ALINA SOUSA VAZ DR |
Na semana em que se comemora os 40
anos da revolução dos cravos as palavras que se seguem são apenas as minhas no
meio de tantas palavras escritas em volta dos conceitos de revolução,
liberdade, democracia, cravos, militares, povo, música…
Nascida no último ano dos anos 70
que posso eu dizer a não ser aquilo que aprendi nos bancos da escola e através
da transmissão de experiências vividas na época? Mas aliar os livros, as
histórias à música é, sem dúvida, para mim o mais próximo de tentar entender as
angústias e os anseios de outrora.
Antes do Adeus, a guerra colonial, que não parecia ter fim, aliada ao
declínio económico de Portugal, à repressão e censura leva a que o povo se
sentisse cansado! Cansados estavam também os militares portugueses, defensores
já sem convicções e forças para travar batalhas contra os guerrilheiros de
Moçambique, Angola e Guiné-Bissau. Em 1973, o poeta português Ruy Guerra e o
músico Chico Buarque compuseram a música FADO TROPICAL que nos transmite o
verdadeiro sentimento dos militares relativamente ao momento de guerrear. A
música toca e parece que nos fala ao ouvido, ficamos hirtos e o coração parece
acelerar, porque nos diz: -Sabe, no fundo eu sou um sentimental. / Todos nós herdamos
no sangue lusitano uma boa dose de lirismo (além da sífilis, é claro). / Mesmo
quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar / Meu
coração fecha aos olhos e sinceramente chora…
Nós, as gerações mais
novas, abrangemos então (digo abrangemos, porque perceber nunca o conseguiremos
na totalidade, falta-nos a vivência) o que levou os capitães a planearem nas
vésperas do 25 de Abril a determinante operação. Calculada minuciosamente, os
militares consideraram que seria preponderante a participação do locutor João
Paulo Diniz dos Emissores Associados de Lisboa. Inicialmente hesitante, mas com
medo de represálias no futuro, aceita a proposta, apenas sabendo, por um
capitão da Força Aérea, que o objetivo consistia na instauração da democracia.
As suas emissões radiofónicas seriam a “cereja em cima do bolo” na execução do
plano e a música é o tiro certeiro com as melodias de conteúdo político de Zeca
Afonso. O locutor,
primeiramente, no dia 24 de Abril e para evitar suspeitas, coloca no ar um tema
que passaria despercebido, mas que seria o primeiro avanço para iniciar as
operações militares na madrugada de 25. Assim, ao som dos versos Partir é
morrer como amar é ganhar e perder, interpretação de Paulo de Carvalho da
música levada ao Eurofestival de 1974: E DEPOIS DO ADEUS, a intenção foi
camuflada de ver partir um regime e ganhar uma pátria livre e democrática.
Um indício não bastara e às 00h20 do dia 25 na Rádio
Renascença, Zeca Afonso jamais seria calado. GRÂNDOLA, VILA MORENA sinalizava o
começo decisivo e sincrónico em todo o país do golpe de Estado. E Depois do
Adeus e Grândola, Vila Morena são, assim, as músicas da liberdade do
país que marcam uma viragem na história de Portugal tornando-se mesmo elementos
épicos da nação.
Esta liberdade conquistada pelos militares no ano de
1974 deixa-os hoje livres de se recusarem a participar nas comemorações dos 40
anos da Revolução dos Cravos. Querem ter opinião, querem que o povo os ouça. O
parlamento não os deixa! Nesse dia não estarão presentes, mas nesse dia farão
ouvir novamente as músicas da revolução lutando, hoje, pela liberdade de
expressão.
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