Gabriel Vilas Boas DR |
Há vinte anos conheci, em Coimbra, uma amiga, a Sofia Saraiva, que, entre muitas outras virtudes tinha uma que muito aprecio: a PONTUALIDADE. Tinha e continua a ter, o que me faz aumentar a admiração por ela.
Sempre gostei de pessoas pontuais! Com o passar dos anos verifiquei que esta qualidade se tornou tão rara que quase me é impossível citar outro exemplo. Durante os anos em que convivi com a Sofia, em Coimbra, nunca a vi chegar atrasada a uma aula, a um almoço, a um encontro de amigos, a um simples café. Fazia-o com uma simplicidade, uma leveza e uma facilidade que a todos cativava. Não chegava atrasada nem adiantada, chegava a horas. E quando chegava jamais parecia que tinha feito qualquer esforço para ter sido pontual. Nunca havia nada um lamento por não ter tido tempo para terminar qualquer tarefa porque não havia nada que tivesse ficado por fazer.
Depois de termos terminado os respetivos cursos, continuámos a encontrar-nos, ainda que com muito menos frequência. Não me lembro de alguma vez a ter visto chegar atrasada… ou adiantada. Também tenho dificuldade em recordar-me de muitas pessoas que sejam assim, mas gostava… e, asseguro-vos, o problema não é da minha memória.
Para mim, a pontualidade é uma forma de mostrar respeito e consideração para com o próximo. É um traço distintivo da educação de cada um. Lamentável é chegarmos apenas a esta conclusão quando somos o alvo da falta de pontualidade.
Quase toda a gente usa relógios. Alguns deles muito sofisticados, outros muito bonitos, outros ainda valiosíssimos. Não consigo descortinar a sua utilidade para aqueles para quem o conceito de pontualidade não existe. E é uma pena que tanto valor, tanta beleza e requinte não consigam transitar do objeto para o dono.
A falta de pontualidade é uma doença civilizacional que atinge a nossa vida profissional, social e a afetiva. Como somos muito parvos, só nos preocupamos com a medicação no primeiro caso.
A falta de pontualidade profissional tira o respeito, a confiança e a credibilidade, afetando contratos, assim como a carreira, e ocasionando, nos casos mais graves, perdas e danos morais e financeiros tanto para o profissional quanto para a própria Instituição. A pontualidade é o caminho para o sucesso e progresso profissional.
A nível social, as consequências da falta de pontualidade não são menos sérias, mas as pessoas são mais desleixadas. A falta de pontualidade faz-nos perder a consideração dos outros e retira-nos oportunidade de viver momentos de descontração e lazer.
Na vida afetiva, a falta de pontualidade tem consequências gravíssimas. Ela cansa, desgasta, chateia, aborrece, magoa e pode distanciar as pessoas. Com facilidade, o outro vai concluir que não é uma prioridade para si porque você comete a indelicadeza de não ser pontual.
Todo e qualquer atraso gera desconforto e irrita quem espera, principalmente quando ocorrido com frequência. O atrasado é por natureza uma pessoa desagradável e inconveniente.
Mas este é um problema de fácil resolução. A pontualidade pode ser obtida com controlo, autodisciplina e algumas precauções contra possíveis incidentes com o transporte, o trânsito, o mau tempo etc. É ideal sair de casa sempre com algum tempo de antecedência para, assim, evitar imprevistos.
Millôr Fernandes dizia que “pontual é alguém que resolveu esperar muito”. Millôr sempre foi um realista com imensa graça nas suas sentenças sociais, mas eu prefiro, claramente, o provérbio inglês que diz “a pontualidade é a cortesia dos reis e a obrigação dos educados”.
Para mim, ser pontual é, hoje, uma questão de classe!