Alina Sousa Vaz DR |
Lembro-me como se fosse hoje! O encerramento da linha de comboio Vila Real- Régua deixava atónitos todos aqueles que tinham nascido e crescido a ouvir o barulho do motor da locomotiva. A sinfonia barulhenta fazia parte das suas vidas e o som sempre fora perfeito por entre vales e montes.
Naquela noite, as vozes gritavam bem alto e de corações apertados, os manifestantes surgiam em grupos provenientes das aldeias de Penelas e Povoação transformando a estação de Carrazedo no foco de atenção dos telejornais nacionais. O cordão humano debatia-se na defesa do comboio que mais parecia ser, no escuro da noite, um monstro carente de proteção.
- Não ao fim da linha!!! - Não ao fim da linha!!! – gritavam as vozes incansáveis que impediam a passagem da última locomotiva que fazia a viagem de regresso à Régua. Todavia, aquelas palavras levaram-nas o vento e o encerramento da mesma foi uma realidade, com base que o percurso não tinha segurança!
Este percurso era fantástico! Fiz este percurso dezenas de vezes durante a minha meninice. Por aqui ia ter com a família que morava em Penelas e na Povoação e muitos dos amigos iam de viagem ao Porto, a Lisboa, para o mundo! Nas descidas, o comboio acelerava à velocidade de 50 km à hora. A subir ou em plano, o normal eram uns vinte a trinta à hora! Os 24 km de Vila Real à Régua percorriam-se em cerca de uma hora, com seis apeadeiros. As populações que não tinham transporte próprio, os estudantes das aldeias, os soldados faziam o alvoroço e davam alegria às terras vinhateiras.
O sonho de ver a linha ativa foi esmorecendo e após a retirada dos carris toda a luta caíra por terra. Os autocarros começaram a circular por entre as estradas estreitas e a solucionar os problemas dos habitantes mais isolados dos centros citadinos.
E a antiga linha? Que é feito hoje dela?
Mudam-se os tempos mudam-se as necessidades. O percurso da antiga linha foi reinventado pelos atletas amadores dos desportos da natureza. Caminheiros e amantes da BTT exploram o itinerário outrora percorrido pelo comboio. Da linha só resta os apeadeiros que dão nome às localizações e as famosas placas: ATENÇÃO AOS COMBOIOS, PARE, ESCUTE E OLHE. Proibido o trânsito pela linha. Atualmente, a proibição coloca em ironia aquelas palavras. A linha é uma afirmação cada vez mais sólida dos exploradores e a paisagem vai ganhando ao longo dos tempos nova vida e dinâmica. Algo se perdeu, mas muito se pode vir a ganhar. Haja orientação e interesse político para a reabilitação deste trilho. As paisagens convidam a cada fim de semana gente nova que dão enfâse ao turismo rural promovendo a região. É hora de agir! Recupere-se de forma turística a antiga linha de comboio Vila Real-Régua. Todos juntos conseguimos!
Que viagem...fiquei imaginando-me ouvindo o "cenário" que formavam a paisagem sonora desta maravilha. Fiz o passeio pelo Douro e fiquei maravilhado, mas, adoraria que este comboio ainda estivesse ativo.
ResponderEliminarMais uma vez, minha querida, muito querida Alina, nos desenha, como um artista, as imagens transmontanas. Obrigado!
Os outros podem-se esquecer das suas promessas, nós jamais nos podemos esquecer do nosso caminho. E há caminhos tão belos e tão marcantes na nossa vida que sempre voltamos a eles, pois eles têm o encanto da primeira vez.
ResponderEliminarBelo texto, Alina. Parabéns!