Anabela Borges, escritora amarantina DR |
Primeiro livro da inteira autoria de Anabela Borges, “Até ser Primavera” surge como uma antologia de dez contos onde impera o desespero da condição humana, a dar lugar à esperança na primavera da vida.
Até que ponto as coisas mais simples podem fazer alguém voltar a agarrar-se à vida, ou os mistérios inexplicáveis levam a desistir dela? Como se faz da intriga um modo de vida, ou se vive na cegueira de não ver o que está mesmo à nossa frente? Como justificar um aborto voluntário, ou viver com alguém que te faz a vida num inferno, como aguentar a perda daqueles que mais amamos, ou entender a saudade arrebatadora no fado do amor, como perdoar, ou gerir arrependimentos? São histórias que, há muito, te acordam o sono, te preenchem as memórias e te povoam os dias inquietos, para ler e refletir. Vale a pena acreditar na primavera da vida.
Apresentação pública na Biblioteca Albano Sardoeira, sábado, 8 de fevereiro, 16h00 |
Este livro surge como o resultado da atribuição do prémio melhor conto da coletânea Ocultos Buracos, da Pastelaria Studios Editora, e inclui o conto vencedor.
Anabela Borges, em perfil
Anabela Carvalho Borges de Sousa Lopes nasceu a 22 de janeiro de 1970 em Telões, Amarante. Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, na variante de Estudos Portugueses, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Anabela é professora do Ensino Básico e Secundário.
Confessa que sempre gostou de ler, de escrever, de cultura e das artes em geral. “Não consigo situar no tempo uma influência direta na minha escrita, mas vou contar uma história engraçada: nos anos 80 (era eu adolescente) participava nos concursos de poesia da rádio Emissora Regional de Amarante; venci o concurso por quatro vezes consecutivas, que era subordinado a temas variados e no qual participavam pessoas mais velhas que eu e com mais “bagagem” literária. Os poemas eram divulgados na rádio e havia prémios. Um dia, um tanto ao quanto tímida com a situação, e já ocupada com a minha entrada para a faculdade, deixei de participar. O poema mais antigo que tenho registado data de 1984, e foi redigido numa aula de Português. De uma forma geral, os professores sempre me incentivaram a escrever e o meu professor de Literatura do secundário era, sem dúvida, muito exigente e “puxou” muito por mim”, desabafa a escritora.
Todos os trabalhos que tem publicado foram sujeitos a seleção por parte das editoras
Merecem destaque na sua carreira, enquanto escritora, as suas mais recentes obras: Em outubro de 2011, com o conto “A Tundra (Cemitério de Memórias)”, na coletânea “Conto por Conto”, da Alfarroba Editora. “A Tundra (Cemitério de Memórias) relata a história de uma idosa, lúcida e independente, que nos conduz no tempo, através das suas memórias. A Tundra surge como o “cemitério de memórias” de uma povoação do Norte de Portugal, memórias atestadas de crenças, vícios, amizades e desavenças, numa história atemporal. Como pano de fundo, vai sendo ridicularizada a ameaça de uma perigosa pandemia, que, apesar de pairar como uma constante, nunca chega verdadeiramente a instalar-se”.
Em outubro de 2012, edita um novo conto “A Pergunta (fim de linha)”, na coletânea “Ocultos Buracos”, da Pastelaria Studios Editora. É a autora a fazer-nos a sinopse da obra: “A vida tem os dias contados. E podes ver as coisas de duas maneiras: cada dia que passa pode ser mais um ou menos um na tua vida. Há memórias com as quais é difícil viver todos os dias. E qualquer dia pode ser o último. Até que ponto uma simples pergunta pode mudar o rumo dos acontecimentos?”
No final de 2012 edita o conto “Vianoce Natal”, na coletânea “Lugares e Palavras de Natal”, da Lugar da Palavra Editora - com a ação central em Bratislava, a história desenrola-se no seio de uma família pobre, com uma ligação a Amarante, terra natal da autora.
“Os meus “leitores” no Facebook são muito efusivos e simpáticos, deixam-me comentários interessantes e mensagens de incentivo à escrita”
Paralelamente aos contos que tem editado tem visto publicados alguns dos seus poemas na página do Facebook “Quem Lê Sophia de Mello Breyner Andresen”, a convite dos gestores da página, os poetas Carlos Campos e Lília Tavares, “um projeto de mérito, de divulgação de poetas conhecidos e menos conhecidos, muito interessante, que convido a espreitarem”, desafia Anabela Lopes.
Dos concursos a que concorreu, dois deles visavam a uma distinção literária. Em 2011, foi vencedora, “ex aequo”, do prémio literário “Conto por Conto”, com o conto “A Tundra (Cemitério de Memórias)”, com a chancela da Alfarroba Editora. O prémio foi a publicação do conto. Já, em 2012, o seu conto “A Pergunta (fim de linha)” foi considerado o melhor da coletânea “Ocultos Buracos”, da Pastelaria Studios Editora, valendo-lhe o prémio da publicação de um livro da sua inteira autoria que será publicado na primavera.
Diz que anda sempre com o caderno diário – “É fundamental, porque tenho necessidade de anotar a ideia logo que ela surge. Utilizo cadernos pretos A4 dobráveis e de capa dura, porque já me tem acontecido escrever em cima dos joelhos, literalmente. Às vezes, é complicado, porque as ideias surgem-me quando estou a conduzir, e já me tem acontecido utilizar pedaços de toalhas de mesa de papel, na pausa para o almoço, quando não tenho o caderno comigo”.
“O meu sonho seria que cada jovem tivesse sempre um livro à cabeceira, para ler antes de adormecer como eu faço”
Gosta sempre de dar a conhecer tudo o que publica aos seus alunos: “eles sentem um certo orgulho, e vejo que isso lhes aumenta o interesse pelo livro e o gosto pela leitura. Tenho feito algumas visitas a escolas, com alunos desde o pré-escolar até ao secundário, e a recetividade tem sido muito boa. Fazem-me perguntas muito interessantes. São sempre experiências enriquecedoras”, confidencia.
Em relação ao melhor momento para escrever destaca a tarde, “o que acontece mais aos fins de semana e em férias”. “De manhã, vou digerindo o início do meu dia, e as ideias vão surgindo. À noite, evito escrever, porque fico agitada e sem o sono”, adianta. Refere que “as ideias estão sempre a nascer, como cogumelos, e eu tenho necessidade de registá-las na sua fase incipiente, para não as perder, e depois organizo o texto, dando-lhe mais corpo. Isto é mais com a prosa, porque com a poesia, as palavras saem quase logo como vão ficar, de forma mais espontânea”. Desafiada a optar entre a prosa e a poesia diz tratar-se de uma escolha difícil: “Tenho mais facilidade em escrever poesia, mas a prosa é um desafio infinitamente mais interessante, que requer muita concentração, disciplina e tempo. E, naturalmente, como tenho o meu trabalho, tenho falta de tempo.”
“Vou buscar muitas recordações à infância, a histórias que vivi e ouvi contar. Temos em Amarante um património riquíssimo, que eu adoro evocar e explorar”
Quisemos perceber a influência do património cultural regional nas obras de Anabela: “tenho, naquilo que escrevo, grandes influências do património cultural regional. É algo que está em mim e não consigo evitar, claramente visível, por exemplo, no conto “A Tundra”, já que tudo gira tudo em torno da vida das extintas fábricas da «Tabopan», desde os anos 70 até à atualidade, com muitos registos de linguagem e modos de vida típicos de cá. Tenho em Agustina e em Pascoaes um imenso orgulho, e noutras figuras de vulto, como Amadeo de Souza-Cardoso, porque a pintura é outra das minhas paixões. Vou buscar muitas recordações à infância, a histórias que vivi e ouvi contar. Temos em Amarante um património riquíssimo, que eu adoro evocar e explorar”, salienta a entrevistada.
No ano de 2013, concretamente, foi publicado um conto alusivo à temática “A Vida num Sonho”, numa coletânea da editora Lua de Marfim; também um conto de amor, intitulado “O Amor é um Caso Sério”, na coletânea “Beijos de Bicos”; três poemas selecionados, numa obra de poesia reunida intitulada “Aqui há Poetas: Poesia sem Gavetas”.
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