Há cinco dias alguns portugueses foram votar nas eleições para o
parlamento europeu. Muitos
GABRIEL VILAS BOAS DR |
fingiram que não sabiam que havia eleições, outros
não sabiam mesmo… mas não se ralaram com isso. Resultado: 66% dos portugueses
não foi votar. Na Europa, foi mais ou menos a mesma coisa, todavia, nalguns
países, os cidadãos estão preocupados porque… a extrema-direita “cresce”. Como
a extrema-direita se aproveita da democracia para a destruir, só posso concluir
que são muito poucos aqueles que querem saber da democracia.
A maioria dos portugueses diz-se cansada e farta dos partidos políticos.
Alega que está cheia de ser enganada e por isso não vota.
E os partidos aborrecidos com isso… Nem perderam um minuto com essa
justificação. No dia seguinte, a sua preocupação era saber como garantir, com
mais segurança, novas vitórias, em futuras eleições.
Para os partidos políticos, o raciocínio é muito simples: não votam
porque não querem; o mal é deles (lá nisso têm mesmo razão), porque nós
continuamos por cá, a fazer o que queremos, a tratar das nossas vidinhas e sem
paciência para aturar populações que nem votam, por isso deixaram de ter moral
para falar.
A democracia é muito mais do que os partidos políticos. E ainda que o
regime democrático esteja “armadilhado” pelos aparelhos partidários é sempre
possível furar a lógica dos grandes partidos, como o demonstrou Marinho Pinto e
o MPT que num ápice conquistaram tantos eurodeputados como o Bloco de Esquerda
e o CDS juntos e quase igualaram o mais antigo partido político português
(PCP).
O argumento de que não nos revemos nos políticos nem nas suas
propostas não colhe. Para esse caso, temos o voto em branco. Abster-se é
desistir, é não se importar com o destino coletivo do seu país e do seu povo. É
desdenhar de quem durante quarenta lutou pela democracia. Com que moral
reivindicamos, de seguida?
Achamos que está tudo mal e que a nossa intervenção não acrescentaria
nada? Pensamos que estas eleições não são importantes? Se está mal, ainda pode
piorar. Basta analisar o nível médio da qualidade dos nossos governantes para
perceber que estamos em queda acentuada de qualidade. Quanto às eleições, como
podemos dizer que não são importantes, quando acabamos há poucos dias de ser
intervencionadas pela troika e culpávamos, dia sim, dia não, Merkel e os
malvados dos países ricos do norte da Europa por nos imporem uma austeridade
desumana? De onde vêm a maioria das directrizes que a ASAE aplica?
A grande conclusão que tiro das eleições de domingo é que não quisemos
saber da democracia. E quando tu não queres saber da tua liberdade política,
alguém vai quer saber por ti. Para a condicionar, para a manipular, para a
subverter.
Um dia destes, desesperado, vais dizer que é preferível o ditador. Tu que
não sabes o que é uma ditadura e gemes com uma troika qualquer de dois
anos…. Alguém sorrirá e se disponibilizará para te fazer a vontade. Será a tua
última vontade porque a partir daí não terás direito a mais nenhuma.
Nesses dias haverá sol, jogos de futebol, e tu até ganharás um pouco
melhor, mas terás imensas saudades dos dias em que podias… votar!
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