O campeonato do mundo de futebol decorre no Brasil há duas semanas. Durante quinze dias, todas as
GABRIEL VILAS BOAS DR |
Portugal também participou nesta prova maior do futebol mundial. Havia legítimas expectativas de que a seleção portuguesa conseguisse ser apurada para a fase seguinte. No entanto, a equipa de Ronaldo, Moutinho e Nani ficou em terceiro lugar e foi eliminada pelas seleções da Alemanha e dos EUA.
Antes do início da prova houve, na população portuguesa algum otimismo em excesso que rapidamente se transformou em unânime desânimo após a humilhante derrota perante os jogadores germânicos, no primeiro jogo. A descrença instalou-se, então, em todas as conversas sobre o campeonato do mundo.
Quase todos se acharam no direito de opinar doutamente sobre táticas, lesões, convocatórias de jogadores, locais de estágio e atitude dos jogadores, em campo e fora dele. Todos tinham alertado para o descalabro, apesar de umas semanas antes só haver registo de euforias sem razão.
As palavras dos jogadores, ex-heróis caídos em desgraça, já não interessavam nada. Havia que descarregar a frustração como se a seleção tudo nos devesse. A verdade é que não deve! Pode alegrar, entristecer, iludir ou desiludir, mas não nos deve nada! O dinheiro que os jogadores ganham, mesmo aquele que a seleção lhes paga, não nos sai do bolso. É dinheiro que os seus clubes lhes pagam ou que a FIFA paga à Federação em resultado das conquistas desportivas desta seleção no passado. É um assunto pequenino e lateral, todavia importa esclarecê-lo de vez.
É verdade que a seleção portuguesa ficou aquém do possível, mas não desiludiu pelo não apuramento. Espanha, Itália, Rússia, Inglaterra (campeões mundiais e europeus) também foram eliminadas de modo tão ou mais ultrajante.
A desilusão que a equipa de Paulo Bento criou foi de outra ordem. Portugal foi justamente eliminado. Não jogou bem e não mereceu vencer! A desilusão reside no facto de pensar que os nossos jogadores não fizeram tudo o que estava ao seu alcance para vencer, apesar de todos os contratempos porque passaram.
O empenho, o esforço físico e mental, a capacidade de sofrimento, a vontade de superação foram apenas medianas. Ora, representar Portugal exige o máximo de cada um em todos os momentos. Nisso não transijo. Foi nisso que Ronaldo, Nani, Moutinho e colegas falharam e não podiam ter falhado.
No final, é fácil culpar Paulo Bento porque levou para o Mundial jogadores sem ritmo de jogo, atletas saídos de lesões, impreparados ou em baixo de forma, que se lesionaram às primeiras correrias. Detesto hipocrisia e por isso não critico Paulo Bento, embora constate que esteve mal.
Não temos moral para o criticar por duas grandes razões: nada se disse antes do mundial começar e, no essencial, faríamos o mesmo que ele. Convocaríamos 90% dos jogadores que ele chamou, porque, apesar de terem feito uma má época desportiva ou terem ficado muito tempo magoados, eram os melhores jogadores portugueses disponíveis. Não havia alternativas credíveis a estes. Todos nós sabemos isto muito bem. Como também sabemos que a maioria de nós teria levado ao Brasil os craques mesmo que houvesse outros a jogar melhor (que não havia), mas menos mediáticos.
Na hora de decidir sempre preferimos jogar pelo seguro e manter aqueles que passamos a vida a criticar. Não é assim na política ou nos negócios?
A seleção falhou mas não com estrondo. O futebol continua a ser apenas um jogo. Umas vezes enche-nos de alegrias outras de tristezas, mas jamais pode servir para descarregar frustrações acumuladas com origens noutros setores da vida. Só assim conseguiremos perceber alguma da beleza deste desporto maravilhoso.