quarta-feira, 23 de abril de 2014

25 DE ABRIL: UMA REVOLUÇÃO COM MUSICALIDADE

ALINA SOUSA VAZ
DR
Na semana em que se comemora os 40 anos da revolução dos cravos as palavras que se seguem são apenas as minhas no meio de tantas palavras escritas em volta dos conceitos de revolução, liberdade, democracia, cravos, militares, povo, música…

Nascida no último ano dos anos 70 que posso eu dizer a não ser aquilo que aprendi nos bancos da escola e através da transmissão de experiências vividas na época? Mas aliar os livros, as histórias à música é, sem dúvida, para mim o mais próximo de tentar entender as angústias e os anseios de outrora.

Antes do Adeus, a guerra colonial, que não parecia ter fim, aliada ao declínio económico de Portugal, à repressão e censura leva a que o povo se sentisse cansado! Cansados estavam também os militares portugueses, defensores já sem convicções e forças para travar batalhas contra os guerrilheiros de Moçambique, Angola e Guiné-Bissau. Em 1973, o poeta português Ruy Guerra e o músico Chico Buarque compuseram a música FADO TROPICAL que nos transmite o verdadeiro sentimento dos militares relativamente ao momento de guerrear. A música toca e parece que nos fala ao ouvido, ficamos hirtos e o coração parece acelerar, porque nos diz: -Sabe, no fundo eu sou um sentimental. / Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo (além da sífilis, é claro). / Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar / Meu coração fecha aos olhos e sinceramente chora…

Nós, as gerações mais novas, abrangemos então (digo abrangemos, porque perceber nunca o conseguiremos na totalidade, falta-nos a vivência) o que levou os capitães a planearem nas vésperas do 25 de Abril a determinante operação. Calculada minuciosamente, os militares consideraram que seria preponderante a participação do locutor João Paulo Diniz dos Emissores Associados de Lisboa. Inicialmente hesitante, mas com medo de represálias no futuro, aceita a proposta, apenas sabendo, por um capitão da Força Aérea, que o objetivo consistia na instauração da democracia. As suas emissões radiofónicas seriam a “cereja em cima do bolo” na execução do plano e a música é o tiro certeiro com as melodias de conteúdo político de Zeca Afonso. O locutor, primeiramente, no dia 24 de Abril e para evitar suspeitas, coloca no ar um tema que passaria despercebido, mas que seria o primeiro avanço para iniciar as operações militares na madrugada de 25. Assim, ao som dos versos Partir é morrer como amar é ganhar e perder, interpretação de Paulo de Carvalho da música levada ao Eurofestival de 1974: E DEPOIS DO ADEUS, a intenção foi camuflada de ver partir um regime e ganhar uma pátria livre e democrática.

Um indício não bastara e às 00h20 do dia 25 na Rádio Renascença, Zeca Afonso jamais seria calado. GRÂNDOLA, VILA MORENA sinalizava o começo decisivo e sincrónico em todo o país do golpe de Estado. E Depois do Adeus e Grândola, Vila Morena são, assim, as músicas da liberdade do país que marcam uma viragem na história de Portugal tornando-se mesmo elementos épicos da nação.

Esta liberdade conquistada pelos militares no ano de 1974 deixa-os hoje livres de se recusarem a participar nas comemorações dos 40 anos da Revolução dos Cravos. Querem ter opinião, querem que o povo os ouça. O parlamento não os deixa! Nesse dia não estarão presentes, mas nesse dia farão ouvir novamente as músicas da revolução lutando, hoje, pela liberdade de expressão. 

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