segunda-feira, 22 de agosto de 2016

PRECONCEITOS À PARTE

CATARINA RITO
O talento é uma ferramenta inata que tem de ser valorizada e nunca reprimida. A moda em Portugal tem ainda um longo caminho a percorrer, evitar juízos de valor ocos, aprender a enaltecer o que de melhor se faz neste sector e não ter receio de defender ideias e conceitos, independentemente das simpatias e antipatias.

Uma das primeiras coisas que aprendi quando comecei a trabalhar na área da moda, como jornalista que estava a adquirir conhecimento sobre a matéria em questão, foi a reconhecer o talento e dedicação de muitas pessoas que se empenham diariamente na valorização do seu projecto. Entre muitos, conheci o costureiro João Rôlo, há muito ignorado pelo ‘metier’ da moda nacional, mas que há 31 anos trabalha, aperfeiçoa e luta por um lugar meritório no universo da moda interna e externa. Quando se é jornalista, nesta área ou em sectores artísticos (de visão subjectiva), é importante perceber a diferença entre o gosto pessoal e o gosto profissional. Quero com isto dizer que posso não gostar do estilo e/ou conceito de um determinado criador de moda, mas devo reconhecer (ou não) o seu talento, o seu percurso, o seu trabalho. No caso do João Rôlo o respeito entre ambos foi imediato. Nem sempre aprecio as ideias deste profissional de excelência, no entanto, reconheço a exigência, o talento, a qualidade e a perseverança, razōes mais do que suficientes para merecer o reconhecimento do público em geral. 

COLEÇÃO «MONTE CARLO»
JOÃO ROLO
Como humanos que somos, todos temos o direito de gostar ou não desta ou daquela pessoa, deste ou daquele trabalho, mas devemos ser superiores a ideias preconcebidas, a opiniões mesquinhas e validar a nossa opinião através do conhecimento directo com o objecto de estudo/análise. Confuso? Simples de explicar, como profissional devo evitar formatar a minha opinião com base no que oiço, porque se quero ser profissional e objectiva tenho de absorver a informação vinda da fonte. I.e., se escrevo sobre uma determinada coleção de vestuário devo ver o desfile ou as imagens para poder construir uma ideia fundamentada.

Neste mundo fascinante que é a moda, digo-o com honestidade, a pequena percentagem de sorte que acompanha quem se aventura nesta área por vezes acaba por ser valorizada pelos motivos errados. Quantas vezes lemos noticias sobre este ou aquele designer de moda que é considerado o génio do momento e não percebemos muito bem porquê. A melhor forma de perceber determinados fenómenos é estudá-los, criar uma determinada distancia sobre o objeto de estudo e tentar compreender os sinais subjacentes. 

Sei que esta minha crónica pode parecer confusa ou estranha, mas o que se pretende é começar a chamar a atenção para uma reestruturação de pensamento, favorecer o crescimento intelectual versus a mentalidade provinciana, muito comum no nosso país, através da procura da sabedoria quer nesta área quer em qualquer outra que integra a nossa sociedade. Acredito que seremos muito mais felizes e bem sucedidos.

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