domingo, 26 de fevereiro de 2017

É CARNAVAL E NINGUÉM PODE LEVAR A MAL

LÚCIA LOURENÇO GONÇALVES
Sim, sou de tradições… Ou antes, de as recordar.

Hoje o Carnaval é feito de máscaras, fantasias… Na minha opinião, simples banalidades!

Cresci a viver o Carnaval de uma forma bem diferente e ainda hoje recordo as brincadeiras e tropelias vividas entre rapazes e raparigas que durante esta época carnavalesca se tornavam autênticos rivais.

E quando havia casais de namorados à mistura, as picardias, assumiam uma característica ainda mais interessante!

A semana dos “compadres” não era comemorada. Os pais, zelosos, não deixavam as raparigas saírem à noite, logo os rapazes nunca eram incomodados, contrariamente à semana das “comadres” que era bem vivida.

Os rapazes, livres do preconceito dos pais, passeavam-se pelas povoações onde havia raparigas, e eram peritos em atazanar-nos os ouvidos, fazendo barulho com tudo o que produzisse som. Algo que provocava autênticas “batalhas campais”, com muitos banhos de água fria à mistura… E quando já não havia água no balde, às vezes num ato de pura frustração, arremessava-se com o balde vazio.

E no escuro da noite muito raramente conseguia-mos descobrir o rosto dos simpáticos meninos que nos brindavam com uma serenata de panelas e metais, numa melodia completamente atordoante!

Para o dia de Carnaval, outra atividade era esmeradamente preparada. Na manufatura do “compadre” e da “comadre” – bonecos - eram usados paus revestidos com papel de seda nos mais variados tons. Um por cada grupo de jovens que participavam num autêntico despique entre sexos!

E era exatamente neste dia, que a última batalha tinha lugar. Objetivo? Capturar ao grupo rival, o respetivo boneco. Algo que nos fazia calcorrear campos e vales, sofrer quedas e arranhões… Enfim, era quase o vale tudo.

E isto sob o olhar divertido dos respetivos pais, que muitas das vezes não sabiam por quem torcer, afinal nesta “guerra” não havia irmãos, mas sim rapazes e raparigas de lados opostos e dispostos a passarem um bom bocado e honrar a tradição herdada das gerações anteriores.

Por fim e quem captura-se o boneco do grupo rival - e por norma eram os rapazes - Aqui tenho que admitir, o grupo das raparigas era mesmo o elo mais fraco. Isto porque, quase sempre de estatura mais baixa e menos velozes a fugir, facilmente eramos “engolidas” pela força e altura dos rapazes que, quando cercados, facilmente arremessavam a “comadre” para o restante grupo que assistia à espera da oportunidade. E a corrida continuava, por vezes até ao anoitecer.

Quando acontecia o inverso, rapidamente o jogo terminava, as raparigas não tinham a força nem a altura para atirar com o boneco para fora do círculo formado pelos rapazes e o nosso querido “compadre” era capturado e queimado ao anoitecer, junto à escola que todos tínhamos frequentado e ficava situada num alto de onde todas nós “humilhadas” podíamos assistir. Tudo isto no meio de gritos de júbilo dos rapazes, claro!

Pobres de nós raparigas, que nas semanas seguintes ouvíamos as suas gracinhas... Mas que relevávamos, claro!

Afinal,eramos jovens e vivíamos estas épocas como jovens que éramos e acima de tudo divertíamo-nos… e de uma forma bem simples!

E que me lembre nunca houve cabeças nem pernas partidas, agora umas nódoas negras… talvez algumas, e uma ou outra amassadela no ego também!

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