quarta-feira, 3 de agosto de 2016

CGD: PARA ONDE FOI O DINHEIRO

“Neste e noutros negócios ruinosos as sucessivas administrações da Caixa queimaram muitos milhões de euros ao erário público, sem que ninguém aparentemente seja responsabilizado. Daí que, entre 2007 e 2016 o Estado (todos nós), injetou só na Caixa Geral de Depósitos 8600 mil milhões de euros, faltando saber os custos que terá esta nova recapitalização, falando-se em valores a rondar os 3500 mil milhões de euros”

MIGUEL TEIXEIRA
No dia 4 de Janeiro de 2008 pelas nove horas e dois minutos da manhã o Jornal “Público” fez publicar no seu site uma notícia com o título “Joe Berardo e aliados compraram ações do BCP com crédito da Caixa Geral de Depósitos”. Na mesma notícia referia-se que Joe Berardo, a família Moniz da Maia (Sogema), Manuel Fino, Pedro Teixeira Duarte e José Goes Ferreira receberam crédito da CGD para comprarem acções do BCP, o que lhes tem permitido ter uma palavra a dizer nos destinos do maior banco português.
Em causa estão operações de financiamento que, só no primeiro semestre de 2007, totalizaram mais de 500 milhões de euros, e serviram para adquirir o equivalente a cerca de cinco por cento do capital do BCP por um total de 22 accionistas, mediante recurso a financiamento da CGD. A garantia destes financiamentos, avançava o “Público” é feita em primeira linha pelos títulos adquiridos, Estas operações (…) foram autorizadas pelo Conselho Alargado de Crédito da Caixa formado por cinco administradores: Carlos Santos Ferreira, o então CEO, o seu vice, Maldonado Gonelha, Armando Vara, Celeste Cardona e Francisco Bandeira”. A forma como esta história acabou é conhecida de todos os portugueses, com o banco público a perder grande parte dos 500 milhões de euros, por força da queda vertiginosa das ações, entretanto, verificada no BCP.

Como refere a economista Cristina Semblano “o crédito a Joe Berardo para aquisição de acções no BCP, “garantido” pelas ações a cuja aquisição se destinava), não tem nada a ver com a realização de uma missão de serviço público” a que o banco em teoria está obrigado e digo eu, é um “caso de polícia”, o mesmo sucedendo com o financiamento do empreendimento de luxo do Vale de Lobo por parte da administração da Caixa ou o crédito ao GES numa altura em que já se sabia dos problemas graves das empresas do Grupo e da dívida acumulada destas ao BES o qual havia deixado de as poder financiar por falta de acesso aos mercados. Nestes como noutros casos há uma deficiente análise de risco e a insuficiência das garantias. A juntar a estes casos registe-se a “aventura imobiliária” em Espanha na gestão de Faria de Oliveira, numa altura em que a “bolha imobiliária” no país vizinho estava prestes a rebentar. Os resultados são prejuízos se contabilizam entre 800 e 1000 milhões de euros para a Caixa Geral de Depósitos.

Neste e noutros negócios ruinosos as sucessivas administrações da Caixa queimaram milhões de euros ao erário público, sem que ninguém aparentemente seja responsabilizado. Daí que, entre 2007 e 2016 o Estado (ou seja, todos nós), injetou na Caixa Geral de Depósitos 8600 mil milhões de euros, faltando saber os custos que terá esta nova recapitalização, falando-se em valores a rondar os 3500 mil milhões de euros.

Se considerarmos ainda que segundo a Direção Geral da Concorrência da Comissão Europeia, entre 2008 e 2014 (já inclui BES) foram disponibilizados em Portugal 86 mil milhões de euros de ajudas públicas a bancos (entre medidas de recapitalização, assunção de créditos em incumprimento dos bancos, linhas de crédito de último recurso disponibilizadas pelos bancos centrais e garantias prestadas aos bancos para as operações de financiamento) e que destes apoios, resultou uma fatura efetiva de cerca de 19,5 mil milhões de euros para o Estado português (já a contar com o empréstimo ao Fundo de Resolução de 3,9 mil milhões, mas sem contar ainda com o impacto Banif cuja factura deve ascender a 2.930 mil milhões de euros), facilmente concluiremos que o sistema financeiro nacional tem vivido uma situação de “fartar vilanagem”, e impunidade “empurrando para baixo o país” e “cortando” futuro às novas gerações de portugueses.

A "narrativa oficial" de alguns comentadores é ainda, "a de que os portugueses vivem acima das suas possibilidades", quando quem "gozou" impunemente foram os banqueiros, com nítido prejuízo para o Estado. Embora considere que a recapitalização da Caixa pode ser positiva na perspetiva de apoiar as pequenas e médias empresas e “insuflar” a “anémica” economia nacional, considero sobretudo que a presente Comissão parlamentar de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos será oportuna se permitir revelar aos portugueses, onde e como os responsáveis do banco público geriram o dinheiro do Estado e dos depositantes.



Infelizmente e para azar do povo português, não saímos disto e mais uma vez seremos chamados a pagar as... "patifarias do sistema financeiro", sendo que, os governos, independentemente da cor política, não podem fechar os olhos e adiar os problemas do sistema financeiro, como o fez o anterior. A experiência tem revelado, que ao invés de agir sobre a resolução dos problemas da banca, os governos têm assumido uma atitude reativa , aconteceu com BPN, BPP, BES e BANIF. Tem dado um péssimo resultado, com todos os contribuintes a serem chamados a "tapar buracos" e cobrir as "ignomínias" bancárias.ipatifarias do sistema financeiro, sendo que os governos independentemente da cor política não podem fechar os olhos e adiar os problemas do sistema financeiro como fez o anterior. A experiência tem revelado que ao invés de agir sobre a resolução dos problemas da banca, os sucessivos governos têm assumido uma atitude reativa, como aconteceu com BPN, BPP, BES, Banif. Tem dado um péssimo resultado, com todos os contribuintes a serem chamados a tapar buracos e a cobrir as “ignomínias bancárias”.

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