ANABELA BORGES DR |
Deixo o
Agrupamento de Escolas de Celorico de Basto em direção a Amarante. Trago um
belo ramo de flores, mas trago, acima de tudo, uma grande satisfação. O dia, 1
de Abril, marca um dia de Primavera no calendário, mas as condições atmosféricas
são as perfeitas… de um dia de Inverno. Valha-nos que, hoje, eu trago a
primavera no coração.
Atravesso a
comprida via-rápida, flanqueada de vegetação e algumas casas pequeninas, em
pedra, que a evolução não apagou. Depois, subo, deixo para trás Vila Garcia e
tomo o rumo das terras de Pascoaes, passo São Pedro de Aboim e Gatão, muita
ruralidade ainda. Ali, mesmo às portas da cidade, o tempo de Pascoaes quase
parado… Do outro lado do vale, do lugar onde uma linha de caminho-de-ferro já
foi a principal ligação entre Amarante e Celorico, as fábricas da Tabopan, o
lugar onde nasci, a casinha dos meus pais, encolhida na paisagem alterada, o
lugar onde nasceram os meus sonhos. O vale fundo, a vegetação mais ou menos
densa, os campos de cultivo, alguma ruralidade mais.
Regressar de um
encontro com alunos, enquanto autora, deixa-me assim, cheia de inspiração e de
satisfação. A satisfação é tão grande que chega a ser daquelas que muitos de
nós já experimentámos, que é quando não nos cabe o coração dentro do peito.
Levo histórias
para contar e trago as mãos cheias de sorrisos e palavras como flores.
As reações dos
alunos são as mais variadas: os mais crescidos são os mais difíceis de
conquistar – olham-me com desconfiança e estão à espera que as histórias não
sejam boas, que eu deslize para um qualquer patamar que não lhes diga nada,
para que eles tenham razão (a adolescência é um lugar complicado…) –, mas
acontece que a conversa flui, vai desenvolvendo a VIDA (porque as histórias são
isso), até que eles se vêem completamente envolvidos na actividade, com questões de grande
pertinência, normalmente coincidindo com essa fase esquisita das suas vidas,
que é a adolescência; os mais pequenos são mais genuínos, ainda mantêm intacta
a inocência e estão ali para beber as histórias e para participar nelas – e muitas
vezes é possível reconstruí-las como se fossem castelos de legos, cada um a
querer acrescentar um elemento à história, um arrebite, uma torre mais alta, um
mimo, uma palavra.
No final, os
alunos mais velhos, que muitas vezes não desvendam nada, não exteriorizam,
mostram a sua gratidão, em respeito, saindo silenciosamente da sala, talvez
ainda a pensarem nas reflexões que pairam sobre as suas cabeças, das histórias,
na circunstância do momento, que para eles é a vida ali exposta. Alguns deles
ficam para trás, para falarem comigo em particular, para me dizerem coisas que
não dirão a mais ninguém. E os pequeninos, esses, vêm abraçar-me as pernas e
pedir-me beijinhos e dizer-me que sou bonita – “muito, muito”.
Os professores
recebem-me sempre com um sorriso nos lábios, mesmo andando a nadar na máquina
burocrática em que Governos sucessivos mergulharam as escolas, preparam os
alunos para o momento e vê-se que os seus dias, a marcar compassos de espera
num país que se faz lento e adormecido, se fazem destes momentos
compensatórios. Assim marcam pontos.
São mágicos
estes encontros.
Têm a magia de
me tornarem uma pessoa mais rica e mais feliz. Eu não os trocaria por
nada.
Maio. Faz calor
de Primavera: venho do Centro Escolar de Freamunde, onde sou AUTORA DO MÊS, com
as minhas fábulas AS FAMÍLIAS DOAS ANIMAIS. Eu aprendo TANTO com os pequeninos!
Os pequeninos do
Pré-escolar: “A cadelinha estava triste, porque queria um namorado. Casaram e
tiveram filhos. Houve muito sol.”
Fiquemos, pois,
a atender os dias na primavera da vida, que se faz essencialmente da PARTILHA.
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