GABRIEL VILAS BOAS DR |
«Que
falem bem, que falem mal, mas que falem!» - quantas vezes já não ouvimos isto?
Ser esquecido é que não! Tornar-se irrelevante é que se torna insuportável!
Talvez
os políticos portugueses não tenham percebido muito bem para onde caminham, mas
a irrelevância social e afetiva tornou-se o seu destino. Tal como o velho
ditador cubano cuja existência já ninguém recorda apesar de continuar vivo ou o
líder madeirense cuja vida pública expirou, a política morreu no coração dos
cidadãos e demorará largos anos até que ressuscite. E nada atinge mais o ego
dum político de que a noção clara da sua insignificância social. Hoje ninguém
quer saber dos debates sobre o estado da nação feitos na assembleia da
república, ninguém se apoquenta com as guerrinhas dentro do PS nem se
entusiasma com os anúncios de reformas virtuais que normalmente vêm “reformar”
as anteriores que falharam ou nem se implementaram. Há um encolher de ombros
sardónico da população portuguesa que a classe dirigente bem fez por merecer.
No
entanto, este “deixa andar”, este “já nem me interessa” serve para quase tudo.
De vez em quando há uma indignação pífia que dura 48 horas e que é mais
facebookiana e televisiva que real porque a seleção foi eliminada ou Cavaco
desmaiou.
Infelizmente
é também a atitude que adotamos sobre coisas importantes. Um ministro da
Administração Interna teme que os seus bombeiros não tenham atempadamente os
equipamentos necessários para combater os fogos e ninguém lhe pergunta
indignadamente o que andou ele a fazer durante os últimos nove meses, já que é
o responsável pela área; o banco privado português mais relevante do país têm
um buraco de 7 mil milhões de euros e o Banco de Portugal obriga o seu líder a
sair e ninguém pergunta ou exige que o ministério público investigue e leve a
tribunal os responsáveis por tal buraco. Depois do BCP, do BPN, agora chegou a
vez do BES provar como os privados gerem tão bem e tão honestamente o dinheiro
que lhes confiámos. Como criam eles riqueza, emprego e felicidade!
Todavia,
o pior de tudo, durante esta semana, foi a não reação aos números do desemprego
em Portugal. No final de junho ficámos a saber que continuamos a ter cerca de
800 mil desempregados. Destes mais de metade não recebe subsídio de desemprego,
isto é, não tem qualquer proteção social. Paralelamente, o governo ufana-se de
ter deixado de pagar o RSI a 45 mil pessoas no último ano. Só não diz o que
aconteceu a essas pessoas, como não revela como vivem os 400 mil desempregados
que não conseguem trabalho e não recebem subsídio. Isso não lhes interessa
verdadeiramente. Sempre abominaram que o Estado tivesse qualquer compromisso de
solidariedade mínima com os seus cidadãos. Não podendo destruir o bom que havia
na criação do rendimento mínimo, mudaram-lhe o nome e fizeram crer que a fraude
era o nome do meio desse subsídio de subsistência. Perseguiram os faltosos como
criminosos de guerra, enquanto nos pediram compreensão com os crimes económicos
nos BES, BPN e BCP desta vida. Infelizmente sempre houve e haverá fraudes no
RSI como há nos bancos, nas empresas, nas instituições públicas. Temos de as
combater, punir e seguir em frente e não aproveitar situações pontuais para
impor iníquas agendas ideológicas.
E
perante tudo isto, o que fazemos? Pois, temos pena, muita pena, mas, se o mal
não nos bate à porta, logo mudamos de canal ou regressamos ao facebook; caso o
problema seja connosco, preparamo-nos para descer mais um pouco o nosso nível
de vida, sem darmos um bocadinho de luta, até ao próximo corte que acontecerá
porque… sim.
Isto
não tem de ser assim. É possível fazer mais e melhor, na governação do país, na
atitude social, no estilo de vida que temos ou que deixamos que os outros nos
imponham.
Já que
não agimos quando devíamos, é necessário reagir. Não aceitar este estado de
coisas. Exigir mais de quem nos governa e não apenas do Paulo Bento e do
Cristiano Ronaldo. Exigir mais da nossa ambição. Se não o fizermos, estamos a
caminho do país da irrelevância social e pessoal. E nesse lugar não há likes
nem smiles e muito menos resgates.
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