sábado, 14 de maio de 2016

VIAGEM GASTRONÓMICA ENTRE O DOURO E TRÁS-OS-MONTES

CRÓNICA DE ANTÓNIO REIS
(PÃO TRANSMONTANO)  
Viajamos até à pacata aldeia da Foz do Sabor, concelho de Torre de Moncorvo, mesmo ali ao lado da margem direita do Douro, onde a água do Sabor se dilui no segundo maior rio de Portugal. Encontramos três casas típicas locais onde poderíamos degustar os melhores produtos colhidos, produzidos ou criados nas águas gélidas e tépidas do rio Sabor. Ficamo-nos pela casa gastronómica que nos pareceu de maior oferta a quem visita a aldeia fundada em finais do século XV, no auge do período em que Portugal estava apostado nos descobrimentos marítimos. Aldeia que cresceu com a necessidade de mão-de-obra para fazer embarcar o cânhamo produzido no Vale da Vilariça com a finalidade do fabrico de cabos para as naus que navegaram para o indico ou para a outra costa do Atlântico.

Entramos no amplo espaço circundante à “Casa Gastronómica Primavera”. As frondosas árvores protegem o estacionamento dos raios de sol e grupos de amigos que por ali vão ocupando as mesas em momentos de lazer. Os visitantes que vêm de caravana ficam logo à entrada em lugar reservado para o efeito.


Fomos recebidos por Armando Pereira, homem que na sua personalidade vincada não consegue esconder a sua origem transmontana, responsável pelo espaço onde se podem degustar o que de melhor há naquela mini-região do Vale Vilariça. Logo perguntou se queríamos provar uns peixinhos do rio e onde queríamos ficar: “na esplanada ou na sala de jantar”? Sala de refeições restaurada em local que outrora foi cavalariça,
transformada num aconchegante espaço para refeições. Optamos por ficar na esplanada para apreciar a paisagem e dai poderíamos observar quem procurava aquele espaço gastronómico naquela tarde em que o sol de primavera aquecia. Também porque estávamos mais perto da cozinha. Uma simpática funcionária de trajes transmontanos trouxe um típico cesto de pão regional, uma salada de tomate à moda do campo e ficamos à espera do peixe. Armando Pereira abordou-nos a sugerir um vinho da casa. Provamos. Rapidamente constatamos que não era aquilo que queríamos, devido ao teor alcoólico que nos deixava algumas dúvidas quanto à originalidade. Numa sugestão mais equilibrada, optamos pelo vinho “perdigota 2007” das Caves do Pocinho.

Os tão afamados peixes do rio, acabados de sair da frigideira, foram colocados na mesa pela afável e simpática funcionária. Era uma espécie autóctone: bogas. Armando Pereira justificou que no estabelecimento dele não entram espécies exóticas, ou melhor introduzidas. “Faço um grande esforço para manter a qualidade. Desde que construíram as barragens no rio Sabor tenho de encomendar os peixes a um pescador de Remondes, Mogadouro. “ Garantiu. O preço por pessoa ronda os €10.

Não se trata de um espaço de restauração com requinte, mas sim de uma total pureza pessoal e gastronomia regional, que só as gentes da terra sabem preparar. Será que o segredo está na erva “peixeira” (Mentha cervina)? Difícil será encontrar sabor idêntico às delícias deste vale encantado, entre duas placas tectónicas que de quando em vez fazem tremer as casas do Vale da Vilariça e saltar os peixes do rio quando se chocam lá nas profundezas da terra.

Vinho “Perdigota” tinto

Um vinho do Douro Superior, sub-região demarcada desde finais do século XIX, no tempo de Dª Antónia Adelaide Ferreira, mais conhecida por “Ferreirinha”, por um preço apelativo. Cor rubi, concentrado e intenso, ligeiras nuances mais granada e violáceos no bordo do copo. No aroma há muita especiaria, fruta vermelha madura, um pouco escondida no conjunto, toque floral e tostados presentes. Na boca a experiência melhora. Taninos macios, embora um pouco verdes. A fruta aparece novamente escondida de inicio, mas vai abrindo com o tempo. A sensação alcoólica não é tão evidente e há melhoras com o tempo de abertura e com a conjugação gastronómica, bem temperada. Preço: 4,99€, venda ao público.

Administrador das Caves do Pocinho - José Carlos da Silva Dias

Perdigota 

Tipo: Vinho Tinto 
Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Franca 
Região: Douro Superior
Teor Alcoólico: 14,5%
Produtor: Caves da Quinta do Pocinho, Unip., Lda 

Endereço: R. da Estação 29 – Pocinho - Vila Nova de Foz Côa

Telemóvel:279 765 192



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