segunda-feira, 6 de março de 2017

O CARNAVAL NA GUINÉ BISSAU

CRÓNICA DE
JOANA BENZINHO
O Carnaval marca as tradições de vários países e a Guiné-Bissau tem nesta festa pagã uma das suas maiores manifestações culturais.

Os dias de Carnaval param o país e, muito particularmente, paralisam a cidade de Bissau que se rende completamente aos desfiles e às barraquinhas que inundam a cidade e bairros circundantes ao centro nevrálgico de Bissau.

Os festejos começam bem cedo no sábado com o desfile das crianças que metem as escolas e jardins infantis da regiao de Bissau a ensaiar com as crianças semanas e semanas até fevereiro. A segunda feira de Carnaval é o expoente máximo destas festividades com o desfile nacional. Neste dia, Bissau e as restantes oito regiões do país trazem até nós os seus melhores trajes tradicionais, os melhores músicos, as melhores danças que entram num concurso que culmina na entrega de um prémio monetário ao melhor grupo.

Antes disso, cada região celebra o seu carnaval no sábado e elege o grupo que os representará no desfile nacional.

É um espectáculo etnográfico único. 

Grupos de mulheres e de homens apresentam as danças as típicas das várias etnias da Guiné-Bissau ao som dos djambés num espectáculo de 20 minutos em que tentam dar tudo por tudo para impressionar o júri. Muitos surgem com o corpo untado com óleo de palma que faz sobressair o negro da pele contrastando com a beleza garrida dos trajes tradicionais.

Um ou outro grupo arrisca nestes 20 minutos a concurso apresentar uma pequena rábula em que aborda de forma satírica os problemas que atingem o quotidiano social e politico guineense. Trazem também mascaras alegóricas. Provocadoras qb, falam de paz, da necessidade de justiça e educação para o desenvolvimento do país e da união entre todos os guineenses.

Há acrobacias, um jovem do bairro da Tchada que bebe (?) 200 litros de água ali à nossa frente antes de lhe colocarem um enorme pilão em cima da barriga e começarem ali mesmo a pilar o arroz com toda a energia. E há também um grupo de mulheres que fazem sorrir os mais familiarizados com as companhias aéreas que servem a Guiné-Bissau pois trajam os cobertores vermelhos que uma delas fornece aos passageiros durante o voo.

Estes figurantes que chegam de todo o país e ficam na capital alojados em diversas escolas são os maiores embaixadores da cultura guineense. Não é uma representação para turista ver, é a verdadeira apresentação da sua essência, do seu quotidiano, das danças e rituais que praticam durante as colheitas, os casamentos, os nascimentos, os funerais. A cultura e a diversidade guineenses sintetizam-se nestes dias de Carnaval na capital do país.

Este ano, a instabilidade política ameaçou a realização dos desfiles e falava-se à boca cheia que, a acontecer, seria mau prenúncio dado que só aquando da guerra que assolou o país, em 1998, é que não se celebrou o Carnaval.

Mas o Entrudo encheu novamente o país de cor e de música e levou até à capital milhares de pessoas que em familia se passeavam pelas ruas onde mulheres apregoavam os saquinhos de sorvete gelado, as mandarinas descascadas ou os saquinhos de pipocas. 

Vale a pena visitar a Guiné-Bissau no período do Carnaval e assim conhecer em três dias toda a riqueza étnica, cultural e social do país.


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