segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

UNIÃO FAMILIAR

RITA TEIXEIRA 
Sou daquelas pessoas que agem de acordo com o que dizem. Há valores fundamentais na vida que regem a nossa atuação na sociedade atual. Ao longo da minha vida, os meus pais transmitiram certos valores e eu fiz questão de educar meus filhos com os mesmos que fui educada. Família e amizade, acima de tudo. 

Viver com a cara lavada, significava integridade. Viver de acordo com as nossas posses, significava honestidade. Dividir o pouco que temos, significava solidariedade. Trabalhar até ao limite, significava garra. 

Vivemos com muitas provações, numa época de privações. Sentíamos o afastamento de familiares, que se julgavam superiores, por terem herdado alguns bens. Enquanto isso, eu e os meus irmãos herdamos o orgulho de possuirmos o fruto da tenacidade e a valentia dos nossos progenitores. 

À medida que crescíamos, éramos forçados a trabalhar, para contribuirmos para as despesas familiares. Desde cedo, aprendemos a cuidar de um pai com a doença de Parkinson e relembro que era eu, com oito anos, que ia à farmácia buscar os medicamentos, sendo eles, Madopar 1000g e Akineton retard.. Quantas vezes, recebíamos uma chamada telefónica das Padarias Reunidas, onde era escriturário, para ir buscá-lo, porque tinha caído e não tinha condições de permanecer no local de trabalho. 

Foi assim, a nossa infância, entre brincar no largo da Feira Nova, trabalhar, cuidar do pai e estudar. Fomos crescendo neste ambiente familiar. Sempre disponíveis para acompanhar o nosso progenitor. Entretanto, constitui a minha família e sempre fiz questão dos meus filhos visitarem os avós diariamente. Proporcionei-lhes momentos felizes com os netos. 

Hoje custa-me ver a minha mãe, com uma tristeza enorme, ansiosa, por ver os filhos que estão tão perto e tão distantes para a visitarem. Os meus filhos aprenderam que a família da mãe e a família do pai eram apenas uma família deles. Quando havia uma festa de aniversário eles convidavam os amigos e a família. Estavam familiares meus e familiares do pai. 

A união familiar requer entreajuda, afeição, amor e paz, muita paz! Viver sem a família é como sobreviver sem o ar que necessitamos para respirar.

Viver sem a união familiar é como estarmos à beira de um precipício e não saber como se salvar. Viver sem a união familiar é como caminhar sem o suporte de Deus, para nos amparar. Nesta fase da caminhada da vida, há familiares e amigos que se mantiveram unidos a mim, formando a minha família do coração! Esta união é o lampião da coragem, a vela da persistência, a lanterna do ânimo, o candeeiro da esperança, a lâmpada da fé. 

As estrelas são a luz dos familiares e a lua ilumina as pegadas de Deus a meu lado. Gratidão será sempre uma palavra dirigida a Deus, nosso pai!!!

O PÉ E O FRIO

FÁTIMA LOPES
No inverno os pés à semelhança de outras partes do corpo têm tendência a permanecerem frios por longos períodos de tempo; este frio provoca vasoconstrição dos capilares, ou seja o sangue que flui nos pequenos vasos diminui.

Esta é uma característica muito frequente nos pés por se tratar de uma extremidade mais distante do coração. Neste contexto o CENTRO CLINICO DO PÉ (www.centroclinicodope.pt) esclarece uma série de conselhos práticos para cuidado dos pés durante esta estação.

· É muito importante que o calçado não comprima em excesso os pés, pois quanto mais apertados estão os pés mais dificultada se torna a circulação e um pé em que o sangue não flui corretamente torna-se cada vez mais frio.

· Não exponha os pés diretamente a fontes de calor porque as alterações bruscas de calor favorecem o aparecimento de lesões.

· Devem-se manter os pés sempre secos, pois os pés húmidos favorecem a sensação de frio; recomenda-se a utilização de calçado impermeável. 

· Deve-se praticar atividade física moderada nomeadamente caminhadas, este tipo de atividade evita a perda de calor corporal e promove o mesmo efeito no pé.

· Devem ser ingeridos líquidos suficientes água ou chá.

· Utilizar meias de algodão em vez de nylon.

· Deve massajar os pés pois aumenta a temperatura dos mesmos e logo a sensação de quente.

· Não fumar; este hábito dificulta a circulação sanguínea.

· Utilizar botas de água (galochas) só em dias de muita chuva, pois este calçado permite que os pés não fiquem molhados com a chuva mas favorecem a transpiração mantendo os pés frios.

· Deve descalçar-se em casa para que o pé respire.


SAÚDE ORAL NO BEBÉ

INÊS MAGALHÃES
Os cuidados com a saúde oral do bebé devem começar antes da mãe engravidar, isto é, a futura mãe deve ter uma boca saudável para, assim, a gravidez decorrer sem nenhum percalço, quer a nível dentário quer gengival. Deste modo proporciona ao seu filho todos as condições para que este, também, possa vir a ter uma boca saudável.

É importante que desde a primeira amamentação se tenham cuidados com a higiene oral do bebé. No final deste se alimentar, mesmo sendo apenas com o leite materno, deve-se higienizar a sua boca. Para tal, podem-se utilizar gazes ou dedeiras embebidas em soro fisiológico e passá-las por todas as mucosas do bebé (gengivas, língua, bochechas), afim de não restar nenhum resíduo de leite na sua boca. A higiene oral deve ser sempre realizada desta forma até que comecem a erupcionar os primeiros dentes, onde é importante a introdução, nesta fase, de uma pequena escova (ou dedeira com cerdas) para se remover eficazmente qualquer resíduo de comida, quer dos dentes, quer das mucosas. Para já não é essencial a utilização de uma pasta dentífrica com flúor, pois o bebé poderá engoli-la, sendo esta introduzida mais tarde, por volta dos 18/24 meses, quando a dentição já se encontra quase completa e onde o bebé já consegue “cuspir” a pasta.

É de ressaltar que devem ser evitados quaisquer contactos da boca do adulto com a boca do bebé. Beijos na boca do bebé, ou o simples facto do adulto introduzir algo na sua boca (por exemplo a colher da papa) e depois introduzi-la na boca do bebé, facilita a entrada de microorganismos/bactérias, responsáveis por doenças orais (ex. cárie dentária), na boca do bebé que é estéril a estas, podendo aumentar-lhe o risco de este vir a sofrer mais cedo destas patologias.

Durante o período de erupção dentária é normal o bebé manifestar certos sintomas. Os mais comuns são: gengivas avermelhadas, aumento da salivação, perda de apetite e alteração dos hábitos nutricionais, ansiedade e dificuldade em dormir. Se a criança apresentar febre, vómitos ou diarreia, deverá ser consultada pelo seu médico assistente pois poderá existir outra causa subjacente. O desconforto da criança pode ser aliviado limpando a boca com uma gaze molhada ou recorrendo a mordedores e geles disponíveis no mercado.

Não se esqueça, qualquer dúvida consulte sempre o seu Médico Dentista!

CUIDADORES

“No amor,
A dor disfarça-se com um abraço,
A tristeza com um sorriso,
A ausência com um beijo
E o medo com companhia”
Autor desconhecido

    
ELISABETE CERQUEIRA
Nas crónicas anteriores abordei o tema “envelhecimento”, é um tema muito pertinente e atual, é uma realidade muito presente, não só do ponto de vista profissional mas também do ponto de vista pessoal. Os idosos são o nosso foco principal? sim…mas nunca podemos esquecer os seus cuidadores.

Na verdade, à medida que crescemos e que os nossos pais envelhecem, os papeis dentro da família acabam, inevitavelmente, por se inverter. Estima-se que 85% da população idosa continua a viver na sua própria casa ao cuidado dos familiares, daí a importância do aconselhamento e apoio prestado a estas famílias, para que a árdua tarefa do dia a dia se torne mais fácil e eficaz, prevenindo o stress e o isolamento do familiar que cuida.

Cuidar de idosos em casa é um passo gigante, que deve ser dado com muita consciência, planeamento e com muita boa vontade. O cuidador é peça fundamental na difícil tarefa de cuidar, é aquele que assegura o bem-estar a outra pessoa, quer de forma temporária ou permanente. Tem, acima de tudo, de ser um Ser Humano de qualidades especiais que se expressam pelo amor, solidariedade e doação. Cuidador, define-se como alguém que “cuida…zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura e lazer da pessoa cuidada”. Pode ser uma pessoa da família ou da comunidade que presta cuidados a alguém que necessite deles, apoiando-os em termos físicos, emocionais, cognitivos e nas tarefas da vida diária.

Não é uma tarefa fácil, a adaptação ao papel de cuidador é um grande desafio, principalmente nos dias de hoje, em que o dia a dia é uma corrida frenética contra o tempo. Cuidar de um idoso é muito mais que um ato, cuidar é uma atitude. Requer conhecimento, responsabilidade mas também muita afetividade. Cuidar não é apenas zelar um corpo físico mas observar a palavra não dita, expressa através do corpo, muitas vezes frágil, debilitado, um corpo físico que por medo se retrai, escondendo manifestações físicas e emocionais de grande importância e que mais tarde se manifestam em forma de doença.

Muitos cuidadores, mais vulgarmente conhecido como “apoio ao domicilio” nada disto podem observar, limitando-se a zelar um corpo físico e o espaço físico onde o idoso permanece, numa corrida louca…porque o tempo é dinheiro…a seguir há um, mais um e mais um…

Muitas famílias desejam ocupar-se elas mesmas do seu familiar idoso ou doente. Os cuidados diários são tão exigentes, que aqueles que os prestam são frequentemente chamados, “as vítimas ocultas”, esquecessem-se com frequência das suas próprias necessidades. Estas famílias estão “de serviço” 24 horas por dia, lavando, vestindo, alimentando, arranjando, entretendo e tomando conta dos seus “amores”. A responsabilidade de tomar conta dum familiar, muitas vezes assumida sozinha, provoca níveis elevados de stress, o que aumenta o risco duma quantidade de problemas emocionais e físicos, pois a esta tarefa são adicionadas outras atividades do dia-a-dia, principalmente quando estão a tentar manter um emprego e uma família. 

Aproximadamente metade das pessoas que se ocupam de doentes e idosos, apresentam depressões clinicamente evidentes, principalmente devido ao isolamento social e ao stress constante. Além da depressão, existem outras perturbações passíveis de aparecer nos cuidadores, tais como: perturbações do sono; ansiedade; sentimentos de isolamento; fadiga crónica; hipertensão; doenças cardiovasculares; alterações na vida conjugal e familiar; diminuição da assiduidade no emprego (Portal da Saúde, 2008).

É extremamente difícil ser cuidador, esta tarefa pode levar a experienciar sentimentos diversos, muitos deles negativos, a mesma fonte diz que, é normal que sinta tristeza, frustração, culpa pela falta de paciência que por vezes tem, pelo sentimento de revolta em relação ao próprio doente ou idoso, pela situação que vive e solidão pelo afastamento gradual da família e dos amigos, pela impossibilidade de deixar o seu familiar sozinho e procurar um pouco de convívio.

Todos esses sentimentos negativos não significam que não seja um bom prestador de cuidados. São apenas reações humanas! Pelo que, para seu bem e para o bem do seu familiar, não se deve recriminar demasiado; cuidar de si e vigiar a sua saúde; sensibilizar os seus familiares para o ajudarem, procurando em conjunto, estratégias de colaboração; conhecer os seus limites e tentar encontrar ajuda; devem aprender a viver a nova vida, principalmente se não podem contar com o apoio de familiares, tentando tirar partido dela, já que é essa a vida que o espera.

O papel dos enfermeiros dos cuidados de saúde primários, continua a ser de primordial importância na ajuda aos cuidadores. Os seus conselhos podem não só melhorar a qualidade dos cuidados e evitar a exaustão de quem cuida. Os enfermeiros devem procurar sugerir formas, para que os cuidadores vejam a sua vida mais facilitada e ao mesmo tempo manter a sua saúde e o seu bem estar. Todos os conselhos são fundamentais, pois os cuidadores estão sujeitas a cargas emocionais constantes, repetitivas, sentindo-se presos, chegando até à exaustão, sem vida própria e deprimidos, podem na verdade perder o controlo após meses e anos a lidarem com idosos doentes e dependentes que se tornam muitas vezes agressivos, desconfiados, exigentes e teimosos. Estas situações de exaustão levam muitas vezes a atitudes condenatórias que é a questão das agressões físicas e psicológicas, muitas vezes de certa violência.

É de primordial importância, as informações, os conselhos e o apoio, prestado pelos enfermeiros, pelos médicos de família, instituições de apoio e ainda por familiares e amigos, podendo minimizar os anos de provação.

Como cuidador, a vida mudou…ser cuidador em casa é viver uma angustia permanente…é o não conseguir controlar as emoções é o não ser capaz de cuidar de si próprio…

domingo, 26 de fevereiro de 2017

O SENTIMENTO DA VERGONHA

CARLA SOUSA
Este sentimento surge no meio das relações sociais e apesar de não ser um sentimento “prazeiroso” de se sentir, não tem que ser necessariamente negativo. Pode inclusive, estar associada a quadros de timidez. 

A vergonha está relacionada com o Eu e com o Outro, e a forma como eu acho que o outro me julga.

Quando a vergonha se torna excessiva pode bloquear as relações interpessoais e conduzir a comportamentos de evitamento: evitar sair, evitar falar ao telefone, evitar contextos sociais…. Este evitamento pode conduzir à solidão e ao isolamento.

Sentimos vergonha diversas vezes na nossa vida. Quando fazemos algo de errado, quando recebemos críticas, quando sentimos que falhamos, quando não nos sentimos gostados…

A vergonha de si mesmo está associada a uma autoestima baixa, a pessoa sente-se “cheia de defeitos”: inferior, incapaz, feia, má, indesejada…

Deve-se perceber como é que estes sentimentos foram internalizados ao longo da vida, de modo a perceber a origem da vergonha. 

Pode estar associada a críticas negativas e sentimento de rejeição por parte de pessoas significativas, a ausência de afeto ou cuidado ou até a bullying na adolescência. 

A rejeição recebida pode não corresponder à rejeição real, pois normalmente, nestes casos, a auto-rejeição já está instalada. Ou seja, a pessoa que sente vergonha, pode, em jeito de auto-defesa rejeitar todas as pessoas de modo a evitar entrar em contacto direto com a importância de se sentir integrada e gostada, e o medo de ser rejeitada. Actua numa máxima de “perdido por cem, perdido por mil” ninguém”, “nunca niguém vai gostar de mim”, “eu não sou nada interessante”…

A pessoa que sente vergonha de si mesma é insegura, e compara-se aos outros na sua forma de vestir, falar, agir… 

No entanto, convém perceber que aquilo que é vergonha para uma pessoa, pode não ser vergonha para outra. Está associada à nossa sociedade, educação, valores morais e formação. E pode ser sentida e experienciada forma muito diferente nestes contextos.

Na gíria popular usa-se muito a expressão “o sem vergonha”, “não tem vergonha na cara”, muito associado a opiniões morais sobre a pessoa. Pode dizer-se que, é melhor ter vergonha do que ser “sem vergonha”. Ninguém gostará de ouvir “tu não tens vergonha na cara”.



É normal sentir vergonha! É importante saber lidar com este sentimento de forma saudável de modo a que possamos manter boas relações e, para que possamos sentirmo-nos incluídos e lidar adequadamente com o sentimento de exclusão.

EU SÓ SEI SER CALADO

MIGUEL GOMES
Percorri as prosas rimadas que tinha esculpido. Há um sentimento de partilha comigo quando leio do que me escreveram as mãos, sinto um pouco de orgulho, havia ali uma sílaba que me fez sorrir, dizia-me: “Olha, era isto que estava a sentir”.

O vento bate na porta da igreja, encosto-me por instinto e por escassez de lugar nas últimas filas que ladeiam o corredor, lousado, irregular, que guia ao altar. Há a distância que se quer do sagrado. Sequer ousasse sacralizado. Bate leve, levemente. Eu não sou, será gente? Era gente sim, que se escorre de frio e fecha o guarda-chuva no silêncio possível, deixando-o encostado a espremer-se de água caída e a dormitar orgulhoso de vareta curvado. Tudo na vida faz sentido, até o silêncio que trago comigo, arado.

Deu-se início à cerimónia, a natureza conspira contra o solene acto de mnemonizar grafias antigas que outros urdiram em sacralizar, o barulho da porta a bater nas minhas costas, o desequilíbrio e o bater de ambos, porta e eu na ladeira granítica. O olhar ríspido, altivo, inocente e sem sacralidade sobre os óculos para mim faz-me confundir com a porta. Encosto-me e finco os pés. Se alguém bater, por leve que seja, não entrará hoje aqui, na igreja.

Tu estás encostado à esquerda de toda a gente, quando nos disseram que estarias à direita do pai. Sei o que isso é, também eu ia à sua direita, imitando os gestos do volante com um velho livro do Lucky Luke. 

Lembraste quando me disseste onde ias estar dali a uns anos? Rimo-nos. E choramos. De quantos sois precisaria o olhar humano para sentir a imaginação sequer do ameno calor daquilo que nem a realidade te soube contar? Pelo teu acordar valeu a pena adormecer, de vela oscilando de sono no pavio retorcido, esmorecido.

Há uma cacofonia que teimo em não escutar. A pedra onde assentaste, sabia-lo, iria trazer a aridez plutónica do que arrefeceu na profundidade de cada um que se seguiu. 

Uns que entram e saem, admirados por me verem ali, de porta fechado, eu no futuro, eles no passado. Confundem-me com a porta, saem todos no remoinho de gente no inverno, folhas que um vento levou porque rezaram, mas ninguém de ti se lembrou. 

As luzes desligam-me, fecham-me como porta, o ferrolho corre preguiçoso no áspero ferro. Há agora espaço de manobra, bancos de sobra, coincido-me com o andor e fecho os olhos quase como quem se acorda. Em espaços de madeira onde se ajoelham as saliências de quem se fez terra entre leira, também eu soçobro e deixo cair baixinho duas gotas de saudade. 

Tu surges. Ris-te. Eu choro, envergonhado, não lacrimejado. Há meia dúzia de palavras que nunca soube proferir, o ruído do ferro que se rangeu quando os pregavam, nós escondidos, eu com medo e tu senhor, em segredo, sabias já, sei-o agora, do bafiento agreste inodoro arrastar de sotainas por quem te chama em sussurro, para que não venhas. 

O vento bate com mais força. Eu nem sei porque me demoro, nem por que acordo, mas tu alças o braço sobre o meu corpo carregado de ignorância e desambição. 

“Eu só sei ser calado”, desabafo em torpor, mas dizes-me que “isso é o amor”. Eu chamo-lhe silêncio e tu, sorrindo: “Sim, por acaso me viste gritar?”

I(LÓGICA) FEMININA

LUÍS ARAÚJO
Nas coisas indefiníveis no mundo, a (falta) de lógica feminina aparece a brilhar estratosférica lá no alto, poderosa, cheia de vaidade e com um toque de rimmel e blush. Vem desde tempos imemoriais a natural incapacidade para o homem, qualquer homem, conseguir entender mesmo as coisas mais simples inerentes ao universo feminino. Isto, claro, falando metaforicamente, pois não há nada, mas mesmo nada, que possa ser epitetado como “simples” no universo feminino, um mundo complexo e intrincado que faz com que qualquer homem se borre de medo só pela mera sugestão de um hipotético contacto com esta realidade obscura, tenebrosa, e de putativo aspecto dócil, o que qualquer biólogo - mesmo tendo feito o curso por equivalências e com um diploma passado num domingo - de pronto identificará como características inerentes às plantas carnívoras, aquelas que atraem um insecto para o seu interior deleitando-se depois a consumi-lo devagarinho, muito lenta e sistematicamente. De forma desconcertante é a este mundo que se devem dos maiores feitos jamais alcançados pela humanidade, o pânico, o medo visceral, o terror permanente da actividade conjugal, sem sombra de duvida, fizeram com que Edmund Hillary se escapasse para o topo da montanha mais alta que encontrou, Yuri Gagarin fugisse para o espaço, Alan Shepard só encontrasse sossego a jogar golfe na Lua e Don Walsh e Jacques Piccard se refugiassem no fundo da Fossa das Marianas. Após 3, 4milhões de anos, desde o Paleolítico até aos nossos dias a evolução foi... Zero! Ora 3,4 milhões de anos de sabujisse masculina colocam uma pedra bem pesada na velha questão do género dominante. O que é uma modernice muito porreiraça, eu ainda me lembro dos tempos em que as pessoas tinham sexo e eram só dois, agora têm género e são vários, esperemos que as mesmas modernices que acabaram com o sexo não extingam também as posições todas do kamasutra, chutando os géneros futuros para uma vida de asséptica monotonia. E, veio-me isto de repente à memória porque tive uma conversa suis generis com um elemento do belo sexo, que hoje em dia é o belo género, uma amiga minha que estava muito irritada porque um ex-namorado/amante/amigo colorido a tinha “desrespeitado”, o que é uma nova moda com toda a certeza, pois há imensas mulheres que se sentem “desrespeitadas”, ainda não percebi muito bem é porque é que grande parte delas vem desabafar comigo, reconhecidamente a pessoa menos sensível num raio pelo menos daqui até à Nova Zelândia. Antes que a pudesse interromper, fazendo-lhe ver delicadamente que, apesar de ter imenso prazer em ouvir os seus devaneios inconsequentes, tinha marcada uma cirurgia para doar um pulmão a um refugiado de Lampedusa, sou assoberbado com detalhes que me fizeram desejar fazer a doação de um pulmão sem anestesia. Após alguns (muitos) minutos de baba e ranho fico ciente de que esta minha amiga tinha decidido enviar várias mensagens - que fariam enrubescer uma corista da Praça Pigalle - ao tal ex-namorado/amante/amigo colorido e que este, após uma catadupa de mensagens que se estenderam por mais de uma hora e que culminaram numa descrição demasiadamente detalhada da maneira como uma certa parte da anatomia feminina se encontrava livre de toda e qualquer penugem, lhe solicitou uma fotografia... Pelos vistos um gesto altamente desrespeitador, porque ele sabia que ela tinha um namorado. Aqui chegado parece-me que há uma certa confusão na mente feminina, a confusão inerente a alguém que acha que pode estar durante uma hora a fazer sexting e depois fica muito chocada por lhe ter sido pedida uma fotografia. O problema dos fracos e oprimidos reside precisamente nisto, no facto de abusarem do estatuto de fracos e oprimidos, relembro-me de num dos cursos termos um colega de cor que muito divertia a aula porque de cada vez que tirava uma negativa dizia que o professor era racista, ou daquela mãe que não deixava ninguém tocar no filho por serem todos “pidófilos”, do mesmo modo esta minha amiga acha que pode provocar até à medula alguém e depois sentir-se muito ofendida, seja com o que seja. E é nesta altura que dou por mim a lamentar ter terminado esse belo hábito do “chapadão nas ventas”, seja a mulheres ou a homens, porque voluntários não faltam.

É CARNAVAL E NINGUÉM PODE LEVAR A MAL

LÚCIA LOURENÇO GONÇALVES
Sim, sou de tradições… Ou antes, de as recordar.

Hoje o Carnaval é feito de máscaras, fantasias… Na minha opinião, simples banalidades!

Cresci a viver o Carnaval de uma forma bem diferente e ainda hoje recordo as brincadeiras e tropelias vividas entre rapazes e raparigas que durante esta época carnavalesca se tornavam autênticos rivais.

E quando havia casais de namorados à mistura, as picardias, assumiam uma característica ainda mais interessante!

A semana dos “compadres” não era comemorada. Os pais, zelosos, não deixavam as raparigas saírem à noite, logo os rapazes nunca eram incomodados, contrariamente à semana das “comadres” que era bem vivida.

Os rapazes, livres do preconceito dos pais, passeavam-se pelas povoações onde havia raparigas, e eram peritos em atazanar-nos os ouvidos, fazendo barulho com tudo o que produzisse som. Algo que provocava autênticas “batalhas campais”, com muitos banhos de água fria à mistura… E quando já não havia água no balde, às vezes num ato de pura frustração, arremessava-se com o balde vazio.

E no escuro da noite muito raramente conseguia-mos descobrir o rosto dos simpáticos meninos que nos brindavam com uma serenata de panelas e metais, numa melodia completamente atordoante!

Para o dia de Carnaval, outra atividade era esmeradamente preparada. Na manufatura do “compadre” e da “comadre” – bonecos - eram usados paus revestidos com papel de seda nos mais variados tons. Um por cada grupo de jovens que participavam num autêntico despique entre sexos!

E era exatamente neste dia, que a última batalha tinha lugar. Objetivo? Capturar ao grupo rival, o respetivo boneco. Algo que nos fazia calcorrear campos e vales, sofrer quedas e arranhões… Enfim, era quase o vale tudo.

E isto sob o olhar divertido dos respetivos pais, que muitas das vezes não sabiam por quem torcer, afinal nesta “guerra” não havia irmãos, mas sim rapazes e raparigas de lados opostos e dispostos a passarem um bom bocado e honrar a tradição herdada das gerações anteriores.

Por fim e quem captura-se o boneco do grupo rival - e por norma eram os rapazes - Aqui tenho que admitir, o grupo das raparigas era mesmo o elo mais fraco. Isto porque, quase sempre de estatura mais baixa e menos velozes a fugir, facilmente eramos “engolidas” pela força e altura dos rapazes que, quando cercados, facilmente arremessavam a “comadre” para o restante grupo que assistia à espera da oportunidade. E a corrida continuava, por vezes até ao anoitecer.

Quando acontecia o inverso, rapidamente o jogo terminava, as raparigas não tinham a força nem a altura para atirar com o boneco para fora do círculo formado pelos rapazes e o nosso querido “compadre” era capturado e queimado ao anoitecer, junto à escola que todos tínhamos frequentado e ficava situada num alto de onde todas nós “humilhadas” podíamos assistir. Tudo isto no meio de gritos de júbilo dos rapazes, claro!

Pobres de nós raparigas, que nas semanas seguintes ouvíamos as suas gracinhas... Mas que relevávamos, claro!

Afinal,eramos jovens e vivíamos estas épocas como jovens que éramos e acima de tudo divertíamo-nos… e de uma forma bem simples!

E que me lembre nunca houve cabeças nem pernas partidas, agora umas nódoas negras… talvez algumas, e uma ou outra amassadela no ego também!

sábado, 25 de fevereiro de 2017

A EMIGRAÇÃO OITOCENTISTA PARA O BRASIL, A REALIDADE LOCAL

MÓNICA AUGUSTO
A emigração portuguesa para o Brasil foi uma constante ao longo dos últimos séculos, mas a segunda metade do século XIX levantou novas questões devido ao aumento da saída de portugueses em direção a terras de Vera Cruz. As consequências deste aumento migratório foram, na época, alvo de vários debates e polémicas de âmbito nacional, tendo também sido criada diversa legislação acerca da questão. Foram várias as personalidades coevas, quer ao nível literário, quer político, que se debruçaram sobre o tema da emigração oitocentista para o Brasil, como Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Rodrigues de Freitas, Basílio Teles, Bento Carqueja, etc.

A independência do Brasil foi a responsável pela alteração da condição dos portugueses enquanto colonos, que os caraterizou nos séculos anteriores, e a passagem para a condição de emigrantes. Foram várias as medidas tomadas pelo governo português no sentido de travar esta sangria de mão-de-obra para o lado de lá do Atlântico, ao longo do século XIX e início do século XX. Ainda assim, as partidas não cessaram, até porque do outro lado foram tomadas medidas em sentido contrário.

O século XIX registou um grande aumento demográfico e a consequente dificuldade em absorver a população, apesar de algumas melhorias, o país continuava empobrecido, a saturação demográfica nos campos e a pouca indústria incapaz de absorver a mão-de-obra contribuíram para esta emigração, sobretudo do Norte do país, das zonas de lento crescimento económico e predominantemente rurais. Aqui, os principais fatores que concorrem para a saída são: o aumento do preço das subsistências, os baixos salários auferidos na agricultura e na indústria, a dificuldade de acesso à propriedade fundiária, a fuga ao serviço militar, entre outros. Por outro lado, também a imagem do El Dorado brasileiro, estimulada pelos engajadores e pelos brasileiros de torna-viagem, a influência da rede de parentes e conterrâneos no Brasil, a mesma língua e cultura. Mas como afirma Miriam Halpern Pereira (Pereira:1981), nem tudo correu pelo melhor, pois os casos de sucesso que serviam de exemplo começam a afigurar-se cada vez menos, em particular devido à abolição da escravatura (1888) e à demanda, por parte do governo brasileiro por mão-de-obra que substituísse a escrava. Várias são as descrições sobre as más condições de vida que os portugueses acabam por encontrar no Brasil, por exemplo por Maria Antonieta Cruz (Cruz: 1987).

Vários estudos de cariz nacional, regional e local se debruçaram nos últimos anos acerca da questão, procurando, entre outos aspetos, traçar o perfil daqueles que deixam a terra natal em direção ao Brasil. Os estudos locais são significativos, uma vez que a partir do particular podemos alcançar o global e permitem um melhor conhecimento da realidade próxima.
Não sendo possível estudar com exatidão a emigração ilegal, focamo-nos na “emigração legal”, através da análise dos dados obtidos pela exploração da informação disponibilizada pelo Arquivo Distrital de Viseu, nomeadamente os Livros de Registo de Passaporte entre 1856 e 1887, livros do Governo Civil de Viseu, entidade responsável pela emissão de passaportes.

A título de exemplo, entre 1856 e 1887, no território que atualmente constitui o concelho de Tarouca, encontramos 549 pedidos de passaporte para o Brasil: entre eles registam-se apenas 24 mulheres, ou 26 se adicionarmos 2 que constam do passaporte do marido e irmão. Quanto às idades dos indivíduos do sexo masculino, verificamos que a grande maioria se insere na faixa etária dos 25-29 anos, logo seguidos da faixa imediatamente anterior, dos 20-24 anos, trata-se, portanto, à semelhança do que sucede a nível nacional, de uma mão-de-obra jovem, com capacidade de trabalho. No que respeita ao estado civil, os números apontam para um maior número de indivíduos solteiros, contudo é também muito levado o número de indivíduos casados, isto aliado à distribuição por sexos que se mostra essencialmente masculina, leva-nos a duas questões: 1ª a debandada de homens em idade reprodutiva e respetivo reflexo demográfico; 2ª à questão das mulheres casadas que permanecem no solo pátrio, assumindo funções até então masculinas, como o papel preponderante na educação dos filhos, na gestão do património familiar e do próprio papel destas na sociedade, são sobretudo, como afirma Caroline Brettel (Brettel:1991) Homens que Partem, Mulheres que Esperam.


Bibliografia:
Brettel, Caroline B. (1991): Homens que partem, mulheres que esperam: consequências da emigração numa freguesia minhota. Lisboa: Dom Quixote.
Cruz, Maria Antonieta (1987): “Agruras dos emigrantes portugueses no Brasil.” in Revista de História, vol. 07.  p. 7-134
Pereira, Miriam Halpern (1981): A Política portuguesa de Emigração (1850-1930). Lisboa: A Regra do Jogo.
Serrão, Joel (1982): A emigração portuguesa. Lisboa: Livros Horizonte.
Fontes:

Arquivo Distrital de Viseu: Livros de Registo de Passaporte (1856 – 1887)

A CIDADE DE PORTA FECHADA

ANTÓNIO FERNANDES
Fecharam a porta da cidade. 

Rumaram estrada fora. Sem destino. Sem vontade. Em busca de uma outra cidade que mesmo não sendo resplandecente, como "pintam" a minha em qualquer meio que sirva para publicitar uma mensagem, acolha com o carinho que a minha cidade não dispensa aos demais concidadãos, salvo uma minoria instalada em uma espécie de corrente onde se agregam interesses, influências, amizades, servidão, cumplicidades e outros motivos de beneficio individual numa lógica de serviço replicado em contrapartidas de "gratidão".

Fecharam a porta da cidade que dizem de "porta aberta" porque a vida que nela fervilhava já não existe. Os seus dias são monótonos e as noites escuras.

As ruinas dão-lhe um aspeto tenebroso. 
As praças vazias, um "ar" de tristeza. As ruas e avenidas sem pessoas a sorrir, mostram a evidencia de tudo aquilo que é evidente. 
A cidade parou!
Parou no tempo. 

Num tempo em que as praças eram "regeneradas"; 
as atividades económicas lutavam contra a concorrencia desregrada; 
as obras publicas eram questionadas; 
Havia "casos";
E tudo o mais que era motivo de concordia e de discordia acesa;
Nesse tempo, a "porta aberta" permitia-se questionar e dizer.

Neste tempo... de "porta fechada" ao pensamento livre a que só a Cultura abre horizontes, teve de "fechar a porta" por inexistencia de motivo cultural em favor de folias sem fuliões e de ruido sonoro sem acorde musical, restando aos que ajuizam a cultura como alimento da alma e do Ser, rumar a outra cidade que os acolha e deixe respirar, cultura!

Fechada esta porta, a da Cultura, ficam fechadas todas as outras portas conducentes ao desenvolvimento do conhecimento nos dominios de que a cidade necessita.
O resto é propaganda e pretensão com "laivo de esquizofrenia" de percecão de que há o que de facto não há!

Uma porta aberta num local onde não existe porta nenhuma...

O VALOR DA VIDA HUMANA



ANTONIETA DIAS
Quando penso no valor da vida humana cujo bem e inestimável não consigo entender os fenómenos que levam a sua destruição. 

O valor da grandeza e do quanto é preciosa a vida humana torna-a sagrada e inviolável em todas as suas fases e situações.

Cabe a Deus e não ao Homem decidir quando e como ela irá terminar.
A Bíblia refere que Deus e o único Senhor da vida e da morte.

Não pertence ao Homem apropriar-se da vida e da morte e assumir ou determinar o seu destino.
João Paulo II descreveu" A vida do Homem provém de Deus, e dom seu, e imagem e figura dele, participação do seu sopro vital. Desta vida, portanto Deus e o único Senhor: o homem não pode dispor dela. "

A única forma de preservar o direito à vida e mantê-la na mão de Deus.
Respeitar e tratar o ser humano desde a concepção representa um princípio universal e fundamental cujo direito e fundamento traduz o amor pela origem da vida. 

Não é uma questão filosófica, não é uma questão política, muito menos uma tentativa de resolver a carência da inoperabilidade e da sustentabilidade de um sistema que tenta arranjar soluções injustificaveis através de métodos que visam alienar a vida. 

O risco e a ignorância de transferir para o Homem os destinos da vida conduziria a liberdade humana a cálculos e previsões matemáticas frias, muitas vezes cruéis, desprovidas de sentimentos onde a "escolha "não dependeria do amor pelo Homem.

Se é verdade que a luz se desenvolve pelo saber, esquecer esta realidade é negar o sustento da vida. 
A nossa vida tem alma necessita de verdade, de princípios, de conexões, de influências, de inteligência, de energia positiva e sobretudo de compreensão e ideias que transformem a beleza da vida humana na obra prima cuja beleza traduz maravilha, arte e técnica criadora demasiado perfeita para pertencer a uma sociedade determinista que se abstém do poder Divino. 

Sendo a inquietação imperfeita dos homens com ideias feitas que tentam reger o mundo, cuja realidade se afasta de forma clara de Deus, mais complexa e apreensiva se torna ainda a ideia de que o nosso poder pode ultrapassar os valores e a preservação da vida humana.

Importa, ainda referir, que não existem determinações para as pessoas cuja existência não se baseia em ideias abstratas, desprovidas de lógica, de sentimentos, de representações dinâmicas onde o Ser é composto de corpo e alma cujos princípios e fins não podem ser aparentes, irreais, disfarçados e muito menos escondidos. 

Não é, portanto, a escolha voluntária de quem não teve o privilégio de aceder à luz que tem a possibilidade, mesmo que seja consentida de transformar a essência Divina, no limite temporal da qualidade da nossa representação ou imaginação de simples seres humanos.

Mesmo que tentemos passar a mensagem de que o que deixamos não nos faz sofrer e que a nossa vivência se baseia na dor da saúde que nos falta não nos podemos esquecer que não nos foi transferido o poder de decidir sobre contra a vontade do Deus Criador.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

RAP DA MENTE ROBUSTO

DUARTE NUNO VASCONCELOS

BASTA fazer clique
estalo serial
online estou VIP?
Em terra virtual!

BASTA fingir tiques
importar na vida
salvar contradiques?
Volta à partida!

BESTA abrange muitos
na "net" uma vastidão
em parte são gratuitos?
Vetar a escuridão!

BESTA inanimada
ou arma medieval
esta não há quadrada?
Mascara o carnaval!

BISTA panorâmica
de "bértice" obtuso
o "b" é um problema?
Bebe baba de luso!

BISTA tem pronúncia
no Norte o destaque
falar é ciência?
Deriva do sotaque!

BOSTA ou excremento
matéria em abstrato
depende do momento?
Obrar artes a jacto!

BOSTA encurralada
site de fumo branco
acesso à morada?
Saldo no multibanco

BUSTO insatisfeito
és cultura sem braços
é tudo menos peito?
Pariu-se em pedaços!

BUSTO sem um plano
fica algemado
voo desumano?
Solta um recado!

Com o AR, BUSTO necessita da BOSTA para dar na BISTA
antes que BESTA desbaste o robusto embuste linguista.

A MULHER DE LIVRE PENSAMENTO

CRÓNICA DE MANUELA VIERA DA SILVA


«(...) A felicidade é um contínuo evoluir do desejo, de um objecto a outro; o atingir de um objectivo é, desde logo, o caminho para o próximo. A causa disto é que o objectivo do desejo humano não é ser feliz apenas uma vez, e por um instante; mas assegurar para sempre o caminho do seu desejo futuro.» Hobbes

As pessoas livres de pensamento, que não se subjugam a qualquer tipo de ditadura, procuram apoiar as suas convicções de liberdade, justiça, igualdade onde se sentem melhor, para aí ganharem as forças necessárias e hercúleas numa luta imparável e quase cega, a fim de manter a visão clara e não contaminada das ciladas psicológicas e emocionais quando a acção sopra a chamada.

Um dia tive a ousadia de responder ao meu pai que devia ter nascido homem, quando ele me perguntou porque é que eu trabalhava tanto, e não ter tempo para o ir visitar mais vezes. Entendia que uma mulher deveria ter uma vida calma, sobretudo ligada à casa, e não a viver sempre agitada, sem horários nem fins-de-semana. Como trabalhadora independente a trabalhar numa assoalhada da residência, transformada em escritório, por mais disciplina que tivesse, a tentação era despachar o trabalho pendente antes de chegar um novo, e só me predispunha a sair à rua quando tinha mesmo de sair, fosse pelo trabalho ou por assuntos domésticos.

Compreendi a mensagem do meu pai, mas penso que ele não compreendeu a minha. Poucos homens compreendem esta secreta e profunda vontade da mulher de ser independente e autodeterminada. É difícil e penoso conciliar o trabalho, as lides domésticas e dar apoio à família. Mais difícil se torna quando a mulher tem de se afirmar no trabalho onde tanto os preconceitos como os assédios continuam ainda a ser visíveis. Um homem, por ser homem é livre, casado ou não. É uma liberdade instituída, enraizada. (Não gosto particularmente de chamar machista, talvez pela carga de agressividade que a palavra contém, que me faz lembrar as lutas dos machos no reino animal. O curioso é que estas lutas nos animais são quase sempre entre machos e raramente entre machos e fêmeas.) A sociedade aceita, é tradição. Quanto à mulher, a situação é confusa actualmente. Parece estar numa fase de transição. Apesar de a «revolução sexual» no Ocidente ter começado nos anos 60 do século passado, em Portugal apenas começou nos anos 80. Porque será que Portugal tem de estar atrasado em tudo 20 anos em relação ao resto da Europa? 

Escolhi uma profissão (revisora editorial) para que a pudesse exercer em casa, exactamente para que, quando o marido chegasse do emprego, deixasse de haver discussões porque o jantar não estava ainda pronto. Mas a maioria das mulheres trabalha fora, passa horas nos transportes, faz o horário do emprego, às vezes horas extraordinárias, chega exausta a casa e ainda tem as lides domésticas para cumprir. 

Trabalho desde os 14 anos, com um percurso intermitente nos estudos. Terminados aqueles com sucesso, fui melhorando com o tempo no tipo de empregos, até me decidir a aventurar-me a trabalhar por conta própria. Ensinaram-me em casa que quem não trabalha não come. Os irmãos mais velhos, a trabalhar, tinham de entregar o ordenado aos pais para ajudar a alimentar os irmãos mais novos. Impossível, na minha visão, viver sem trabalhar. (Pudesse eu chegar à idade de uma suposta reforma para poder ler todos os livros que ainda não li, mas até esse prazer penso que me vão retirar.) Se calhar é por isso que a sorte foge aos pobres, vivendo sempre preocupados com o dia de amanhã.

Não é o dinheiro que tiro do trabalho o mais importante, é a auto-realização, o sentimento de ser útil à sociedade, e a mim própria através do que me proporciona o dinheiro, não ficando dependente do marido para comprar umas meias. É a concretização do dever de ser responsável por mim mesma, em toda a dimensão humana, que me traz a alegria de viver numa abertura de espírito condutora de paz interior, na satisfação de coisas simples e básicas, que, por sua vez, disponibilizam uma abertura do pensamento e do olhar numa outra perspectiva –­ todo o manancial lúdico e natural que está ao meu dispor e me aguarda: música, leitura, cinema, natureza, arte… 

Fico perplexa ao ver as notícias sobre a crescente violência doméstica que continua a aumentar diariamente. Tomara que fosse apenas porque essas mulheres (vítimas de violência) se tivessem tornado independentes e, pensando de forma ingénua e simplista, que os maridos não tivessem suportado a «concorrência». Pode ser, adicionando o facto de que a mulher está a aprender a ser livre, não o sendo ainda. Falta estabilizar as forças, por um lado, a do homem, que tem de aprender a conhecer a mulher, de olhar para ela como um ser igual a ele, com as mesmas necessidades e anseios, por outro, a da mulher, que tem de aprender a ser feminina e activa, com o recato a que se deve dar, não querendo substituir-se ao homem. «Todos iguais – todos diferentes» é um slogan que se encaixa muito bem nesta área também. A aceitação no respeito por si próprio e pelo outro.

Ambos precisam de se afirmar perante o amor que os une, e não perante o ordenado que recebem. 

Ambos precisam de respirar o mesmo amor que os envolve, e não respirar tanto os amigos que atrapalham esse amor. 

Ambos precisam de sentir uma auréola de harmonia e de paz, e não sentir as vibrações de emoções alheias que fazem desviar o caminho de um projecto de vida a dois. 

Vencer na vida não é o sucesso visível na aparência material, é a plena alegria na realização da paz e serenidade do crepúsculo do sol e no descanso do luar. Saber dosear a luz e a sombra, a alegria e a melancolia, o riso e a lágrima, fazer da finitude da vida o infinito numa flor.


   

DIFERENÇA ENTRE POLITICA e POLITIQUITICE

JOÃO RAMOS
Os últimos dias tem sido particularmente activos do ponto de vista politico, com o lançamento da autobiografia de Cavaco Silva e com o permanente escrutínio ao ministro das finanças em relação a declaração de rendimentos de António Domingues. Quanto à obra do anterior presidente da república é um ajuste de contas “baixo” para com o engenheiro e ex primeiro-ministro José Sócrates. Ao estilo das revistas cor-de-rosa, ficamos a conhecer o teor das conversas realizadas em Belém e da forma como Cavaco Silva tremeu quando foi levantada a hipótese de liderar um eventual governo de iniciativa presidencial. No fundo o livro acaba por retractar mais do mesmo, ou seja, um homem omnisciente, capaz de prever os maiores desastres e de não evitar nenhum deles. Em relação à questão da declaração de rendimentos António Domingues, não passa de um assunto trivial, sem consequências viseis para o dia-a-dia dos cidadãos nacionais, até porque a pessoa em causa já não irá liderar os destinos da CGD. Enquanto a imprensa portuguesa e sobretudo os partidos políticos se desgastam com assuntos triviais, são ignorados importantes notícias vindas do exterior, como as garantias do BCE da continuação do programa de compra de divida pública, o que confere um enorme “balão de oxigénio” à economia nacional. São igualmente dados dignos de nota, o cumprimento e os elogios de Bruxelas quanto ao crescimento do PIB e cumprimento das metas orçamentais, assim como a redução da divida externa e o equilíbrio da balança corrente de serviços e capitais.

Neste sentido, um sistema politico responsável deveria estar a debater os principais desafios que o país enfrenta no contexto externo, as necessidades de investimento e a reestruturação das dívidas das empresas públicas, com especial destaque para o sector dos transportes colectivos. Pelo contrário, entre tricas e mexericos, os nossos políticos entretém se com assuntos menores, que servem na íntegra para aquelas penosas encenações na assembleia da república e nas comissões de inquérito.

ALI VAI O HOMEM… DE GUIMARÃES!

JOAQUIM DA SILVA GOMES
Apesar de próximos, as relações de boa vizinhança nem sempre existiram entre os concelhos de Braga e Guimarães. Um dos momentos em que atingiu um clima de grande tensão social ocorreu no dia 28 de novembro de 1885. 

Tudo se desencadeou quando foi apresentada à Junta Geral do Distrito de Braga a proposta de criação das cadeiras complementares do Curso de Ciências no Liceu de Braga. Esta questão mereceu a discordância dos procuradores de Guimarães (Luís Costa - Conde de Margaride; José Montenegro e Joaquim Meira) que se encontravam aí representados e que, desta forma, evitaram que fosse votado esse projeto. Esta posição originou enormes conflitos em Braga. 

Assim, na Associação Comercial de Braga, reuniram-se um conjunto de personalidades, lideradas por Manuel Cândido Loureiro, em cuja sessão ficou decidido solicitar aos procuradores da Junta Geral do Distrito de Braga a votação do referido projeto. Terminada essa sessão, a multidão aí concentrada, composta maioritariamente por estudantes, resolveu percorrer as ruas da cidade, com uma banda filarmónica à frente. Dirigiram-se depois para o Hotel Real, onde se encontrava hospedado o presidente da Junta Geral, no sentido deste colocar à votação o referido projeto, na sessão da Junta, que se realizaria no dia seguinte (sábado, 29 de novembro). 

Em torno deste entusiasmo, ocorreu um episódio que acabaria por marcar de forma tensa as relações entre Braga e Guimarães: no meio de uma multidão, de mais de duas mil pessoas, ouviu-se um grito de “Ali vai o homem”, referindo-se a um procurador de Guimarães, contrário ao projeto, e que acabava de sair do Governo Civil. A multidão depressa se dirigiu para ele, que mal teve tempo de se colocar na sua carruagem e sair disparado na direção de Guimarães. Pela então Rua das Águas, a carruagem do procurador vimaranense desceu a toda a velocidade, sob os apupos da multidão. Entretanto, não faltou quem lhe atirasse pedras, ovos e até martelos, sapatos e panelas velhas! 

Mal souberam do sucedido, reuniu-se em Guimarães uma multidão, convocada, entre outros, pelo visconde de Lindoso, visconde de Santa Luzia e barão de Pombeiro, cujo objetivo era responder aos protestos ocorridos em Braga. De imediato surgiu uma proposta radical: separar o concelho de Guimarães do distrito de Braga e criar o distrito de Guimarães, ou anexar Guimarães ao distrito do Porto! Ficou ainda decidido criar um jornal intitulado, precisamente, “28 de novembro”, data dos graves acontecimentos ocorridos em Braga. Contudo, a ideia da desanexação de Guimarães do distrito de Braga já tinha surgido cinco anos antes em Guimarães, numa reunião da Associação Comercial, realizada no dia 31 de outubro de 1880.

Outra das figuras que, do lado de Guimarães, se destacou nas manifestações contra Braga, foi o célebre Martins Sarmento!

Em Braga ironizou-se, dizendo que Guimarães poderia “constituir um estado, com o seu Paço sem bispo, palácio sem rei, ponte sem rio, e gente sem lei”! (1) 

Já em Guimarães dizia-se: “Deus nos livre”, de Braga!

Quando se pensava que as relações entre Braga e Guimarães iriam acalmar com o Natal e o início de um novo ano verificou-se o contrário, transferindo esta questão para o plano nacional. Isto porque o deputado João Franco Castello-Branco apresentou um projeto de lei no qual solicitava a desanexação do concelho de Guimarães do distrito de Braga.

A Câmara Municipal de Braga reuniu-se algumas vezes, decidindo numa dessas sessões (de 14 de janeiro de 1886) proceder a uma auscultação aos “cavalheiros que representam os differentes partidos na localidade e bem assim o presidente da Associação Commercial, Associação de Artistas, os Directores de Bancos e Companhias e os deputados do Districto que se acharem em Braga”. De seguida, foi enviada uma exposição ao Governo.

No dia 16 de janeiro de 1886 realizou-se uma reunião extraordinária da Câmara Municipal de Braga, para a qual havia sido solicitada a “coadjuvação de toda a imprensa da localidade”. Nesta sessão marcaram presença, de facto, todos os redatores dos jornais da região e ainda os correspondentes de Braga para as diversas “folhas do país”. 

O tema prendia-se com a desanexação do concelho de Guimarães do distrito de Braga facto que, a ser levado por diante, representava um “attentado contra os princípios da Administração, era hum afronte á dignidade (…) d’esta cidade e de todo o Districto”. 

As agitações que ocorreram em Braga e Guimarães foram aproveitadas de forma sublime pela oposição e estiveram na origem da queda do governo do conhecido Fontes Pereira de Melo, a 20 de fevereiro de 1886!

1) jornal “O Commercio do Minho”

DESMISTIFICANDO MITOS NA HIPNOTERAPIA

Quando ouvimos falar de Hipnoterapia, automaticamente, surge-nos pré-conceitos negativos associados a esta terapia. Isso acontece porque existe uma ideia errónea do que é realmente a Hipnoterapia e de que forma atua. 

Mais do que definir o que é esta terapia, já esclarecida numa crónica anterior, é importante desmitificar todos os mitos que lhe estão associados. 

A palavra Hipnoterapia, remete-nos imediatamente para um conjunto de pré-conceitos que posso garantir: são todos falsos. Esta crónica tem como objetivo desmistificar aqueles mitos mais enraizados e de que “todos” falam quando introduzo este tema. 

Afinal, será que uma pessoa pode passar pelo processo de hipnose sem a sua permissão? De facto, é preciso que haja concordância do sujeito para que o fenómeno aconteça. Isto porque o indivíduo em transe não perde a consciência, nem o seu livre arbítrio. O que acontece neste estado, é que o paciente se foca mais no seu mundo interior, composto por crenças, valores e emoções, em detrimento da consciência periférica. Assim sendo, o paciente NÃO passa pelo processo se não o permitir. 

Outro mito curioso é o seguinte: Durante a hipnose a pessoa perde a lucidez ou a consciência? O transe é simplesmente um estado de profundo relaxamento onde o paciente mantém sempre a lucidez e a consciência. Inclusivamente durante a consulta/ processo, ouvem outras pessoas a passar nos corredores nas clínicas onde trabalho e outros ruídos provenientes do prédio. Aquilo que se observa é que existe um aumento da concentração e da capacidade indutiva no indivíduo. Esta atenção focada é direcionada para um trabalho psicológico e psicoterapêutico de acordo com o problema do paciente. 

Um mito muito comum, é que as pessoas pensam que estar em hipnose é como estar a dormir. A hipnose não é sono. Os registos de EEG provam que os padrões eletroencefalográficos são completamente distintos do dito sono biológico. Embora existem algumas semelhanças, o transe é um estágio anterior ao sono. 

Por vezes, alguns pacientes referem no final da consulta, que eu não consegui fazer terapia porque não ficaram inconscientes. Naturalmente, esta é uma ideia completamente errónea e sem fundamento. 

Por fim, é importante consciencializar as pessoas para o facto de ser importante estudar uma determinada área antes de se formar uma ideia baseada em pré-conceitos.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

AINDA O ACORDO ORTOGRÁFICO

ANABELA BORGES
Ainda o Acordo Ortográfico de 1990.
Há dias, tropecei na palavra “espetro”. Fiquei pasmada, metida em cismas, perante o que supunha ser mais um erro de ortografia. Logo fui ver – que é como quem diz, fui procurar nos dicionários –, gosto sempre de estar o mais certa possível no que toca às palavras. Num e noutro dicionário, a palavra apareceu – “espetro”. Não queria acreditar. Apareceu: “dupla grafia pelo Acordo Ortográfico de 1990: espetro ou espectro. (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa online); Apareceu: “também se pode escrever espetro (https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa); Apareceu: “grafia em Portugal: espetro (Dicionário Priberam, aplicação para smartphone). E por aí fora, foi um ver-se-te-avias de dupla grafia, um fartote, uma barrigada.
Uma palavra que em Inglês se diz “spectrum/spectre”, em francês “spectre”, em Espanhol “espectro”, em Alemão “spektrum”, em Finlandês “spektri”, pergunto eu, sendo uma palavra que deriva do Latim spectru, como é que alguém consegue pronunciar “espêtro”? (porque não sendo colocado o C, é o que está lá escrito). E como é que essas pessoas pronunciam a palavra “espectral”? E “espectrometria”?

Fiquei ensombrada pelo vulto, a sombra, o espectro da palavra “espetro”. E essa visão há-de perseguir-me até ao fim dos meus dias. O espectro dessa e de outras aberrações da designada “nova ortografia”.
Porque…
- NADA PARA PORTUGAL.
Nada? Nadinha? Tudo para onde, então?
Não. Nada para Portugal. Para de parar.
Para quê? Que confusão!; …
- Redige a ata.
Credo! Desata!; …
- No ato de escrever.
Desato! Acto contínuo, desato a fugir!; …
- Foram afetados por um forte vírus.
Coitados… devem estar cheios de aftas.; …
- As arquitetas fizeram um trabalho fenomenal.
Como assim, “arquitêtas”?; …
- A s’tora é minha percetora e protetora.
Uau! Tudo palavras que rimam com professora!; …
- Afinal estás inativo ou está no ativo?
Não entendo o que me estás a perguntar, mas continuo a ser nativo.; …

E por aí fora.
Esta ortografia tem gerado tantas confusões, que forçosa e tristemente a Língua Portuguesa está mais pobre.
A joia está mais pobre – perdeu o acento; a jiboia, mais fraca; a claraboia, prestes a partir-se; e a boia está furada.
Muitos querem dizer que o espectador é um “espetador”, alguém que espeta coisas – dizem: “a atualidade comentada pelos espetadores”. Ora bolas para tanta brutalidade com a Língua!

Eu não aceito que a Língua seja forçada a mudar por decreto algum!
Deixemos a Língua respirar. Deixemos que evolua por ela, sem pressões. 
Já pararam realmente para pensar: o que é que andamos a fazer à Língua Portuguesa?
A Língua Portuguesa está descaraCterizada, a perder identidade de dia para dia.
A minha pátria é a Língua Portuguesa”; “Da minha Língua vê-se o mar”. Estas duas expressões, respectivamente de Fernando Pessoa e Vergílio Ferreira, dizem muito sobre identidade. Cada país deve, por isso, manter a sua identidade na Língua, deste e dos outros lados do mar.