ALINA SOUSA VAZ DR |
A Páscoa Transmontana é única no
território nacional. Por aqui, vive-se a tranquilidade dos dias nunca
esquecendo as tradições cristãs e pagãs que dão encanto a este período pascal.
E a gastronomia? Verdadeiros manjares!
Os autos da paixão, a procissão do Senhor
dos Passos, as endoenças, as vias-sacras e as queimas do Judas são alguns dos
exemplos desses ancestrais hábitos que sobreviveram até aos dias de hoje nas
várias localidades da região. Tradições que se cumprem entre o “Domingo de Ramos”
e o “Sábado de Aleluia” que se relacionam de uma forma inequívoca com a
vertente lúdica e pagã caracterizando a identidade cultural das comunidades.
Por exemplo, os autos da paixão e as
vias-sacras são expressões coletivas de fé, representadas por homens e mulheres,
que narram os últimos dias de Jesus Cristo. A dor e o luto, encenação provinda
do teatro popular, chega mesmo a atingir auges de realismo que as personagens
como Judas, Herodes, Pilatos, Fariseu, Maria Madalena, soldados romanos ou
mesmo o Diabo, parecem ter saído do Novo Testamento, terminando com o Filho de
Deus na cruz.
Os tons das paisagens carregados de roxo
e de negro, que refletem o sentimento de perda, levam a população durante a
semana santa em Trás-os-Montes a sentimentos díspares. Se por um lado a
melancolia paira no ar, por outro é época de encontros e os sorrisos alegram-se
com a chegada das visitas.
A região oferece a verdadeira Páscoa. No
concelho de Vinhais existe um ritual onde se interpreta e encena a procura e a
busca de Nosso Senhor Jesus Cristo, e todos os habitantes perguntam uns aos
outros se “alguém por aí o viu”. Em Freixo de Espada à Cinta pode-se assistir à
procissão dos "Sete Passos”, com origem na época medieval representa um
culto aos mortos que é entoado na véspera do sábado de aleluia, o dia em que
foi anunciada a ressurreição do filho de Deus. Já em Mogadouro, o Senhor dos
Passos é uma manifestação religiosa com contornos etnográficos que remonta ao
séc. XVII realizando-se de dois em dois anos.
As “queimas de judas” de Constantim e de
Montalegre são, por sua vez, manifestações festivas que marcam o fim de um
tempo de restrições e penitência que foram impostas durante o período da
quaresma. O ato é realizado na noite de sábado de aleluia, véspera do domingo
de Páscoa. O cortejo constituído por um grande aglomerado de pessoas leva várias
figuras que transportam tochas acesas pelas ruas da aldeia, culminando a
representação com a queima de Judas como vingança do povo.
Gastronomicamente a Páscoa é delícia! Os
sabores típicos dos alimentos de inverno, os fumeiros, os presuntos, os
queijos, os cogumelos, as azeitonas, acompanham o borrego ou o cabrito. Mas o
manjar fica completo se em cima da mesa existir o folar, o pão da Páscoa confecionado
à base de massa de pão
e recheado com carne de porco,
vitela, presunto,
salpicão
e linguiça.
Na sua confeção, são ainda usados ovos, banha
de porco e azeite.
Tudo produtos caseiros. Refira-se que na região, Valpaços é o concelho que se
destaca pela qualidade da produção do folar e desde 1999 que tem ambição de se
tornar na Capital do Folar em Portugal.
O pão-de-ló, as amendoas e os
ovinhos da páscoa fazem parte, também, da doçaria desta época e para cada
paladar existe uma sugestão.
Aprendamos a manter as nossas
tradições e fazer delas portas abertas para soluções. Aqui ou ali, a Páscoa é em
Trás-os-Montes! Venha, assista, prove e promova o TURISMO CÁ DENTRO.
A todos uma Santa Páscoa!
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