MÓNICA AUGUSTO |
Continuo a pertencer aqui, aqui a esta aldeia que me viu crescer, que me viu partir e que me recebeu de volta, para aqui voltei, depois de alguns anos afastada, continuo a pertencer aqui.
Cresci na aldeia, numa muito pequena aldeia que atualmente conta com cerca de 80 habitantes, nos meus tempos de criança eram mais, mesmo assim, pouco mais. Cresci ao lado de miúdos da minha idade, a corrermos e fazermos asneiras incessantemente, miúdos que também cresceram e que hoje são meus amigos. Companheiros de brincadeiras, amigos de todas as horas, juntos fazíamos tropelias inimagináveis, não aquela coisita de tocar às campainhas e fugir, até porque não havia campainhas...verdadeiras aventuras pelos campos ao ar livre, sem medos. Verdadeiras aventuras: não responder às chamadas das mães para o jantar, fingir que não ouvíamos para prolongar a brincadeira no largo principal onde nos reuníamos, completamente livres, sem outros medos que não a chamada para o jantar. Percorrer a aldeia em busca dos melhores esconderijos para o respetivo jogo, em locais tão afastados que, não raras vezes, eram impossíveis de encontrar, correndo o risco de se ficar escondido até a noite cair, até os restantes desistirem da busca... Tantas recordações ficaram de uma infância e adolescência sem redes sociais, mas cheias de vida.
O tempo passou, tivemos que deixar a aldeia, todos nós partimos em busca dos nossos caminhos, muitos rumaram ao estrangeiro, outros às grandes cidades, para estudar, para trabalhar... rumei à grande cidade, que também me deixou grandes recordações, onde fui igualmente feliz, onde a minha vida conheceu uma outra direção. Depois da grande cidade, por imperativos profissionais, conheci diferentes locais pelo país, aí organizei temporariamente a minha vida e acabei por me integrar nas comunidades que tão bem me acolheram, mas o desejo de voltar esteve sempre presente. E voltei, vários anos depois, voltei e foi como se nunca daqui tivesse saído, estava em casa novamente, todos os habitantes me conhecem e eu conheço-os a todos. Todos nos cumprimentamos não com o breve cumprimento por educação, mas perguntamos pelos familiares que estão longe, pela saúde, pelas colheitas. Depois de alguns anos longe, esta dinâmica volta a ser familiar e reconfortante, reencontramos as pessoas que nos viram crescer, reencontramos os amigos com quem crescemos, sentimos que fazemos parte da comunidade, pequena é certo, mas cheia de vida.
Somos cada vez menos. Tantos se mantém longe, sobretudo no estrangeiro, mas aqui construíram as suas casas, e guardam em si o desejo de voltar. Enquanto o desejo se mantiver a aldeia não esmorece. Os que cá ficaram, os que voltaram, vão mantendo viva a dinâmica da aldeia para receber os tantos que querem voltar.
Muito bom, identifico_me com cada palavra tua..a nossa aldeia é sempre o nosso cantinho :)
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