A primavera
carrega todo o seu esplendor no mês de Maio. No ar, paira o odor de um tempo
que se eleva forte das entranhas da terra, a repuxar o esplendor da natureza aos
seus valores mais elevados, em flores, rebentos, insectos, pólenes, – Maio
quente, Maio frio, Maio altivo.
As cerejas ao
borralho, sem dúvida, em Maio. E as palavras, que são como as cerejas, também
se tornam mais cheiinhas de sentido em Maio.
Com Maio, chegam
as feiras do livro. Com Maio, as festas
do livro e da leitura.
Cada vez mais
cidades, escolas, bibliotecas dinamizam feiras do livro. Mas como entender este
louvável fenómeno, se estudos e notícias dão conta que “Temos os níveis de leitura mais baixos da Europa a 27”? Mais: nos
seus estudos, o investigador José Soares Neves, no “Observatório das
Desigualdades”, para o Eurobarómetro, refere que “Portugal situa-se frequentemente nos últimos lugares nos estudos
internacionais sobre participação cultural”. Em grande parte, os baixos
índices são atribuídos à crise, mas não podemos esquecer as sucessivas políticas
levadas a cabo, políticas que pura e simplesmente, renunciam o bem cultural.
Tanta feira,
tanto livro, tanta biblioteca, mas tão pouca leitura, porque os que lêem são
sempre os mesmos, os que já tinham hábitos de leitura, que os ganharam de
alguma forma, ou os criaram por si sós. Difícil é criar novos hábitos, formar
novos leitores.
Temos
elevadíssimos índices de utilização de telemóveis por estudantes nas escolas e
de utilização de jogos electrónicos por crianças, jovens e adultos.
Nas escolas, os
programas de Língua Portuguesa e de Matemática, e de todas as disciplinas no
geral, têm seguido caminhos desastrosos, quando a democratização do ensino não
tinha de ser marcada pela falta de qualidade.
Também não
podemos esquecer que os preços dos livros são muito elevados, comparativamente
com outros países. Por outro lado, o entendimento português pode não olhar a
dinheiros quando toca a adquirir um “gadget”, um novo brinquedo tecnológico
que, muitas das vezes, utilizará apenas para lazer, para encher a cabeça com
jogos, futilidades, tempo oco; enquanto que, para adquirir um livro,
simplesmente, diz “é caro”, e não compra. Depois, há aquela gente engraçada que
compra livros, livros e mais livros sem nunca ter lido um. São uma espécie de
colecionadores de livros, fazem pilhas de livros em casa, ou arrumam-nos muito bem
alinhadinhos nas prateleiras, sem os lerem – eu acho que nunca vou entender
essas pessoas, mas não deixa de ser curioso.
Maio é a
inflorescência: das palavras, das cerejas, dos livros, da leitura.
A esperança
renovada no Mês de Maio, nos dias infinitamente maiores.
Valha-nos um mês
assim!
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