quarta-feira, 29 de outubro de 2014

SER PROFESSOR DE EMRC

SARA MAGALHÃES
Pensar no perfil do professor de EMRC é, sem dúvida, pensar no seu papel de cristão no mundo e na sua procura da questão do sentido da sua tarefa. Tudo o que possa ser dito ou pensado sobre o seu papel na escola, está profundamente marcado pelos 20 séculos de cristianismo. Recorreríamos num primeiro momento à memória, relativamente ao percurso da história do cristianismo no mundo, desde a sua origem como comunidade minoritária. 

O mundo actual está marcado por um conjunto de problemas que simultaneamente constituem desafios: vivemos numa época individualista, que está sujeita a aparatosos movimentos de solidariedade produzida pelos mecanismos publicitários. Estas manifestações de solidariedade de massas são bem distintas da solidariedade cristã. A solidariedade cristã não se fundamenta em movimentos de massa nem serve os interesses de cada indivíduo, mas na solidariedade concreta e extrema de Cristo, que se entregou por todos, sem acepção de ninguém. 

Esta realidade exige uma conversão que se concretiza em acção. Esta acção será a procura da justiça básica: a justiça da verdade. E procurar a verdade significa caminhar para um reconhecimento mais profundo da solidariedade: o amor, entendido como agapê, na entrega de nós próprios ao outro e pelo outro, reconhecer que, como dom gratuito e não necessário de um Deus-Amor, existimos para nos darmos aos outros e pelos outros, significa reconhecer a mais profunda verdade e justiça da nossa existência. Para isso temos que nos “saber” na história, lida na cultura.[1]

É necessário saber-se colocar diante da cultura para que esta se possa manifestar na linguagem e na memória, num processo constante de encontro e diálogo. 

Um possível perigo a que devemos estar atentos é as “adaptações” teológicas que apenas pretendem servir os desejos e gostos de todos. 

A fé cristã como produtora de cultura assume a sua responsabilidade e define o seu sentido na educação, colocando-se ao serviço do homem e do mundo em nome de Jesus Cristo. Perante esta missão coloca-se o desafio ao professor de EMRC, sendo o mesmo que é colocado ao cristianismo: o desafio da globalização, cultura global (televisiva e mediática).

Diante deste desafio acrescento duas características ao perfil do professor de EMRC: saber introduzir a escuta do silêncio, como oportunidade de surgir algo novo, criativo, quer ao nível de reflexão, quer ao nível da relação inter-pessoal, em contraposição com o ruído presente na cultura vigente e a necessária recuperação da capacidade simbólica, corporal e espiritual do ser humano, como relação total, real de si mesmo com o outro e com o mundo. Uma vez que o nosso objecto de trabalho são o outro e a sua relação com Deus e o mundo, cabe ao professor de EMRC esgotar-se no acolhimento do outro; compreendendo o seu espaço (interior e exterior), para o poder fazer dialogar com o mundo tornando-o, ao mesmo tempo agente e colaborador da história da humanidade.

[1] GONZÁLEZ-CARVAJAL, Luís – Ideas y creencias del hombre actual, Sal Terrae, Santander, 1999, p.17

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