Gabriel Vilas Boas DR |
Recentemente, um estudo da consultora Mackenzie para a Comissão Europeia concluiu que 38% dos jovens portugueses gostava de continuar a estudar, mas não tem possibilidade de pagar os seus estudos. Também há pouco tempo, o Ministério da Educação revelou os seus planos de investimento para 2014. O documento do Ministro Crato refere que o Ministério prevê gastar 149 milhões de euros em contratos de associação a estabelecer com escolas privadas e ainda 19 milhões de euros para apoiar as famílias que desejem colocar os seus filhos em escolas particulares.
E quanto projeta gastar o governo de Portugal como a ação social escolar? 200 milhões de euros (90 milhões para alimentação). Ou seja, quase tanto quanto pretende gastar com as caixas registadoras dos colégios privados e com os meninos que vão de Mercedes ou BMW para os colégios, onde os papás gastam mais de seis mil euros por ano, só em propinas.
Resta dizer que há uma imensa maioria (aqueles que nem são muitos pobres nem muito ricos) a quem o Estado não projeta ajudar de maneira nenhuma. O que não quer dizer que não tenha projetos para eles. Todos os anos planeia retirar-lhes uns milhares de professores e juntá-los em turmas cada vez maiores onde o que se pode aprender é inversamente proporcional ao número dos docentes que saem.
Destes números tirar conclusões é simples. O governo português não tem falta de dinheiro para investir na educação dos jovens que realmente precisam do seu apoio, pois tem 180 milhões de euros para dar a quem faz da educação um negócio lucrativo e privilegia o elitismo no ensino.
O que o governo português não está é disponível para permitir que o filho dum carpinteiro, dum polícia, dum empregado fabril ou dum administrativo duma câmara municipal tenha alguma possibilidade de ser médico, engenheiro ou farmacêutico. Que ousadia, a do moço! Obviamente a sua vocação é de pobre coitado.
Crato anda admirado com tal número – 38% dos jovens portugueses não prosseguem os estudos porque não têm dinheiro para tal. Pergunta o Ministro: “Como é possível?” e logo decreta, com ar grave e sério: “Já mandei fazer um estudo para analisar a situação!”
A explicação deu-a o pai do Pedro, que sonhava entrar em Engenharia: “Filho, a tua mãe está desempregada há dois anos e eu ganho 700 euros. Pagamos 250 euros de renda, 50 euros de gás, água e luz. Temos 10 euros por dia para nos alimentarmos aos três e 100 euros para vestuário e calçado para a família. Como te posso pagar um quarto no Porto ou em Lisboa ou em Coimbra? Como te posso pagar alimentação fora de casa? Como te posso pagar as propinas? Como te posso pagar os transportes? Como te posso custear os livros de que necessitas?”
O gabinete de Crato mandou fazer um estudo para concluir que não pode fazer nada! Mas diz que “têm sido adotadas medidas para combater as dificuldades”. E têm! 150 milhões de euros em contratos de associação para os pobrezinhos dos colégios privados e mais 20 milhões para as famílias carenciadas que têm de pagar propinas de 600/700 euros mensais para o filho poder concluir o ensino secundário num ambiente estimulante.
As opções são claras: há dinheiro para apoiar quem gasta 700 euros em propinas em qualquer GPS de Coimbra e arredores, mas não há dinheiro para apoiar o pai do Pedro que tem 700 para sustentar a sua família e 70 cêntimos para patrocinar a entrada do filho na faculdade.
Não tenham dúvidas, o futuro da nação está salvaguardado e são estes garimpeiros… ups, quer dizer, empreendedores, que nos trarão um futuro próspero. Continuemos todos sentados no sofá da nossa inércia porque a segunda parte do filme “Classe média à beira de um ataque de nervos” ainda vai ser mais interessante…
Crato tem uma agenda clara - desvalorizar, desmantelar, privatizar! Só não vê quem não quer!
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