GABRIEL VILAS BOAS DR |
A partir de 2017, os cerca de 320 mil alunos da Universidade de Buenos Aires (UBA) passarão a ter que realizar atividades solidárias para que possam terminar os estudos e obter o seu diploma, de acordo com uma diretiva da própria entidade – que é pública e gratuita. No entendimento dos diretores e professores, a sociedade deve ser “recompensada” por ter permitido aos alunos a oportunidade de usufruírem de um ensino gratuito.
Li esta notícia e não pude deixar de ficar perplexo. Sou totalmente a favor do voluntariado e acho que é uma das pechas da sociedade atual, mas acho bizarra a ideia de voluntariado à força ou, numa versão mais suave, voluntariado por constrangimento.
O voluntariado é uma atitude nobre e não pode ser imposta, pois corremos o risco de matar um conceito que deve ser desenvolvido e acarinhado.
O voluntariado é a maneira que cada um tem de mostrar o seu comprometimento com a sociedade em que se insere; é a forma de mostrar os valores que preza; é o modo de contribuir para um bem comum.
O voluntariado não é um espetáculo, uma atitude extemporânea ou modo de promover uma imagem. O voluntariado faz-se em silêncio, perto de casa e com simplicidade. Tem que ser uma atitude consistente, implicar esforço de quem o faz e ser encarado com espírito de missão. Não pode envolver qualquer sentido de superioridade moral, vaidade intelectual ou aproveitamento pessoal.
Acho que o voluntariado é uma questão de cultura de povo. Os que ainda não o têm enraizado podem adquiri-lo ou implementá-lo através da escola, não na universidade nem com um carácter obrigatório.
Defendo que o voluntariado deve ser ensinado desde o 1º ciclo escolar. As crianças devem perceber as suas vantagens e praticá-las, ficando bem claro que a vontade do próprio em executar essas tarefas é muito relevante.
Há dois anos atrás desenvolvi com os meus alunos do 3º ciclo uma atividade em que lhes mostrei os principais centros de apoio social de Amarante (Cerci, Lares, Centros de Dia, Apoio a Invisuais). O trabalho foi feito com dois/três alunos de cada vez, numa tarde sem aulas dos alunos, sem qualquer carácter obrigatório e sem qualquer benefício ao nível da classificação final deles na minha disciplina.
Dum total de vinte e sete alunos, só uma aluna recusou participar no projeto. O objetivo foi mostrar-lhes como podiam ajudar aqueles que, perto deles, mais necessitavam, despendendo um pouco do seu tempo livre, uma vez por semana. Todos aqueles que participaram ficaram sensibilizados e gostaram da ideia.
Tenho consciência que o meu trabalho não foi além da consciencialização e muito poucos foram aqueles que continuaram a praticar voluntariado. Todavia, ficou a semente. Espero que ela germine em algum dos meus ex-alunos.
Ainda que o caminho seja longo e difícil, não podemos ir pela imposição. É um contra senso absoluto. As ações solidárias não resultam duma imposição, mas duma vontade. Só assim nascem as sociedades fortes e convictas.
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