terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

CONFABULATORES NOCTURNI

BRUNO SANTOS
Ainda que para muitos permaneça um mistério a devoção com que em Portugal milhões de pessoas, diariamente, assistem a telenovelas, não há dúvida de que essa fidelidade, esse fascínio, se relaciona com o carácter encantatório e de certa maneira hipnótico da estória e dos meios utilizados para a contar.
Jorge Luís Borges mencionou um dia os confabulatores nocturni de que se fazia acompanhar Alexandre da Macedónia na longas campanhas militares. Era um grupo de homens cuja função era contar fábulas e lendas ao discípulo de Aristóteles, pela noite dentro, estratagema que ele usava para enganar a insónia e alimentar os sonhos.
É possível que este hábito tenha origem muito antiga, bem próxima da época em que o Homem começou a dominar o Fogo e as noites, sob a sua luz, se tornaram mais longas e mais propícias à narrativa coloquial, à partilha da palavra na elaboração de imagens mentais e ao desenvolvimento da imaginação. No fundo, é disso que se trata. De alimentar a imaginação.
Os métodos usados para contar estórias evoluíram, mas o objectivo de estimular, e mesmo de condicionar, os processos de criação da imagem mental, é basicamente o mesmo. Daí que, pelas estórias que se contam e com as quais se encantam diariamente milhões de pessoas, nos é permitido entender o género de confabulatore que hoje domina a produção de imagens mentais e, principalmente, com que propósito essas imagens são estimuladas, que desígnio social veiculam e que modelo Humano preconizam.
Entendendo isto, julgo que perceberemos que nenhuma modificação sensível se introduzirá no modelo civilizacional que alegremente nos conduz ao abismo da extinção moral, sem resolvermos o problema Primeiro, o da fonte: os manipuladores de Arquétipos.

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