sexta-feira, 18 de julho de 2014

INCÊNDIO É MALDADE QUE ARDE E QUE SE VÊ


GABRIEL VILAS BOAS
DR
Os incêndios em Portugal durante o verão são uma realidade tão lusitana que muito me admira que ainda não a tenhamos apresentado num qualquer spot publicitário para vender o turismo português no estrangeiro. 

É uma realidade que não aceito, embora entenda perfeitamente como surge e por que se mantém ano após ano, como doença crónica. 

À volta dos incêndios no nosso país vegeta uma série de mitos, sendo o “das causas naturais” aquele que mais me irrita. É para mim claro que 80 a 90% dos incêndios começam por pura maldade de incendiários, cuja loucura não pode ser defensável como justificação para ato tão ignóbil. Admito que uma parcela muito pequena dos fogos possa ter origem na incúria ou num qualquer acidente lamentável, que as condições atmosféricas ampliaram. A limpeza das matas, ou seja, a chamada prevenção, apenas diz respeito à rápida propagação do fogo e às dificuldades que os bombeiros têm em combatê-lo. Não é o calor excessivo que inicia os incêndios durante a madrugada, não é o mato por cortar que pega fogo, em várias frentes, a serras inteiras. 

Os incêndios têm origem criminosa na esmagadora maioria dos casos. Combater, dominar e terminar com um incêndio, em Portugal, durante o verão, custa muito dinheiro (curioso haver jornais que fazem contas ao custo dum polícia à porta da casa de Vale e Azevedo quando esteve em prisão domiciliária e não somam os custo em pessoal e material dum incêndio em Portugal), destrói património estatal e privado e, ultimamente, rouba vidas a jovens bombeiros. 

Quando se apanha um incendiário e se consegue levá-lo a tribunal (o que é raro) ninguém o confronta com estes custos, com o pânico que causou às populações, ninguém o acusa de homicídio involuntário. Na verdade, sobram os atenuantes habituais: estava bêbado; quis vingar-se do amante da mulher; zangou-se com a GNR local e queria aborrecer o posto inteiro; armou zaragata na festa da aldeia e decidiu vingar-se nas matas da terra ou, simplesmente, é maluquinho e não sabe o que faz, coitado! Esta última justificação deixa-me estarrecido! 

Durante os restantes meses do ano a loucura do indivíduo esteve de férias e jamais se lhe conheceram atos do género nos meses/anos anteriores, mas agora é aceitável reconhecer que é louco. Há terras que descobrem os seus loucos com o calor, mas os manicómios não aumentam de população em setembro, o que é uma pena. Por outro lado, há loucuras que só se manifestam através da piromania, o que se tornou numa especialidade tão especial de loucura que quase só existe em Portugal. 

Com a desertificação de que o interior tem sido alvo nos últimos anos é possível colocar aldeias completas numa camioneta, mas não é possível fazer o recenseamento dos tolinhos de certas aldeias do interior ou então colocar “os perigosos” de quarentena durante o verão. Sugiro, aliás, que após o desejável recenseamento se levem os loucos a banhos, no litoral. Serão umas férias descansadas para o nosso Ministro do Interior que, no início de julho, dizia temer que os meios de combate aos incêndios não estivessem todos operacionais a tempo e horas. Ora, é ele o responsável pela garantia da operacionalidade de tais meios… Ele manda e ganha para isso, mas ele “teme que não seja possível” e nós trememos por um qualquer surto de loucura. Quando ouvi essas declarações ainda pensei que se tratava dum qualquer tributo aos Monty Python mas percebi que o nosso Ministro do Interior não tinha categoria para tanto humor. Era demasiada literatura para um homem só!

Claro que a prevenção é importante. Falta limpeza nas matas, faltam guardas florestais. Isso custa dinheiro? Claro que custa, mas muito pouco face ao que se perde todos os anos em floresta e em bens agrícolas e ambientais, para não falar de vidas humanas. No entanto, acho que falta, antes de tudo, ação determinada da Judiciária e mão dura dos tribunais. O exemplo aqui é fundamental. Quando um maluquinho pensasse em amalucar pensaria primeiro nos vinte anos que certamente passaria na prisão e na conta que ele ou a família teria de pagar aos bombeiros e a todos aqueles que prejudicou pessoal e materialmente.

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