segunda-feira, 24 de agosto de 2015

FAÇA SOL...

CLARA CORREIA 
Não raras vezes no pino do Verão, em Agosto, um amigo meu que vive em Sintra, artilha-se com indumentária de Inverno para ir, tão só, passear o cão à noite; quem por lá mora ou quem conhece os caprichos meteorológicos da espécie de micro-clima sintrense não estranhará. Um destes dias, neste mesmo mês de Agosto, gracejei com ele mais o seu blusão de penas e gorro, dizendo-lhe que, dessa forma estaria a fazer um estágio térmico que lhe seria útil daqui a três meses, no máximo … quando estivéssemos quase no pico do Inverno. De imediato, estaquei mentalmente com a espontânea retrospectiva mental desde o final da última estação fria até ao presente avançado estival, constatando o ápice que me parecera este pedaço de ano. Se o Tempo é, realmente, psicológico (e é-o, sobretudo), não há, certamente, época do ano mais a mando da psicologia do Tempo do que esta … ilusoriamente, de muito tempo diário de sol e tempo, a saber sempre a pouco, de lazer e, eventualmente, tempo para algum afazer adiado para as almejadas férias de Verão.

“O que é bom, passa depressa” é uma das incontestáveis verdades universais … deste universo sazonal de veraneio e de qualquer outro universo que nos envolva e nos extraia, sem que o possamos controlar, as nossas melhores emoções. “O tempo, ainda que os relógios queiram convencer-nos do contrário, não é o mesmo para toda a gente.”, afirmou José Saramago numa das suas obras … outra verdade acerca do ditador a cuja tirania, embora ninguém escapando, é acrescentada a arbitrariedade da subjectividade, a única forma de condescendência que o Tempo tem para connosco, à sua mercê relativamente apenas se o fizermos ser o que fizermos dele. Só assim, pois! Só assim podemos viver conscientes da dádiva do “agora”, na medida em que, como consta ter dito Fellini, “ … a morte se esconde nos relógios.”, faça chuva ou faça sol, seja Inverno ou Verão, este ou outro … a que o Tempo nos conceda o privilégio de assistir.

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