas de Kiev ou do Cairo.
Refiro-me antes a um modo de estar em sociedade que primeiro tolerou, depois
aceitou e agora quase que incentiva a agressividade.
Para muitos a violência/agressividade tornou-se quase
uma estética de afirmação pessoal, um estilo de vida, um modo de “marcar
território” no trabalho e nas relações.
As escolas têm cada vez mais dificuldades em contê-la
entre alunos, os pais receiam falar delas aos filhos com medo de serem
ridicularizados, os media assobiam
para o lado. Acho que esta atitude titubeante de pais, escola e comunicação
social tem que ver com a consciência pesada que todos sentem em relação ao
assunto.
A televisão cavalga a euforia de poder que a
violência proporciona em tudo o que transmite: filmes, séries juvenis,
programas informativos, desenhos animados. Depois, hipocritamente, procura
redimir-se com debates pretensamente moralistas chamando à discussão os
psicólogos, os técnicos da segurança social, os agentes da autoridade, os pais,
os jovens… Jamais se questionam nem permitem que os questione
A escola sente que não vale a pena. Vislumbra tarefa
hercúlea e endossa responsabilidade às famílias, à sociedade, às televisões.
Promove umas palestras sobre violência no namoro, controla a agressividade no
recreio e dá o trabalho por concluído. Faz de conta que nada tem que ver com o
assunto, mas tem. A escola moderna promove duma maneira absurda a
competitividade. Números, resultados, sucesso, rankings. Apenas isso parece
interessar. E a mensagem passa claramente do diretor para os professores e
destes para os alunos. Da competitividade à agressividade vai um passo muito
pequeno. Se a isto juntarmos a frustração de objetivos não alcançados, depressa
chegamos à violência. Que não é física, mas psicológica. Muitas jovens vivem
profundamente infelizes e deprimidos com este estilo educativo moderno que fez da cultura do resultado a única
coisa que interessa em educação.
Facilmente chegamos a casa e à família. Cansados,
desorientados, encurralados entre televisões sensacionalistas e agressivas e
uma Escola que faz o culto da competitividade, os pais não sabem como atuar.
Muitos deles têm já medo dos filhos. Outros nem reparam que eles existem e
bombardeiam-nos com mais violência. É o pai que bate na mãe; é a linguagem
desbragada; é a exigência de resultados escolares a todo o preço; é o abandono
dos compromissos assumidos; é a falta de respeito, carinho e amor entre
familiares, é…
Há uma enorme guerra civil que nos destrói a alma
diariamente e não permite que sejamos felizes. Por isso penso que devemos
reorientar o nosso estilo de vida. Perceber para que serve, afinal, uma escola,
uma família, uma sociedade. Uma família deve incutir valores, uma escola serve
para ensinar e educar, a sociedade imprime coerência coletiva a um conjunto de
pessoas que quer viver em comunidade. Isso não se faz segundo as leis da selva.
O teu texto desfia os meus pensamentos sobre o tema. Este estilo educativo moderno a que te referes é sem dúvida a destruição da verdadeira educação, pois a competição e o poder faz desenvolver todo o tipo de violência. Infelizmente, já não há paciência para nada...e todos acabamos por entrar na bola de neve...baseado nas leis da selva. Os que vão fugindo à regra são denominados de loucos!!!
ResponderEliminarTexto interessante, revelador de conhecimento de causa. Gostei.
Precisamos de tempo, Gabriel, tempo para dedicar uns aos outros. E reorientação!
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