sexta-feira, 19 de junho de 2015

SESSENTA MILHÕES?!

GABRIEL VILAS BOAS
Sessenta milhões?! Quando li, precisei de ler novamente, de digerir devagar, porque o número impressionava! Sessenta milhões de pessoas procuravam refúgio noutros países, porque, nas suas terras, são perseguidas, por causa da religião, da raça, da guerra e, sobretudo, da fome. 

Homens, mulheres, crianças, velhos. Gente desnutrida, doente, descalça, esfomeada faz centenas de quilómetros na busca dum oásis de esperança, entre balas, tanques, ódios animalescos dos senhores alucinados da guerra.

Só nos últimos quatros anos, os refugiados em todo o mundo cresceram cerca de 40%. Passamos a reparar nos sírios, nos iraquianos, nos afegãos como gente de mão estendida à caridade internacional, que demora, que se faz desentendida, que quer negociar… Mesmo depois de toda a tragédia que se passou nos últimos meses no mediterrâneo, com os migrantes que chegam a Itália como náufragos, a Europa rica, desumana e hipócrita hesita, pede dinheiro, impõe restrições à chegada desta gente desesperada, que perdeu quase tudo e tenta apenas sobreviver. 

Passos Coelho declarou que o dinheiro proposto para acolher cada migrante é pouco; os ingleses já disseram que ajudam com roupa, comida e algum dinheiro, mas não têm intenções de acolher ninguém; os franceses, todos eles Charlie Hebdo, só entendem a solidariedade no sentido que lhes interessa; os alemães já avisaram os italianos que estão a ser demasiado complacentes na entrada dos migrantes do outro lado do mediterrâneo e que sendo assim, têm muita pena, mas Schengen está em risco. Que gente abominável!

Louvo a atitude fraterna, humana, solidária dos italianos que recolhem todos, mesmo sem grandes condições. Louvo-os porque dizem ao resto da europa que já não têm mais lugar para os clandestino que chegam às suas praias e não àqueles que chegam com a roupa do próprio corpo como único património. 

Esta gente foge porque há loucos como o Estado Islâmico; foge porque há mais gente no mundo com fome do que a comer o necessário para subsistir; foge porque a europa rica e hipócrita apoiou ou pactuou com regimes desumanos e assassinos como os de Bashar al-Assad, durante muito tempo.

Os refugiados precisam de muito mais do que um alto comissário das Nações Unidas, por muito que a ação de António Guterres tenha sido meritória e esforçada. Guterres fez alguma coisa, mas claramente foi insuficiente. Angelina Jolie foi mais mediática, mais dura com os mais poderosos, mais incisiva e, sobretudo, deu o exemplo, a nível pessoal. 

A questão dos refugiados não é só um problema daquela gente desesperada, mas de todos nós, que ainda presamos a nossa consciência e o nosso sentido de humanidade. Exige respostas rápidas, mas também ações de fundo, pensadas para uma década, para que aquele número assustador diminua drasticamente. 

Se não fizermos nada, também nós afundaremos no nosso mediterrâneo de egoísmo, hipocrisia e desumanidade.

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