terça-feira, 25 de abril de 2017

LIBERTEM-ME

ANA SILVA
Já alguma vez se sentiram ameaçados, seja por uma pessoa, um animal ou uma situação de perigo, sem hipótese de fuga? Se não sentiram ainda bem, mas ponham-se no lugar de quem já o sentiu! Imaginam a ansiedade, o pavor e a agonia de quererem fugir e não conseguirem? Como reagiriam perante um cenário destes? Quando o perigo se aproximasse encolheriam-se em si mesmos como se a vontade fosse virar do avesso, fechavam os olhos e esperavam que tudo acabasse bem, ou que pelo menos não sofressem muito? Ou lutavam com unhas e dentes contra o agressor ou a agressão a que estavam a ser sujeitos? Uns lutariam de certeza, outros não mexeriam um músculo… Reconhecem algum destes tipos de comportamento num animal acorrentado? Eu reconheço… Dependendo das suas características e da maneira como foi educado e ensinado a experienciar as diferentes situações, o animal ou se encolhe como se quisesse desaparecer, ou ladra e morde quem se aproximar! Em casos menos comuns abana o rabinho e brinca por não reconhecer uma ameaça, por nunca ter passado por uma situação de perigo ou então por ser demasiado novo para ver maldade nas situações.

Os cães são animais de matilha, animais sociais. Brincam juntos, dormem juntos, interagem! Acorrenta-los é o pior castigo do mundo! Acorrenta-los, sem espaço para exercitarem, com correntes pesadas, sem abrigo contra a chuva e contra o frio e sem acesso a água limpa e comida, são só algumas formas de aumentar a barbaridade de uma situação que por si só já é cruel o suficiente!

Em Amarante, principalmente na periferia, mas também no centro da cidade, está enraizada uma cultura de que se o cão come e bebe está bem! Se o cão está gordinho pode ter carraças do tamanho de uvas e uma corrente que o faz chegar quase com o focinho ao chão do peso! Há falta de sensibilização para o bem-estar do animal, há falta de quem imponha as leis e as faça cumprir, há falta de quem obrigue a vacinação, obrigue a colocação do chip e obrigue a que sejam cumpridas as condições mínimas de conforto e felicidade dos animais! Há falta de quem aplique as coimas! (Quem sabe com a receita a reverter para as Associações que zelam pelo bem-estar dos animais!)

 Caso real da Associação Ajuda Animais em Amarante
Ajudar a libertar um animal é um exercício de cidadania! Ou melhor, já nem falo em libertar, mas ajudar a que um vizinho melhore as condições do seu animal já é um passo enorme! Para isso é necessário intervir junto da comunidade. Uma comunidade informada e sensibilizada não permite que o vizinho mantenha o animal em condições indevidas. É necessário também sensibilizar o dono do animal, mas passo a passo, devagar e sem confronto! Às vezes basta um “Olhe para o bichinho, você não acha que ele precisava de uma corrente mais leve e de um bocadinho mais de espaço? Eu sei que gosta do seu animal, por isso coloque um cabo de aço que é mais leve e dê-lhe mais espaço para se mexer melhor!” Façam o teste, conversem com as pessoas para tentar mudar as mentalidades de quem já viu o seu avô, o seu pai e o seu vizinho, a acorrentar o cãozinho lá de casa. Não é fácil, mas uma pequena melhoria que surja de uma conversa informal é uma mudança enorme na vida de um animal acorrentado!

Manter um animal acorrentado é sentencia-lo a existir apenas! Está ali, respira, come, bebe, senta e deita. Só existe, não vive!


Celebra-se hoje o 25 de Abril! Em 1974 lutaram por nós para que eu possa estar hoje a escrever esta crónica sem temer! Lutaram, revoltaram-se e venceram porque podiam! Porque tinham voz! Os animais não têm voz e somos nós que temos de falar por eles, lutar pela liberdade deles e garantir que tenham uma vida plena de amor e conforto, em vez de uma simples existência…


Basta olhar nos olhos de um cão acorrentado para saber que se pudessem gritar, gritariam:
LIBERTA-ME!

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