ALINA SOUSA VAZ DR |
Os dias passam e o tempo é fugaz! Mas a memória não nos abandona a alma e surge como muleta
de apoio na capacidade de recordação do todo. A memória será uma regeneração do
passado nos momentos do presente e a identidade de um povo surge,
baseada então nas lutas e conquistas dos nossos semelhantes.
Desta forma, falar do 1º de Maio, mais
que uma data simbólica de homenagem, é marca de lutas e derrame de sangue. O
respeito e a vénia, ainda que de forma inconsciente, deve acompanhar as nossas
reflexões e de forma persistente continuar o legado que outros nos deixaram. É
nossa obrigação!
Numa época em que “meio mundo” está
desempregado, na sua maioria jovens, o dia comemorativo passa como mais um no
meio de tantos dias de anseios e angústias. Contudo, abordar o que levou à
comemoração do 1º de Maio, talvez seja pertinente. Porquê? Talvez nos sirva de
inspiração para caminhar em frente sem mágoas e rancores daquilo que nos
prometeram e não cumpriram. Continuemos a luta que estes homens iniciaram.
- Que lutas?! - Perguntas TU.
Lutas em busca de melhorias e direitos
laborais. No dia 1º de maio de 1886, em Chicago, milhares de trabalhadores
foram às ruas protestar contra as condições de trabalho a que eram submetidos
na época e no mesmo dia, uma greve geral paralisou os Estados Unidos. Três dias
depois, os trabalhadores foram reprimidos pela polícia e de forma violenta o
caos instalou-se levando à morte vários manifestantes. Em 1891, realizava-se em
França o Congresso Operário Internacional que convocaria uma manifestação
anual, em homenagem às lutas sindicais de Chicago.
No dia 23 de abril de 1919, o Senado
francês ratificou as 8 horas de trabalho e proclamou o dia 1º de Maio como
feriado, seguindo-lhe, os mesmos passos, a Rússia.
São os factos históricos que transformaram o 1º de Maio no Dia do Trabalhador.
Em Portugal, os trabalhadores assinalaram o 1.º de Maio logo em 1890, o primeiro ano da sua realização internacional. Mas, as ações do Dia do Trabalhador limitavam-se inicialmente a alguns piqueniques de confraternização, com discursos pelo meio em homenagem aos operários e ativistas caídos na luta pelos seus direitos laborais.
O
1º de maio alcançou ações de massas que se preconizaram desde o final da
Monarquia, até ao longo da I República. Em 1919 foi conquistada a lei que
reconheceria a alteração da jornada, as horas de trabalho passariam das 14 para
as 8horas.
As
greves e as manifestações realizadas em 1962 são, provavelmente, as mais significativas
e carregadas de simbolismo, pois durante o Estado Novo as proibições e as
repressões eram uma realidade. Porém a força imprimiu-se nas manifestações da
capital bem como em todo o país: 100 000 em Lisboa, no Porto cerca de 20 000 e
em Setúbal 5000.Trabalhadores como pescadores, corticeiros, telefonistas,
bancários, trabalhadores da Carris e agricultores do Alentejo são ainda hoje símbolos
de um marco indestrutível na história do operariado português.
Todas
as conquistas percorrem um longo caminho. Em Portugal o 1.º de Maio com maior
destaque no país foi aquele que aconteceu oito dias depois do 25 de Abril de
1974 e desde então o Dia do Trabalhador é o momento de reforçarmos a nossa
consciência social e continuarmos a defender aquilo que estes homens deixaram.