quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

A HISTÓRIA DA MÚSICA - PARTE II

PAULO SANTOS SILVA
Com a queda do Império Romano e a implantação do cristianismo, a Igreja passa a ter um papel fundamental para o desenvolvimento e evolução da Música, pois são os monges que, nos mosteiros e depois dos gregos, continuam a desenvolver a escrita e a teoria musical. São os cânticos litúrgicos vocais e de transmissão oral que fazem parte do repertório mais usado na música da Idade Média. Estes cantos litúrgicos variavam nas suas interpretações consoante a raça, a cultura, os ritos e os hábitos musicais dos diversos povos. 

Sentindo necessidade de unificar e de fortalecer o cristianismo, São Gregório Magno, monge beneditino e eleito Papa em 590, compilou e selecionou uma série de cânticos litúrgicos com qualidade e dignos de culto. Foi neste sentido que reuniu alguns cânticos já existentes e outros de sua própria autoria numa coletânea que intitulou de Antifonário. A esta forma de cantar deu-se o nome de Canto Gregoriano, que era basicamente uma forma de oração para demonstrar o amor a Deus. Este canto tinha uma melodia simples que seguia o ritmo das palavras. Nesta época começa a haver uma grande separação entre a música religiosa e a música popular. Uma das grandes diferenças entre elas, está nos instrumentos que são usados em ambas. Na Igreja apenas o órgão era permitido, enquanto na música não religiosa ou chamada profana usavam-se a rabeca, o saltério, o alaúde, a charamela, a flauta, a gaita-de-foles, a sanfona, a harpa, os pratos, os pandeiros, os tambores, entre outros. A língua usada nos cantos da Igreja era o Latim, enquanto na música popular eram os dialetos próprios de cada região.

É neste período que surgem “novos tipos de músicos”. Os menestréis eram cantores, músicos e malabaristas que andavam de terra em terra juntamente com os saltimbancos. Os trovadores eram nobres que compunham música e poesia tendo com o tema preferido, para as suas composições, o amor. A notação (escrita) musical serviu no início apenas para auxiliar a memória de quem cantava, mas, ao longo dos tempos, tornou-se cada vez mais precisa. Numa fase inicial, eram colocados pequenos símbolos chamados neumas. Mais tarde e de forma progressiva foram introduzidas as linhas até se chegar ao conjunto das cinco linhas e quatro espaços (vulgarmente conhecido por pauta musical) que foram inventadas por Guido D’Arezzo, conhecido como sendo um grande teórico da música na Idade Média. Guido D’Arezzo, foi um monge italiano responsável por dirigir o Coro da Catedral de Arezzo (situada na região italiana da Toscana). Foi, também, ele que “batizou” as notas musicais com os nomes que conhecemos hoje: dó, ré, mi, fá, sol, lá e si (antes, ut, re, mi, fa, sol, la e san), baseando-se num texto sagrado em latim (de um hino a São João Batista):

Ut queant laxis

Resonare fibris

Mira gestorum

Famuli tuorum

Solve polluti

Labii reatum

Sancte Ioannes

Traduzindo, "para que teus grandes servos, possam ressoar claramente a maravilha dos teus feitos, limpe nossos lábios impuros, ó São João." A partir do século XI, o uso deste sistema tornou-se habitual e manteve-se até aos dias de hoje.

Enquanto espera pela próxima crónica para saber o que aconteceu na Música durante o período do Renascimento, deixo-lhe como sugestão de audição um exemplo de um Canto Gregoriano, cantado pelos monges da Catedral de Notre-Dame – Salve Regina. 

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