quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O LONGO INVERNO

Velho, velho, velho 
[…]o inverno
Eugénio de Andrade

Anabela Borges
DR
Este é o Inverno das nossas vidas.

Talvez que os dias nem sempre se esgotem no passar das horas, pois que os instantes que as preenchem pairam num vazio de incertezas como acontece no primeiro dia de Inverno. E o Inverno prolonga-se de forma incessante, e essa delonga dita o nosso amor e o nosso humor, o nosso aconchego e o nosso frio, o que nos preenche a ideia de espantos e desencantos sisudos, o nosso vazio.

O Inverno, para lá da vidraça, pode ser lindo, ter a sua graça: as folhas, que não se sentem observadas, rodopiam, levitam e balançam, numa estranha dança; a água, que é do tempo muito antiga, não se vendo controlada, salta, desce, encharca, respinga.

E o rio que corre, solitário, leva a fúria das nossa vidas, indiferente a tudo o que o cerca, indiferente ao frio do inverno dos nossos corações. Leva o infortúnio dos nossos dias, os medos secretos que queremos esconder, e o desejo incontido dos dias claros. O rio lava as almas dos bichos, arrasta restolhos de tudo... restolhos de nós.

O Inverno sobressalta-nos e encanta-nos, mas é de um encanto que não sabemos explicar, é o espanto de nos sabermos pequeninos, impotentes e enfermos perante o poder da Natureza, que detém as rédeas das nossas vidas como ninguém.

Vento, chuva, frio, neve… pois é um incómodo e deve ser um respeito, deve. Mas, para lá da vidraça, podem ter a sua graça. O inverno visto da janela pode ser uma cena bem apreciada, curiosa, bela.

Mas a Primavera, quem esconde o seu desejo mais profundo de ver as luz nos caminhos, nos dias de primavera? A primavera da vida e a Primavera do sol, pássaros a largar beirais e flores a romper perfumes e cores, onde apenas reinavam lamaçais.

Está visto. Estou melancólica por causa do longo inverno das nossas vidas.

E viva o Dia de São Valentim também.

2 comentários:

  1. Estás melancólica por causa do longo inverno dos nossos... dias. A vida tem muitas primaveras!
    Gosto muito da tua escrita. É uma prosa cheia de poesia. Tem tanta luz que não há sombra de inverno nenhum que apague.
    Parabéns igualmente pelo lançamento do livro em Amarante. Por não estar cá não pude estar presente. Mas sei que foi um êxito.

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  2. Bela prosa poética, Anabela Borges! Não me espanta, pois como parceiro de escrita em algumas coletâneas, habituei-me - e ainda bem - a esse estilo e a uma capacidade literária invulgar. Parabéns.

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