GABRIEL VILAS BOAS DR |
O 25 de abril faz quarenta anos. Quarenta anos de democracia e liberdade tornaram o nosso país muito diferente e muito melhor. Afirmá-lo num tempo em que Portugal vive a sua maior crise económica, financeira, de confiança e de identidade, pode parecer uma ousadia, mas não é.
Portugal não ganhou apenas liberdade de expressão e democracia política. Cresceu, também, muitíssimo a nível da educação, em todos os níveis: pré-escolar, ensino básico, secundário e universitário; melhorou brutalmente na prestação de cuidados de saúde, havendo hoje o triplo dos médicos e dos enfermeiros que existiam há quatro décadas. A esperança média de vida aumentou significativamente e isso ficou a dever-se à melhoria da assistência médica. A proteção social passou da quase inexistência a algo que garante um mínimo de dignidade aos nossos velhos.
No entanto, sentimos, hoje, uma frustração de falhados. Sentimos que ficámos aquém do que podíamos e devíamos. E é verdade! A economia do país não desenvolveu conforme as oportunidades que teve na última década do século XX. A justiça paralisou e ajoelhou perante a burocracia e a corrupção e para completar o ramalhete da deceção coletiva: as qualificações de muitos portugueses são deficientes e ineficazes.
Ficámos a meio da viagem. Muitos pensam que esta estagnação é definitiva, eu penso que não.
Temos apenas que capacitar-nos que fizemos meio caminho e que há outro meio para fazer. Este caminho tem de ser feito pela geração do 25 de Abril, pelos homens e mulheres que agora têm quarenta anos.
Durante quarenta anos, aqueles que conquistaram o 25 de Abril acusaram os jovens de não sentirem nem valorizarem as conquistas de abril. Não valorizavam nem podiam valorizar, pois não foram conquistas suas. Poucos são aqueles que entendem, valorizam e agradecem aquilo que lhes chega de mão beijada. Acham-no seu por direito natural. Não há que ficar ofendido com isso. É o que é!
Esta geração, que tem hoje trinta/quarenta anos, tem de ter a sua “conquista”, fazer a sua revolução, ganhar o seu desafio. E o desafio desta geração não pode ser outro senão fazer a segunda parte do caminho.
Modernizar sustentadamente o país; tornar a justiça ágil e independente; criar uma mentalidade de trabalho, de inovação, de competição salutar; aceitar e promover uma educação exigente, útil e eficiente.
Contudo, é necessário fazer tudo isto sem destruir nenhuma das grandes conquistas da primeira parte do caminho: liberdade de expressão e escolha; educação e saúde para todos. Isto que dizer que temos de ir todos juntos. É mais difícil, mas é a única maneira de sermos um povo que luta por se cumprir.
Há quase um século, Fernando Pessoa dizia “Falta cumprir-se Portugal”, eu acrescento: à geração de abril falta cumprir-se. E Portugal é uma grande oportunidade, a melhor de todas, porque é a nossa vida, porque é o nosso amor.
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