GABRIEL VILAS BOAS DR |
Espanha tem um novo rei. Filipe VI sucede ao pai, Juan Carlos, que abdicou após quatro décadas de reinado. Chega ao trono espanhol com 46 anos o príncipe que casou com uma plebeia e cujos súbditos estão desencantados com a sua monarquia.
Todos os reinados têm os seus desafios, até porque, como diria Ortega y Gasset, o “Homem é ele próprio e as suas circunstâncias”. No entanto, há desafios intemporais e universais que todos os Homens têm de enfrentar qualquer que seja a sua circunstância.
O grande desafio de Filipe VI é tornar a figura do Rei pedra angular do seu povo. Certamente, Filipe VI sabe perfeitamente qual o papel institucional que lhe cabe, conhece as regras protocolares e as leis do seu país, compreende os anseios do seu povo. A questão que se coloca é outra: que tipo de monarca quer Filipe ser?, ou seja, que grau de comprometimento quer ter com o seu povo e com o seu cargo.
O povo espanhol sabe bem que tipo de Rei quer. Quer um rei que ame o seu povo, que o entenda, que o saiba unir sem o constranger, que saiba dizer que sim e, sobretudo, dizer que não, dum modo decisivo e coerente. Quer um rei que seja admirado não apenas por ter uma mulher bela e elegante, mas por tornar um povo orgulhoso das decisões do seu rei.
O povo ama o seu rei e gosta da monarquia. Aceita bem a ideia dum escolhido que vista o papel de herói e o represente com o glamour que só uma casa real pode emprestar. Todavia, um povo do século XXI exige muito mais ao seu Rei. Não baste a Filipe dizer que quer a unidade do país mantendo a diversidade das regiões autonómicas. É necessário construir essa unidade. E essa unidade conquista-se com um grande rei e um reinado exemplar, arguto, próximo das pessoas, paciente e ativo.
Os grandes reis e os grandes reinados não são um concurso de beleza, um roteiro de visitas ao estrangeiro ou uma cuidadosa gestão de posições políticas que foge dos problemas sem nunca os resolver. É verdade que essa é a marca dos tempos modernos, mas também a razão que afasta reis e rainhas do coração do seu povo.
Ganhar o respeito, a admiração, o carinho e o amor do povo espanhol é uma tarefa árdua que Filipe e Letizia têm pela frente. E desafios não faltam. Desde logo o referendo separatista na Catalunha, a eterna questão basca ou as desigualdades económicas vividas pelas regiões mais pobres como é o caso da Galiza. Poder-se-á dizer que o Rei não detém o poder legislativo nem tem um ascendente psicológico decisivo sobre o povo. Pois precisam de o conquistar.
Filipe VI e Letizia Ortiz têm de escrever a sua própria história. Da determinação e sagacidade com que o fizerem dependem um bocadinho a História próxima de Espanha e o futuro da própria monarquia na Europa.
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