quinta-feira, 2 de abril de 2015

JESUS NA TERRA DESTERRADO

HÉLDER BARROS
Corria o mês de março de 2015 e Deus na sua infinita sabedoria, quis testar na carne, como anda o Seu projeto terreno: o Homem. Nesse sentido, enviou novamente Jesus à terra, disfarçado de homem, para sentir na pele o que é viver neste mundo dos humanos.

Apareceu na terra, desta vez como um motoqueiro numa potente moto Harley Davidson, aparecendo misteriosamente e de forma inopinada no deserto de Mojave e foi em direção à mítica estrada Route 66, nos Estados Unidos da América. Jesus seguiu em direção a leste rumo a Chicago e passou por Oklahoma, Missouri, Illinois e por todos esses sitios viu gente jovem imersa no Mundo da droga, do álcool, do jogo e da prostituição. Jesus usava cabelo comprido e apanhado, botas e blusão de couro, calças de ganga rotas e deslavadas, para ter um enquadramento normal, equipando a rigor, com o perfil do personagem que compõe esta epifania.

Nessa estrada dos Homens tão mágica e mítica para eles, pelos bares de estrada e em cada Motel em que foi parando, Jesus só encontrou montes de gente com medo de viver, alienados da realidade e com vontade de ir aos limites da sanidade mental, vivendo como se não houvesse amanhã. Mais um sintoma de uma geração sem esperança: se vivermos tudo o que pudermos hoje pensando não haver amanhã, a esperança dá lugar à alienação e à loucura. Uma sociedade que não projeta no presente, um amanhã que há-de vir, melhor; não pode ter futuro... ou por outra, prepara pouco um futuro melhor!

Jesus, no entanto, sabe bem que o Seu Pai, na oportunidade que deu ao homem de poder viver no caminho do Bem, ou no caminho do mal, em total liberdade, só mediada pela sua consciência, e que, na sua sabedoria divina e infinita, estava ciente do perigo de perder muitas almas para o Diabo, pois o ambiente terreno seria, para muitos, um constrangimento à escolha do caminho do Bem, que dá sempre mais trabalho; fazer o Bem implica mais empenho e menos visibilidade, embora confira uma enorme paz interior a quem o pratica. A compensação não é imediata, o retorno não é material, mas sim espiritual.

Desta forma, para Jesus, o muito que constatou de falta de valores, de amor ao próximo, foi de certa forma compensado, com as poucas Almas incorruptíveis e que se dedicam ao Bem comum que viu. Assim, nessas cidades do pecado, assistiu a gente que trabalhava de dia e que andava de noite, voluntariamente, a matar a fome e a aconchegar com cobertores, pessoas abandonadas, os sem abrigo, alguns, por vontade própria, os que desistiram de viver neste Mundo louco e se desprenderam de tudo o que os possa ligar à dita civilização atual; outros, porque são dependentes de algum aditivo, drogas, álcool, jogo, prostituição, etc.

No meio da selva humana das cidades norte americanas, de Albuquerque até Chicago, Jesus encontrou muito mais pecado do que virtude, é um facto, mas as poucas Almas que no meio desta miríade de pessoas que endeusam o demo, há sempre seres humanos maravilhosos, fora de série, que o interpelaram sobremaneira. Em Chicago avista um aglomerado de pessoas e de carros parados no meio da ponte, Michigan Bridge, onde se destaca um homem que se prepara para se suicidar, pois, embora o tabuleiro seja baixo, o homem teima em se atirar para as águas com duas ou três pessoas a tentar demove-lo, estando as restantes a fazer vídeos e a fotografar o pobre homem... eis assim um retrato da nossa cruel sociedade, que vive da imagem e das redes sociais; mas há pelo menos três seres humanos focados em salvar o homem, menos mal.

Num dos muitos cafés de Chicago, Jesus escuta dois homens de meia idade que criticavam a juventude que, segundo eles, abdicou da religião. Claro que era uma conversa que lhe interessava e continuou a ouvir a argumentação de ambos. Um, era claramente anticlerical, mas elogiava Francisco I que apesar de tudo, segundo ele, veio trazer uma lufada de ar fresco à Igreja Católica, na sua atitude de abertura e de diálogo com outros credos e a sua postura moderna e pouco convencional. O outro, católico praticante, temia que Francisco I fosse o último Papa, pois ouvira alguém na televisão a citar umas profecias que referiam isso e que viriam aí tempos de grandes catástrofes, até ao momento final de vida na terra, que seria nos próximos tempos. Desta forma, Jesus, pode concluir que o homem sem clero, conseguia ter mais senso, que o católico, o que nem é coisa rara, cá na terra.

Outra coisa que interpelou Jesus, ao analisar o dia a dia dos homens nas grandes cidades americanas, tem a ver com a glorificação e endeusamento do Deus Dinheiro. Se há coisa que faz correr o homem da cidade é o dinheiro e o status que este confere. Trata-se de uma obsessão que leva o homem fazer tudo por dinheiro, esquecendo-se de si mesmo, rolando num ritmo que é o das máquinas e que o torna doente e esquecido de si mesmo, da sua condição humana.

Jesus chega a Chicago por alturas da Páscoa, um período de celebração da Paixão de Cristo e Sexta-feira Santa, torna-se um bom dia para desaparecer dos Homens e do seu mundo diabólico. Não terá que levar um relatório descritivo da sua experiência terrena, como os homens costumam elaborar. Esta epifania também não se constituiu como um capricho de Deus, que ama os homens e que, também por isso, lhes conferiu a liberdade de escolha, num contexto propício ao pecado, ao erro, à ilusão de ser Deus na terra. Apesar dos homens estarem num grande processo de corrupção de valores, de terem transformado o planeta azul, num sítio fisicamente ácido, poluído e desordenado, Deus está sempre presente em muitos que resistem a esta onde de destruição demoníaca. Se o Planeta entrar em debacle ambiental, não será por ação de Deus, mas por malefício dos homens. E sempre que o homem preferir o caminho do mal, Deus nunca o obrigará a seguir outro, apenas a sua consciência o pode interpelar. E se a consciência dos homens falir, Deus só poderá observar, pois só o homem, na posse do seu foral de liberdade, se poderá salvar... se o quiser, claro está!

Jesus é que, mais uma vez, enquanto costela humana de Deus, enformado no corpo de Cristo, se sentiu mal entre os homens... de Deus! E assim a Páscoa dos homens se vai cumprindo...

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