segunda-feira, 15 de junho de 2015

IDADE "INACTIVA"

CLARA CORREIA
Com quantas idades se compõe uma vida? … e em quantas idades se divide uma existência no dito “seio familiar” ou na perspectiva nacional económica (ou economicista)? Quantas fases etárias são precisas para compor o conjunto de tábuas com que cada um tem, sem excepção e sem opção, de construir a canoa que o levará pelo rio da sua vida? … da nascente à foz?.

“Primeira infância”, “adolescência”, “maturidade”, “meia idade”, “idade activa” (como se a condição etária humana apenas fosse activada e validada pela “serventia laboral”), “terceira idade” e, designação menos conhecida e mais recente, a “quarta idade” (justificada pelo aumento da esperança de vida) … expressões que rotulam cada ciclo etário e o colocam no seu compartimento, consoante o departamento que a cada um é destinado pela Psicologia, pela Demografia, pela Economia, pela Medicina. Cada fase ou idade como um estágio para a que, previsivelmente, se seguirá; pelo menos é o que se nos é exigido por todos, pelos “nossos” (os ditos “entes queridos”) e pelos outros (ditos “os estranhos”). E quando o rio da vida desagua? … e se torna mais ameno, um merecido manto de mel a mitigar as menos fáceis experiências de uma vida quase na totalidade vivida? … as mazelas do desgaste físico (e, às vezes, mental) de uma idade que já vai em mais de “meia”, não amainam a mão nem a maldade dos que, a maioria das vezes em cobarde segredo, matam a menor esperança de digno sossego de alguém (muitos “alguém”) na dita “terceira idade” (ou “quarta”). Nunca, assim, a palavra “Lar” repugnou tanto, seja como refúgio de violência familiar/doméstica, seja enquanto reduto do desprezo a que são votados os designados “idosos” menos afortunados pela ausência de saúde e de condigna pensão de reforma! Até quando a ausência de acção contra a aflição na “idade inactiva”?

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