terça-feira, 28 de junho de 2016

O PODER DA UNIÃO

REGINA SARDOEIRA
Gostava de escrever sobre uniões. União. A União Europeia. 

Começando pelo princípio, reflectirei sobre o que a palavra união me faz sentir. E, pelo sentimento, posso bem chegar à compreensão. 

Unir é ampliar e também reforçar. Não necessitamos de ir muito longe para percebermos que, ao unirmos seja o que for, estamos a permitir-lhe que aumente. Uma corda, por exemplo: podemos sempre uni-la a outra corda, com um nó de tal maneira bem executado que passe despercebido e contudo mantenha os dois pedaços ligados, como se fossem um só. Uma casa é construída na e pela união de materiais, cuja coesão permite que as paredes se mantenham firmes, que o chão seja o suporte necessário dos passos de quem vai habitá-la, que os alicerces prendam a construção à terra e o telhado cubra o edifício, permitindo-lhe ser o que é: um abrigo sólido e confortável, apto a ser habitado. 

Imaginemos, contudo, que ligamos uma corda forte a outra menos resistente ou que não dedicamos cuidado suficiente na união das partes. Sem dúvida, a corda, deste modo aumentada, acabará cedendo, provocando muitos contratempos a quem acreditou na sua coesão. E uma casa, cujos materiais não estejam devidamente amalgamados, uma casa a que faltem as necessárias componentes de uma construção, não poderá cumprir, a curto ou a médio prazo, a sua função e vacilará, pondo em risco os habitantes. 

A Europa é hoje uma entidade que assenta na união de 28 países que partilham a mesma moeda, que aboliram as fronteiras, permitindo a livre circulação, que celebraram tratados entre si, que resolvem variadas questões de carácter politico, económico, financeiro, entre outras. Existe um parlamento europeu, uma comissão europeia, um tribunal europeu e outros organismos capazes de darem à união o seu verdadeiro estatuto. E, apesar de cada país manter a sua língua, o seu governo, a sua identidade de nação, o que resulta desta união tem transformado os europeus ao longo dos anos.

Formalmente, trata-se de uma união. Formalmente, somos todos estados-membros de uma mesma estrutura. Formalmente somos todos - franceses, espanhóis, húngaros, portugueses, italianos, etc. - cidadãos equiparados em direitos, deveres, prosperidade e tudo o mais que nos permite a identificação de europeus. 

No entanto, esta união feita de países fortes e fracos (e, por mais que pense, apenas percebo ser o factor económico a estabelecer esta dicotomia) não anulou as condições em desvantagem, não permitiu que os países se nivelassem, continua a ser geradora de diferenças, em lugar de caminhar, cada vez mais, para a equidade. 

Logo, e atendendo às premissas que permitem compreender o sentido de qualquer união, a designada união europeia é uma grande fraude, no contexto da qual, certos membros mantêm a supremacia, sobrepondo -se aos outros (e, o que é pior, reforçando a sua vantagem à custa dos mais desfavorecidos). 

Não quero deter-me nos meandros políticos, económicos e financeiros desta união porque, efectivamente, tornaram-se muito ínvios e logo difíceis de analisar. Mas, do ponto de vista humano - e é isso que, de facto, importa - percebo, à saciedade que nada de muito salutar tem resultado, para nós, deste estado de coisas. 

Somos um país pequeno, se atentarmos à dimensão territorial. Isso faz de nós, necessariamente, pobres? De modo nenhum. Basta um lançar de olhos sobre os recursos deste país, tão limitado em termos de espaço, mas tão diversificado quanto às suas potencialidades, para compreendermos que herdamos de outros tempos o sentimento de inferioridade que nada parece poder derimir. Essa inferioridade, já constitucional, impede-nos de lançar mãos à obra e fazer render os nossos múltiplos talentos. Que vêm da terra, do mar e também das pessoas. 

Somos mais de dez milhões de indivíduos a constituir este povo, com uma história de quase 900 anos e importantes odisseias épicas, desde D. Afonso Henriques até aos Descobrimentos. Ressuscitamos de um longo obscurantismo em 1974, protagonizando o renascer de uma identidade amordaçada. Temos a riqueza do solo, a abundância do mar, a força e a inteligência das pessoas. Estamos tão à frente quanto todos esses que se dizem superiores e nos ignoram ou espezinham; e estamos, com todos eles, numa união de povos. 

Quando faremos jus ao nosso verdadeiro carácter? Quando olharemos para tudo o que somos, dentro e fora de nós, e tomamos a decisão de criar o nosso verdadeiro destino? 

Pela parte que me toca, e enquanto portuguesa, não aceito nenhum estatuto de inferioridade, venha ele de onde vier.

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