sábado, 14 de outubro de 2017

OS JUDEUS DE FRANÇA DITOS PORTUGUESES

MANUEL DO NASCIMENTO
O século XV foi um episódio negro da história de Portugal. O rei D. Manuel I assinou em Muge(1) , a 5 de dezembro de 1496, uma carta patente em que mandou que todos os judeus saíssem de Portugal até 31 de outubro de 1497. Ao mesmo tempo, o rei colocou-os sob a sua proteção para que ficassem, seguros e honrados. Depois começou por se limitar os barcos em que podiam partir, porque de três portos, funcionou apenas um, o de Lisboa. Hoje, passa-se não haver dúvida, que o rei D. Manuel I não pretendia a saída da totalidade dos judeus de Portugal. Para reforçar a conversão dos judeus em cristãos, tiram-lhes os filhos, que foram batizados à força, seguindo-se o batismo forçado dos adultos. Tentava-se, por tudo, a conversão, em vez da saída de Portugal. Uma minoria optou pela saída do reino ao longo dos séculos XVI e XVII. Boa parte da história dos judeus portugueses, é uma diáspora hispano-portuguesa, porque incluía os que tinham vindo expulsos de Espanha para Portugal, em 1492. A partir de 1550, a limpeza de sangue tornou-se um requisito para várias coisas. Esta diferença entre cristãos-novos e cristãos-velhos só acabou em 1773. Os judeus portugueses de Baiona (França) eram muito ativos no comércio internacional. No final do século XVIII a comunidade de judeus portugueses de Baiona torna-se numa pequena metrópole, sendo assim, durante a primeira metade do século XVIII, a população que mais depressa aumenta na cidade de Saint-Esprit (França). A prosperidade económica de Baiona é a partir de 1615, com a indústria do chocolate por os judeus portugueses, da Costa ou Dacosta. En 1670, o nome chocolate (chocolat) aparece pela primeira vez nos arquivos desta cidade francesa.

Judeus da nação portuguesa em França; Pierre Mendès France (1907-1982), foi um político francês, sendo Presidente do Conselho francês (1954-1955). Era descendente de uma família Judaico-Portuguesa (Mendes de França) que se viu obrigada a sair de Portugal depois do Massacre de Lisboa de 1506(2). Entre os judeus portugueses franceses, houve pessoas ilustradas, como o financeiro Jules Mirès, o escritor Georges de Porto-Riche, o pintor Camille Pissarro, a escritora Eugénie Foa, os irmãos Pereire, os poetas Bernard Delvaille, Catulle Alvarès, os condes de Camondo, o pedagogista David Lévi Alvarès o mecenas Daniel Iffla Osiris, o ideólogo Olinde Rodrigues, o médico Jean-Baptiste Silva, Jacob Rodrigues Pereire (educador de surdos em França, onde desenvolveu o seu trabalho com os surdos, modificando o alfabeto manual de Bonet, fazendo corresponder a cada gesto, um som. A Língua Gestual, era a melhor forma de comunicação entre os surdos).

Os refugiados de França, da Segunda Guerra mundial; Dezenas de milhares de refugiados judeus passaram por Portugal durante a Segunda Guerra, e entre 1940 e 1941 houve um pico dramático. Mau grado. A ditadura de Salazar, castigou o cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa Mendes, por ter dado milhares de vistos a judeus. Lisboa foi um porto de abrigo, de liberdade e a despedida da Europa. A França sofreu durante a ocupação alemã na Segunda Guerra mundial, e muitos foram mortos, judeus e não-judeus. A França levou décadas para aceitar o fato de que alguns dos seus cidadãos colaboraram com a ocupação Alemã. Por muitos anos, este tema em França era um completo tabu.

----------------------------------------------------

(1) Freguesia portuguesa do concelho de Salvaterra de Magos.

(2) Também conhecido como Pogrom de Lisboa ou Matança da Páscoa de 1506, onde uma multidão perseguiu e matou centenas de judeus, acusados de serem a causa de uma seca, fome e peste que assolavam o país. Isto aconteceu no início da Inquisição em Portugal e nove anos depois da conversão forçada dos judeus em Portugal em 1497.

Sem comentários:

Enviar um comentário