quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O NOVO ANO E A ORDEM MUNDIAL

RUI SANTOS
O ano de 2016 está prestes a findar. Para muitos foi mau. Para outros, pelo contrário, foi bom. Opiniões. Não gosto de olhar para trás, mas sim de olhar em frente, para o futuro. Como tal, nesta última crónica de 2016, vou abordar um pouco o que nos espera em 2017 em termos de política mundial.

Começo pelos Estados Unidos da América (EUA). Porquê? Porque a super-potência mundial vai ter um novo presidente no mês de Janeiro. A posse do cargo por parte de Donald Trump está marcada para o dia 20 do próximo mês. Depois da vitória republicana, muitos analistas consideraram que o Trump-presidente seria diferente do Trump-candidato. Creio que em algumas coisas poderemos esperar de Trump uma posição mais ponderada, nomeadamente na relação com a Europa e na questão do fundamentalismo islâmico. O presidente eleito norte-americano já percebeu que não pode chegar à UE e ditar as suas leis, que não é concebível a saída dos EUA da NATO, e que para resolver o fundamentalismo é preciso muito mais do que intervenções militares. Não acredito em Trump. Acho que vai ser um mau presidente mas foi o presidente que o povo dos EUA escolheu e temos que respeitar a sua opção. Chama-se a isso «saber viver em democracia».

No que respeita à Europa, o «Velho Continente» vai continuar a atravessar momentos que poderão complicar o seu futuro. Em 2017 teremos eleições na Alemanha, França e Holanda. Para bem da Europa, desejo que Angela Merkel ganhe na Alemanha e não tenho dúvidas que é isso que irá acontecer. Para bem da Alemanha e da Europa. Não se vislumbra um outro líder político europeu que possa conduzir a Europa nestes tempos conturbados. Não deixa de ser curioso que a própria UE não tenha criado uma liderança capaz de ser suficientemente forte para tomar as rédeas do destino dos europeus. Esse papel é pertença de Merkel. Na França, Marine Le Pen ganhará a primeira volta das eleições e, felizmente, perderá na segunda ronda. A lógica do «todos contra a Frente Nacional», acredito eu, prevalecerá nos franceses que anseiam por um novo presidente depois do equivoco socialista chamado François Hollande. No país das tulipas e dos moinhos, a Holanda, as sondagens dão uma subida da extrema-direita. É algo habitual na Holanda em tempos mais conturbados, mas também é verdade que essas sondagens muitas vezes acabam por não se refletir nas urnas. Contudo, são sinais preocupantes. Se Geert Wilders tiver uma boa votação, o contágio poderá acontecer a outros países europeus. Por falar em contágio, os italianos parecem querer seguir a pisadas dos britânicos em termos de abandono do projecto europeu iniciado no pós-II Guerra Mundial. 2017 vai ser um ano interessante para se saber como vai arrancar o Brexit (até Março) e se o Movimento 5 Estrelas vai ser governo em Itália e arrastar consigo aquele país para a deriva populista.

No leste europeu não se adivinha nada de novo. O fundamentalismo cristão a alimentar políticas populistas, o medo a ser acenado a quem o não deve ter. Como se já não bastasse o que se vive na Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia, também a Roménia dá mostras de ter a intolerância bem implantada junto de quem governa. Recentemente, o presidente do país, Klaus Iohannis, não aceitou o nome de Sevil Shhaideh para o cargo de primeiro-ministro. Embora não tenha dado qualquer explicação, o facto de Shhaideh ser mulher e muçulmana não deverá ser alheio a tal atitude por parte do presidente romeno. A UE tem de olhar para os países da Europa de Leste de um modo especial e não creio que isso vá acontecer durante o próximo ano. O risco de desagregação da UE é enorme caso isso não seja feito de modo gradual e com muita diplomacia. Não se deve dar azo a que os países do leste europeu possam argumentar, ainda mais do que já fazem, contra a ingerência da UE nas políticas internas dos diversos Estados.

A Rússia continuará em 2017 a relançar a sua influência em termos geoestratégicos. Impedir que países da sua órbita de influência adiram à NATO continuará a ser uma prioridade, tal como será o aumento da sua influência na Síria. As relações com a Turquia serão determinantes para toda aquela zona do globo. Um desastre diplomático, ou militar, poderá conduzir a uma escalada de violência ainda maior que a actual naquela parte do planeta, isto numa altura em que os valores democráticos estão cada vez mais arredados do governo de Erdogan. O mundo continuará a tolerar o seu governo pois a alternativa será o caminho da Turquia rumo a um Estado islâmico.

O ano de 2017 será um ano igualmente importante para a relação da China com os EUA. A luta por uma maior área marítima a sul da Ásia, a construção de instalações militares em ilhas artificiais para reclamar maior controle sobre o Mar do Sul da China e a forma como o governo chinês irá lidar com a nova Administração norte-americana serão determinantes para o equilíbrio de forças na região da Ásia/Pacífico.

África continuará a ser um continente adiado, um continente composto maioritariamente por Estados falhados. Depois do colonialismo, as oligarquias, as ditaduras e o fundamentalismo islâmico continuarão a ser a regra. O conceito de democracia é distorcido, ou ignorado, pelos africanos. Vai levar décadas até que África se aproxime minimamente dos padrões de vida ocidentais.

Finalmente, a América do Sul. Brasil e Venezuela são os casos mais preocupantes e que estarão na ordem do dia durante o próximo ano. No Brasil, a corrupção é transversal a todo o sistema político e social. Podem mudar os nomes mas não a forma de actuar. Enquanto não forem feitas reformas de fundo no Estado federal tudo se manterá. Depois do desvario dos governos de Lula da Sila e de Dilma Rousseff temos agora o desvario de Michel Temer e seus acólitos. Um país onde o desenvolvimento vive a par da mais absoluta miséria. Um «next big thing» eternamente adiado. Interessante será ver como se comportará a Venezuela depois do desnorte do «chavismo» e do «madurismo». Até quando os venezuelanos conseguirão aguentar e se a sua revolta será pacífica, ou não, é uma das interrogações para o próximo ano. O desespero entre a população é já elevado há muito tempo. A Venezuela é um barril de pólvora prestes a explodir e cuja consequência é difícil de prever, sobretudo quando Cuba, um dos maiores aliados dos venezuelanos, caminha numa direcção oposta.

Certamente que durante o ano de 2017 irei abordar estes temas em pormenor. Não sei se 2017 será melhor que 2016. O que sei é que o Mundo não vive tempos de esperança. Lutemos, em nome do Humanismo, para que tal rumo se inverta.

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