sexta-feira, 21 de outubro de 2016

INTERVENÇÃO EM TERAPIA OCUPACIONAL

"O processo de intervenção consiste num conjunto de acções que são desenvolvidas pelos terapeutas, com a colaboração da pessoa idosa, com o objectivo de facilitar o envolvimento nas ocupações relacionadas com a saúde e participação."

GABRIELA CARVALHO
Na crónica de hoje e após reinicio de estágios curriculares na instituição onde trabalho, pensei em reflectir na escrita (numa continuidade à crónica n.º 4 de 09.09.2016) o que tanto tento traduzir em linguagem audível para todos aqueles a quem transmito aquilo que sei ser e fazer…

O terapeuta após a avaliação e identificação das necessidades funcionais do idoso faz a indicação, a orientação e a adaptação das actividades que devem ser desenvolvidas. É imprescindível o conhecimento da fisiologia do envelhecimento, das deteriorações ligadas à saúde do idoso, para desta forma, serem respeitados e considerados aspectos importantes que interferem no desempenho funcional.

Baseado na recolha de dados na avaliação funcional do idoso, o terapeuta vai elaborar o plano de intervenção procurando estabelecer formas de adaptação, ajudar na procura de prioridades, na selecção e no desenvolvimento de competências para a realização de actividades básicas e instrumentais de vida diária, permitindo-lhe uma vida mais independente, com autonomia (sempre que possível), motivação, auto-estima e bem – estar quer para o idoso quer para os familiares/cuidadores.

O processo de tratamento visa estimular as funções preservadas e desenvolver mecanismos compensatórios para as funções alteradas, procurando manter, restabelecer e/ou melhorar o desempenho funcional e prevenir ou retardar o declínio funcional. Um trabalho importante é trabalhar a partir das competências remanescentes, incentivando-o a envolver-se e a participar nas actividades básicas e instrumentais da vida diária e das actividades de lazer, procurando sempre que possível melhorar e/ou aumentar a sua independência.

A intervenção terapêutica ocupacional baseia-se na utilização de exercícios e actividades terapêuticas e nos processos de adaptação. Deve-se encorajar a realização de actividades, uma vez que tem efeitos muito positivos na vida dos idosos que estão bem e vivem na comunidade e também na vida dos que estão mais dependentes e que vivem em instituições.

A intervenção terapêutica ocupacional é um processo desenvolvido de forma individualizada.
As actividades são indicadas pelo terapeuta ou escolhidas pelos idosos a partir das suas necessidades, a sua história de vida, e são direccionadas para um objectivo específico, dependendo da sua gravidade da sua saúde.

Um aspecto importante é que as actividades realizadas devem ter significado para os idosos, ou seja, que se relacionem com os seus interesses e com a sua realidade socioeconómica e cultural.
Embora as actividades tenham um carácter individualizado, o atendimento pode ocorrer individualmente ou em grupo. A intervenção nas actividades básicas de vida diária ocorre individualmente dada a natureza pessoal dessas actividades, por exemplo, higiene pessoal, a alimentação, vestuário.

O plano pressupõe sempre reabilitação quer física quer psicológica e social.

A adaptação de técnicas para a realização das actividades referidas acima alimentação, vestuário, higiene) apresenta diferentes enfoques, pois está dependente da incapacidade em questão.
Em relação às actividades instrumentais de vida diária estas podem ser abordadas em grupo, por exemplo o grupo de suporte emocional, momento em que os idosos podem partilhar as suas experiências, actividades e resolução de problemas com outras pessoas da sua idade e ainda discutir informações importantes tendo sempre como objectivo manter e/ou aumentar a sua autonomia e a sua independência, (como temos vindo a falar ao longo deste manual), sempre que é possível.
Outras actividades importantes são as sessões de memória, importantes na estimulação/ reabilitação cognitiva dos idosos. Incluem-se ainda na abordagem grupal as actividades de lazer.
A manutenção destas actividades é importantíssima pois permite uma vivência intergeracional, o exercício físico, a comunicação e o divertimento e modificam o comportamento.
Existem alguns procedimentos que devem ser adoptados quando realizamos atendimentos individuais ou em grupo e que procuram facilitar a realização de actividades e visam aumentar o envolvimento e a participação do idoso no processo de tratamento.
Relativamente ao envolvimento e participação, por vezes, não é tarefa fácil, pois evidenciam resistência mas com alguma capacidade do terapeuta consegue-se.

Os procedimentos são os seguintes de acordo com Barreto et. al. (2006):
1. Estabelecer uma rotina de actividades que contribua para a sua organização
2. Facilitar a comunicação
3. Promover relações interpessoais.

Estes procedimentos assumem diferentes dimensões, pois dependem do local onde o tratamento está a ser realizado (hospital, domicílio do idoso, instituições de longa permanência, …) e da situação de saúde do idoso, daí serem considerados com atenção pelo terapeuta pois podem ser importantes ao longo do processo terapêutico ocupacional.

Existem imensas probabilidades de adaptação ambiental, mas estas devem sempre responder às necessidades específicas de cada idoso, tendo em conta que o grau de dependência pode apresentar diferentes níveis de complexidade, variando de uma dependência mínima à necessidade total de apoio para a sua sobrevivência.

Seguidamente, apresenta-se o processo de intervenção terapêutico ocupacional direccionado para o planeamento e a adaptação do ambiente. Como já foi referido a intervenção no ambiente inclui a orientação dos idosos, dos familiares/cuidadores para a prevenção de acidentes. Quanto aos idosos como já dissemos devem ser orientados em relação às actividades que apresentem riscos como por exemplo as escadas, entre outros.

Quanto aos cuidadores e/ou familiares, estes devem ser orientados em relação à prestação de cuidados no dia-a-dia. Pode-se dar orientações da forma mais adequada e segura para prestar os cuidados, exemplo, apoio na mobilidade, na alimentação, entre outros. Um papel importante é o promover o aumento da iniciativa do idoso, para que este apresente um aumento da auto-estima e independência.

Ciclo para a Intervenção Terapêutica Ocupacional no domicílio e/ou na instituição – Barreto et al., 2006:

1. Estabelecimento do vínculo
2. A avaliação (funcional /ambiente)
3. Discussão com os actores (idoso, familiar, equipa de profissionais)
4. Eleição de prioridades
5. Planeamento da intervenção (que pode ser a curto, a médio e/ou a longo prazo)
6. Intervenção Ambiental
7. Orientação e treino das AVDs e AIVDs no “novo” ambiente (incluindo o uso dos equipamentos de auto-ajuda)
8. Monitorização do caso
9. Novas avaliações sistémicas

“Mais do que acrescentar anos à vida, a Terapia Ocupacional acrescenta vida aos anos.”


Referências Bibliográficas:

- Ferreira, O. G. L., Maciel, S. C., Silva, A. O., Santos, W. S. d., & Moreira, M. A. S. P. (2010). Envelhecimento activo sob o olhar de idosos funcionalmente independentes. Esc Enferm USP, 44 (4), 1065-1069.
- Ferreira, O. G. L., Maciel, S. C., Costa, S. M. G., Silva, A. O., & Moreira, M. A. S. P. (2012). Envelhecimento ativo e sua relação com independência funcional. Contexto Enfermagem, 21(3),513-518.
- Ribeiro, O., C. Paúl (2011). Manual de Envelhecimento Activo. Lisboa, Lidel - edições técnicas, lda.
- Sequeira, C. (2010). Cuidar de idosos com dependência física e mental. Lisboa, Lidel – edições técnicas, lda.

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