sábado, 1 de agosto de 2015

HAJA PEDALADA!

JORGE NUNO
Portugal aparece na linha da frente dos países europeus, juntamente com a Suécia, Letónia, Finlândia e Áustria, no que toca a energia elétrica produzida por fontes renováveis, amigas do ambiente. Está mesmo a ter um papel importante a nível mundial, como exemplo positivo, devido às políticas de implementação de energias renováveis, permitindo evitar, só em 2014, a emissão de 26 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), que representaria cerca de 40% do total das emissões de gases de efeito de estufa neste país. Deste modo, deu o seu contributo no combate ao aquecimento global, tendo presente as metas do Protocolo de Quioto e os compromissos políticos e climáticos assumidos, a necessidade interna de reduzir a fatura nacional das importações dos combustíveis fósseis (caso do carvão, petróleo e gás natural, os quais têm muito peso no desequilíbrio da balança comercial com o exterior), e conferir ao país maior independência económica e alguma recuperação económica.

Portugal foi mesmo pioneiro mundial no recurso à “energia das ondas”, fazendo o aproveitamento da energia cinética resultante da movimentação da água do mar, sendo a densidade energética das ondas do mar “10 vezes mais alta do que a energia eólica e 100 vezes mais alta do que a radiação solar”. O primeiro a ser criado – o parque das ondas da Aguçadoura (Póvoa do Varzim) –, tem capacidade para abastecer energia elétrica a 15.000 famílias; o segundo – a cinco milhas da costa, ao largo da praia da Almagreira (Peniche) –, após “testes com grande sucesso”, segundo o presidente executivo da empresa finlandesa AW Energy (que investiu neste projeto), tem exploração comercial prevista a partir de 2016 e poderá abastecer 5.500 famílias. 

A Quercus – Associação Nacional da Conservação da Natureza (uma ONG) e a APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis, depois de terem analisado dados da REN – Redes Energéticas Nacionais relacionados com a produção de eletricidade nesse mesmo ano, concluíram que “foi o ano mais renovável”, devido ao recorde de produção de eletricidade através destas fontes, “permitindo poupanças de 1.565 milhões de euros: 1.500 milhões na importação de gás natural e carvão e 65 milhões em licenças de emissão de CO2”.

Não esqueçamos que, mesmo assim, os processos que levam à exploração destas energias alternativas também têm custos ambientais e sociais, além de elevados custos de implementação dos projetos, que deveriam ser imputados exclusivamente aos investidores e não aos contribuintes.

Há indicadores oficiais que apontam, em 2014, que “a eletricidade obtida a partir de fontes renováveis foi responsável por 62,7% do total energia elétrica consumida, representando um aumento de 6% em relação ao ano anterior”. Como os portugueses têm tendência para desconfiar e estão sempre de pé atrás… com a curiosidade que me carateriza, fui consultar, aleatoriamente, uma fatura de eletricidade de 2014 (calhou setembro na “rifa”) e verifiquei o seguinte, relacionado com as fontes de energia: só a energia eólica representava 53%, a hídrica 12,6% e outras fontes renováveis 10%, o que totaliza 75,6% – representando, neste mês, ainda mais 12,9% do que os valores oficiais indicados como média anual –, o que me deixou agradado quanto ao aproveitamento deste tipo de energias. Procurei explicações para esta diferença e verifiquei que, em 2014, terá sido um ano: mais húmido (em 27%, face à média de anos anteriores), possibilitando melhor aproveitamento da energia hídrica; mais favorável em termos de vento; em que terá havido um aumento de 31% na capacidade instalada para a obtenção de energia fotovoltaica.

O presidente da APREN, referindo-se a 2014, salientou que “o facto de quase dois terços da eletricidade consumida ser de origem renovável possibilitou estabilizar o preço deste bem".

Se é verdade que, na UE, estamos na linha da frente no que toca ao aproveitamento das energias renováveis, também é verdade que:

1 – Portugal tem a terceira pior prestação (0,7%) no que respeita ao uso de energias provenientes de fontes renováveis nos transportes, só ultrapassado pela Estónia (0,2%) e Espanha (0,4%) e muito aquém do objetivo de 10% para 2020”, segundo dados estatísticos oficiais da UE. [Obs.: Não tenho a pretensão de conhecer, em pormenor, a realidade dos transportes urbanos de todos os concelhos do país, mas agrada-me saber da sensibilidade de alguns autarcas (cujas autarquias assumem a função social de assegurar transporte público aos seus munícipes) levando a uma progressiva substituição da frota, movida a gasóleo, por outra com uso de combustíveis menos onerosos e mais amigos do ambiente, de que se destaca a energia elétrica];

2 – Portugal tem o segundo preço mais caro da eletricidade para utilizadores domésticos (por kwh), a seguir à Alemanha, no conjunto dos 28 países da EU, segundo dados recentes do Eurostat. [Obs.: Dei-me ao cuidado de pegar nessa tal fatura aleatória e verifiquei que nela está refletido um acréscimo de 45,2% sobre o custo do consumo de eletricidade medido, onde surge a contribuição audiovisual, imposto especial sobre consumo de eletricidade, potência contratada, taxa de exploração DGEG e IVA (a 23%), o que fará com que tenhamos a energia mais cara da UE].

À partida, parece um contrassenso termos um dos maiores rácios na utilização das energias renováveis face ao total das fontes de energia e, ao mesmo tempo, o custo mais elevado da eletricidade entre estados-membros da EU, sendo este mais um obstáculo à competitividade e ao desenvolvimento da atividade económica do país.

Até se conseguir um desanuviamento deste constrangimento – que asfixia famílias e empresas –, fica a recente promessa governamental: “1.200 veículos elétricos a ser integrados na frota do Estado, até 2020, de acordo com o programa Eco-Mob” (a partir de agora, mas dependente de fundos para avançar e de quem vier a ganhar as próximas eleições legislativas); criação de parques de estacionamento de bicicletas para funcionários públicos, medida anunciada que já deu aso a ridicularizações do gesto, por parte dos sindicatos, e indignação, por parte de funcionários públicos. Valha-nos as bicicletas disponibilizadas aos munícipes e visitantes, por parte de algumas autarquias, sem custos para o utilizador e com todas as vantagens que isso implica, enquanto o bom tempo o permitir, pois é um saudável transporte alternativo aos veículos motorizados.

Haja pedalada, para inovar e aguentar a caminhada! 

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