segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

CRÓNICA DE UMA DEPRESSÃO: O ESTIGMA SOCIAL

PEDRO RIBEIRO
Com a produção da minha autobiografia “A Vida depois da Morte”, e posterior edição, que trouxe ao público um relato da minha história pessoal autodestrutiva, pude constatar duas coisas: existem cada vez mais pessoas com sintomas de depressão, e com depressão; e a grande maioria não tem “coragem” de o admitir e procurar ajuda.

Isto reporta-me para um facto social, cada vez mais evidente, que deriva de vários factores, os quais não sou a pessoa indicada para enumerar e explicar, mas que a depressão está a aumentar entre a população, isso posso concluir.

A criação de uma página oficial do livro nas redes sociais veio-me trazer algo que eu nunca imaginaria ser possível! A procura de ajuda por parte de terceiros.
A quantidade de pessoas que me procuram, numa tentativa de procurar apoio, ajuda, conselhos, é abismal. 

E não só na página oficial do livro, também pessoas minhas conhecidas me procuram. 

Parece, portanto, que de alguma forma tenho um dever social perante estas pessoas que me procuram.

Como eu próprio lhes digo, eu não tenho a cura para nada. Apenas tenho a minha experiência, que por acaso resultou em livro, e me levou até essas pessoas, que comigo partilham sentimentos que ninguém mais consegue entender, relacionar-se.
O estado mais crítico de uma depressão é quando o suicídio entra nas nossas cabeças. Foram 6 as vezes que o tentei. E apenas por uma grande sorte (quase que posso dizer milagre) estou aqui, a partilhar estes pensamentos. 

E muitos realmente o tentam, como eu tentei. 

E o que fazer perante isto?

O que fazer quando nos recusamos a aceitar que estamos doentes e precisámos de ajuda?

De facto não tenho como responder a esta pergunta. O meu caso foi muito específico. É como realmente dizem: “cada caso é um caso”, “cada pessoa é diferente da outra”. Mas se a minha história ajudar alguém, fico extremamente feliz, pois eu percebo perfeitamente o solipsismo que é esses estado.

Mas em todas as conversas encontro um ponto em comum entre nós todos: O Estigma Social.
A sociedade despreza, marginaliza, segrega, as pessoas com depressão, principalmente aquelas que tentaram o suicídio. Uma espécie de booling social. Eu sei-o pois posso falar na primeira pessoa sobre isso. Tantas foram as pessoas que me olhavam de lado. Que secretamente me apelidavam de “maluquinho” (para ser simpático). E por mais que eu tentasse manter a cabeça erguida e passar ao lado de tal facto, enquanto estava em depressão sentia-me bastante perturbado com isso.

Foi preciso uma enorme força interior, juntamente com profundas reflexões e consciencializações pessoais, para vencer a depressão. E com o relato na primeira pessoa dessa história de superação, muitas foram as pessoas que me vieram felicitar (muitas delas as que antes me segregavam). O meu retorno normal e pacífico à vida social, como que nada se tivesse passado, retirou das minhas costas esse estigma que as pessoas faziam questão de apontar. 
Hoje não há ninguém que olhe para mim e pense “coitadinho”, “maluquinho”, etc. Hoje olham para mim como uma pessoa “normal” (como se uma pessoa com depressão não fosse uma pessoa normal).

Foi preciso um livro, e uma postura social totalmente diferente para vencer esse estigma. 

Mas será que só assim eu deveria ter-me visto livre desse estigma?

Pois eu acho que não.
Assim como qualquer outra doença, a depressão tem cura. Por vezes pode ser longa, tortuosa, mas tem cura. 

Se já vencemos tantos preconceitos porque não vence a sociedade este preconceito?

Porque se continua a estigmatizar as pessoas com depressão, que se tentam matar?

Numa época de conjuntura mercantilista, devido à crise económica, os primeiros valores a caírem por terra são os sociais. 

Talvez esteja na hora da sociedade vencer este preconceito. Já é profundamente estudada, reconhecida, a depressão. Não é uma novidade. Perante isto, as pessoas não devem olhar para este flagelo como uma novidade e segrega-la. Devem sim, como já aconteceu com estigmas passados, olhar com uma tentativa de compreensão (uma compreensão absoluta nunca possível, pois apenas quem por lá passa sabe o que é), e trocar o olhar crítico, pelo olhar de apoio.

Quem está em depressão, quem está a pensar pôr termo à própria Vida, não tem força para travar esta batalha com a sociedade. Por isso sinto o dever moral e cívico, de alertar a sociedade para esta sua postura, que inconscientemente pode precipitar um acontecimento que todos queremos evitar.

Está na hora de acordar!

PEDRO RIBEIRO EM ENTREVISTA À NFM

2 comentários:

  1. Gostei da mensagem e da postura do Pedro Ribeiro. Votos de sucesso para a obra, que pode dar contributos positivos na mudança de mentalidades.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Muito obrigado caro Jorge.
      Palavras como estas é que fazem valer a pena a minha luta social perante este tema.

      Abraço

      Eliminar