segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

CUIDADORES

“No amor,
A dor disfarça-se com um abraço,
A tristeza com um sorriso,
A ausência com um beijo
E o medo com companhia”
Autor desconhecido

    
ELISABETE CERQUEIRA
Nas crónicas anteriores abordei o tema “envelhecimento”, é um tema muito pertinente e atual, é uma realidade muito presente, não só do ponto de vista profissional mas também do ponto de vista pessoal. Os idosos são o nosso foco principal? sim…mas nunca podemos esquecer os seus cuidadores.

Na verdade, à medida que crescemos e que os nossos pais envelhecem, os papeis dentro da família acabam, inevitavelmente, por se inverter. Estima-se que 85% da população idosa continua a viver na sua própria casa ao cuidado dos familiares, daí a importância do aconselhamento e apoio prestado a estas famílias, para que a árdua tarefa do dia a dia se torne mais fácil e eficaz, prevenindo o stress e o isolamento do familiar que cuida.

Cuidar de idosos em casa é um passo gigante, que deve ser dado com muita consciência, planeamento e com muita boa vontade. O cuidador é peça fundamental na difícil tarefa de cuidar, é aquele que assegura o bem-estar a outra pessoa, quer de forma temporária ou permanente. Tem, acima de tudo, de ser um Ser Humano de qualidades especiais que se expressam pelo amor, solidariedade e doação. Cuidador, define-se como alguém que “cuida…zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura e lazer da pessoa cuidada”. Pode ser uma pessoa da família ou da comunidade que presta cuidados a alguém que necessite deles, apoiando-os em termos físicos, emocionais, cognitivos e nas tarefas da vida diária.

Não é uma tarefa fácil, a adaptação ao papel de cuidador é um grande desafio, principalmente nos dias de hoje, em que o dia a dia é uma corrida frenética contra o tempo. Cuidar de um idoso é muito mais que um ato, cuidar é uma atitude. Requer conhecimento, responsabilidade mas também muita afetividade. Cuidar não é apenas zelar um corpo físico mas observar a palavra não dita, expressa através do corpo, muitas vezes frágil, debilitado, um corpo físico que por medo se retrai, escondendo manifestações físicas e emocionais de grande importância e que mais tarde se manifestam em forma de doença.

Muitos cuidadores, mais vulgarmente conhecido como “apoio ao domicilio” nada disto podem observar, limitando-se a zelar um corpo físico e o espaço físico onde o idoso permanece, numa corrida louca…porque o tempo é dinheiro…a seguir há um, mais um e mais um…

Muitas famílias desejam ocupar-se elas mesmas do seu familiar idoso ou doente. Os cuidados diários são tão exigentes, que aqueles que os prestam são frequentemente chamados, “as vítimas ocultas”, esquecessem-se com frequência das suas próprias necessidades. Estas famílias estão “de serviço” 24 horas por dia, lavando, vestindo, alimentando, arranjando, entretendo e tomando conta dos seus “amores”. A responsabilidade de tomar conta dum familiar, muitas vezes assumida sozinha, provoca níveis elevados de stress, o que aumenta o risco duma quantidade de problemas emocionais e físicos, pois a esta tarefa são adicionadas outras atividades do dia-a-dia, principalmente quando estão a tentar manter um emprego e uma família. 

Aproximadamente metade das pessoas que se ocupam de doentes e idosos, apresentam depressões clinicamente evidentes, principalmente devido ao isolamento social e ao stress constante. Além da depressão, existem outras perturbações passíveis de aparecer nos cuidadores, tais como: perturbações do sono; ansiedade; sentimentos de isolamento; fadiga crónica; hipertensão; doenças cardiovasculares; alterações na vida conjugal e familiar; diminuição da assiduidade no emprego (Portal da Saúde, 2008).

É extremamente difícil ser cuidador, esta tarefa pode levar a experienciar sentimentos diversos, muitos deles negativos, a mesma fonte diz que, é normal que sinta tristeza, frustração, culpa pela falta de paciência que por vezes tem, pelo sentimento de revolta em relação ao próprio doente ou idoso, pela situação que vive e solidão pelo afastamento gradual da família e dos amigos, pela impossibilidade de deixar o seu familiar sozinho e procurar um pouco de convívio.

Todos esses sentimentos negativos não significam que não seja um bom prestador de cuidados. São apenas reações humanas! Pelo que, para seu bem e para o bem do seu familiar, não se deve recriminar demasiado; cuidar de si e vigiar a sua saúde; sensibilizar os seus familiares para o ajudarem, procurando em conjunto, estratégias de colaboração; conhecer os seus limites e tentar encontrar ajuda; devem aprender a viver a nova vida, principalmente se não podem contar com o apoio de familiares, tentando tirar partido dela, já que é essa a vida que o espera.

O papel dos enfermeiros dos cuidados de saúde primários, continua a ser de primordial importância na ajuda aos cuidadores. Os seus conselhos podem não só melhorar a qualidade dos cuidados e evitar a exaustão de quem cuida. Os enfermeiros devem procurar sugerir formas, para que os cuidadores vejam a sua vida mais facilitada e ao mesmo tempo manter a sua saúde e o seu bem estar. Todos os conselhos são fundamentais, pois os cuidadores estão sujeitas a cargas emocionais constantes, repetitivas, sentindo-se presos, chegando até à exaustão, sem vida própria e deprimidos, podem na verdade perder o controlo após meses e anos a lidarem com idosos doentes e dependentes que se tornam muitas vezes agressivos, desconfiados, exigentes e teimosos. Estas situações de exaustão levam muitas vezes a atitudes condenatórias que é a questão das agressões físicas e psicológicas, muitas vezes de certa violência.

É de primordial importância, as informações, os conselhos e o apoio, prestado pelos enfermeiros, pelos médicos de família, instituições de apoio e ainda por familiares e amigos, podendo minimizar os anos de provação.

Como cuidador, a vida mudou…ser cuidador em casa é viver uma angustia permanente…é o não conseguir controlar as emoções é o não ser capaz de cuidar de si próprio…

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