terça-feira, 4 de outubro de 2016

EMPRESAS (PER)DIDAS?

RUI CANOSSA
O leitor pode achar estranho o título deste artigo. E tem razão. Hoje vou falar de um assunto que, infelizmente, cada vez mais empresas enfrentam. A insolvência e a falência.

Em 2012, são lançados em Portugal dois mecanismos de apoio à recuperação das empresas: PER – Processo Especial de Revitalização e o SIREVE – Sistema de Recuperação de Empresas por Sistema Extrajudicial. O primeiro, o mais conhecido, foi criado para permitir que as empresas em insolvência iminente, mas possíveis de recuperar, estabeleçam negociações com os credores para a revitalização, evitando o estigma da insolvência, o segundo para simplificar a negociação extrajudicial com os credores.

O PER, que dá sentido ao título deste artigo, é tutelado pelo Ministério da Justiça contabiliza 2962 processos entre 2012 e 2015. Até março deste ano, deram entrada 653 novos PER. O SIREVE, da tutela do Ministério da Economia, conta com 431 processos negociais concluídos. Ambos os sistemas servem como um ganhar de tempo porque permite às empresas negociarem com os credores um plano de pagamentos durante pelo menos seis meses. Permitindo suspender quaisquer ações para cobrança de dívidas. Olhando para o copo meio cheio houve 50.5% de empresas com PER que foram bem sucedidas. As outras acabaram com declaração de insolvência.

Mas afinal qual é a raiz dos problemas? São vários os problemas, quer internos, quer externos à própria organização. Entre os mais comuns estão uma gestão deficiente, a desadequação do controlo financeiro, um nível de custos elevado, o foco na faturação e não na rendibilidade, a incapacidade de responder ao mercado, a desadequação da política financeira ou uma estrutura de capital deficiente, a assunção de riscos ou projetos que em caso de fracasso colocam em causa e própria sobrevivência da empresa. Além de fatores externos, como alterações repentinas nos padrões de consumo do público-alvo do negócio ou impactos adversos no mercado das matérias-primas, como a escassez ou alteração repentina dos custos. Não havendo curas milagrosas, parece mais ou menos óbvio que adequar a estrutura da empresa – capitais, meios humanos, produção e distribuição – ao mercado que serve é, a regra mais básica num processo de recuperação. Há muito mais do que a negociação da dívida num processo de revitalização.

Acabo este artigo para lembrar que o papel do líder, do gestor que conduz o processo de recuperação, é determinante. Muitas vezes até a escolha do próprio líder se torna determinante e difícil, como por exemplo, mudar de uma gestão familiar para uma gestão mais profissional.

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