segunda-feira, 30 de junho de 2014

CAMPEONATO DO MUNDO DE FUTEBOL- BRASIL 2014

O campeonato do mundo de futebol decorre no Brasil há duas semanas. Durante quinze dias, todas as
GABRIEL VILAS BOAS
DR
seleções presentes na fase final jogaram três jogos, apurando-se para a fase seguinte (a eliminar) as duas melhores de cada grupo.

Portugal também participou nesta prova maior do futebol mundial. Havia legítimas expectativas de que a seleção portuguesa conseguisse ser apurada para a fase seguinte. No entanto, a equipa de Ronaldo, Moutinho e Nani ficou em terceiro lugar e foi eliminada pelas seleções da Alemanha e dos EUA. 

Antes do início da prova houve, na população portuguesa algum otimismo em excesso que rapidamente se transformou em unânime desânimo após a humilhante derrota perante os jogadores germânicos, no primeiro jogo. A descrença instalou-se, então, em todas as conversas sobre o campeonato do mundo. 

Quase todos se acharam no direito de opinar doutamente sobre táticas, lesões, convocatórias de jogadores, locais de estágio e atitude dos jogadores, em campo e fora dele. Todos tinham alertado para o descalabro, apesar de umas semanas antes só haver registo de euforias sem razão. 

As palavras dos jogadores, ex-heróis caídos em desgraça, já não interessavam nada. Havia que descarregar a frustração como se a seleção tudo nos devesse. A verdade é que não deve! Pode alegrar, entristecer, iludir ou desiludir, mas não nos deve nada! O dinheiro que os jogadores ganham, mesmo aquele que a seleção lhes paga, não nos sai do bolso. É dinheiro que os seus clubes lhes pagam ou que a FIFA paga à Federação em resultado das conquistas desportivas desta seleção no passado. É um assunto pequenino e lateral, todavia importa esclarecê-lo de vez. 

É verdade que a seleção portuguesa ficou aquém do possível, mas não desiludiu pelo não apuramento. Espanha, Itália, Rússia, Inglaterra (campeões mundiais e europeus) também foram eliminadas de modo tão ou mais ultrajante.

A desilusão que a equipa de Paulo Bento criou foi de outra ordem. Portugal foi justamente eliminado. Não jogou bem e não mereceu vencer! A desilusão reside no facto de pensar que os nossos jogadores não fizeram tudo o que estava ao seu alcance para vencer, apesar de todos os contratempos porque passaram.

O empenho, o esforço físico e mental, a capacidade de sofrimento, a vontade de superação foram apenas medianas. Ora, representar Portugal exige o máximo de cada um em todos os momentos. Nisso não transijo. Foi nisso que Ronaldo, Nani, Moutinho e colegas falharam e não podiam ter falhado.

No final, é fácil culpar Paulo Bento porque levou para o Mundial jogadores sem ritmo de jogo, atletas saídos de lesões, impreparados ou em baixo de forma, que se lesionaram às primeiras correrias. Detesto hipocrisia e por isso não critico Paulo Bento, embora constate que esteve mal. 

Não temos moral para o criticar por duas grandes razões: nada se disse antes do mundial começar e, no essencial, faríamos o mesmo que ele. Convocaríamos 90% dos jogadores que ele chamou, porque, apesar de terem feito uma má época desportiva ou terem ficado muito tempo magoados, eram os melhores jogadores portugueses disponíveis. Não havia alternativas credíveis a estes. Todos nós sabemos isto muito bem. Como também sabemos que a maioria de nós teria levado ao Brasil os craques mesmo que houvesse outros a jogar melhor (que não havia), mas menos mediáticos.

Na hora de decidir sempre preferimos jogar pelo seguro e manter aqueles que passamos a vida a criticar. Não é assim na política ou nos negócios? 

A seleção falhou mas não com estrondo. O futebol continua a ser apenas um jogo. Umas vezes enche-nos de alegrias outras de tristezas, mas jamais pode servir para descarregar frustrações acumuladas com origens noutros setores da vida. Só assim conseguiremos perceber alguma da beleza deste desporto maravilhoso.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

ENCERRAMENTO DO ANO LECTIVO

“O tema da crise dos valores não nasceu nem hoje, nem ontem, pois sabe-se que a ‘Umwertung alIer Werte’, a ‘Inversão de todos os Valores’, já foi um dos temas privilegiados da reflexão de Nietzsche […]”. – em: OS VALORES DA CIDADANIA, por Isabel Renaud (1992). 

Os professores são mais, muito mais e cada vez mais, do que meros transmissores de conhecimentos.

Anabela Borges
DR
O exame começou às 9:30 em ponto. Os alunos iniciaram a prova, cada um metido na sua circunspecção.

O dia de Junho marcava o Verão no calendário, mas era um dia frio, chuvoso, digno de não deixar na vergonha qualquer dia de Outono. Lá fora, o vento agitava a ramagem, o cinza e o chumbo instalavam-se lentamente como quem chegava para ficar. Na sala, as luzes acesas e uma aragem fresca imprópria para um dia de Verão. Decorria a prova. E aquelas duas professoras, vigilantes, pensavam, cada uma, no desagasalho dos jovens, impreparados para aquela partida de São Pedro em vésperas de São João.  

Eram os pés desnudados, eram as blusas de alcinhas e as T-shirts. E naquela hora, acautelado que estava o fecho de todas as janelas, a porta aberta, pois as normas não permitiam que se fechasse, cada uma das professoras estava preocupada com o bem-estar e o conforto de cada aluno. E esperavam, no seu íntimo, que a prova não fosse para eles um impreparo tamanho como aquele dia feio e mal-humorado de Verão.

Há muitos anos que trabalho directamente com pessoas. E é tão difícil trabalhar com pessoas!

Neste ano, trabalhei com pessoas com idades compreendidas entre os 13 anos e os 50 e picos. As pessoas mais difíceis que encontrei, pelos mais variadíssimos aspectos, são as que se situam nas franjas deste conjunto de idades, ou seja, as da faixa etária dos 13/15 anos e as dos 50 e picos. É claro que isto não é nenhuma regra, provavelmente até poderá constituir uma excepção grosseira, pelo menos parcialmente. Isto sou só eu a falar do que vi e senti. E não esqueçamos que estamos a falar do meio escolar.

Sei explicar muito bem as razões (e não são nada animadoras) pelas quais não é fácil trabalhar com o primeiro grupo. Já sobre o segundo, as coisas não são assim tão claras, nem assim tão lineares.

Começarei por falar do segundo grupo, uma vez que me parece mais atópico, mais inconsistente, mais difícil de caracterizar, e assim ficará arrumado – para reflexão, claro está. Algumas dessas pessoas são pouco pacientes (o que, por vezes, dava para confundir com pouco tolerantes); são pessoas que colocam obstáculos em tudo, tudo lhes faz espécie, vêem problemas em todas as direcções (não, eu recuso-me a aceitar isso com a desculpa de que são pessoas mais experientes, ora essa); queixam-se muito, reclamam muito, por tudo e por nada; olham os outros com alguma desconfiança e falta de crédito; em alguns casos, verifiquei que são as que mais falham profissionalmente. Eu não gosto nada de pessoas com mau-feitio, isso já deu para ver. Porque até num mau-feitio tem de haver muita inteligência, tem de haver espaço para respostas e portas abertas e boas-vontades. E, muitas vezes, não há.

As pessoas do primeiro grupo deviam constituir uma das grandes preocupações da sociedade actual, correndo o sério risco de virem a ser estudadas, no futuro, como verdadeiros exemplos de barbáries cívicas. Não arrumam as cadeiras onde se sentam; deixam lixo em cima das mesas e nos sítios onde estiveram, sem olhar para trás, e quando lhes é dito que não há criados, quando se lhes chama a atenção, reagem com a maior das naturalidades, afirmando que há – apontando para os auxiliares de acção educativa, os contínuos; comportam-se dentro da sala de aula com poucas diferenças do que é comportarem-se no recreio, em termos de barulho e de utilização da voz; levantam-se do lugar sem pedir licença – mesmo que já tenham sido chamados à atenção por mais de 1000 vezes; mastigam chiclete e utilizam o telemóvel, sabendo que não é permitido – desrespeitam, nestas e noutras situações, todo e qualquer regulamento; utilizam bolas de futebol nos corredores; estragam rolos de papel higiénico inteiros, só porque sim; poucos querem saber das aprendizagens e um amontoado deles quer apenas saber o que vai sair para o teste.

Poucas vezes estes alunos são punidos. Pouco ou nada lhes acontece.

Ao contínuo resta-lhe gritar aos alunos, que não lhe obedecem, pelos corredores fora. Ao docente resta-lhe vestir uma capa de professor cara-de-mau, para que eles abusem o menos possível, resta-lhe falar-alto-para-se-fazer-ouvir, pelo menos nos primeiros minutos da aula, dependendo do dia e da hora, e da turma, é claro, que isto também varia de turma para turma, de escola para escola, de localidade para localidade.

E depois? Depois?

No fim de contas, o professor é muito mais do que um mero transmissor de conhecimentos, muito mais. Mas isso já todos nós sabemos. É o menino que tem de ir encher a garrafa de água; é a que lhe dói a barriga e tem de ir tomar um chá; o que lhe dói a cabeça, se a “stora” tem um comprimido (já agora!); a que está a chorar, porque “stora… umas cenas”; o que se levanta e foi só para apanhar a caneta, que por milagre, sozinha, voou cerca de 2 metros e meio; é o que tem mesmo de ir à casa-de-banho porque está mesmo muito apertadinho; é a gargalhada geral, porque o pior aluno da turma disse uma piada, que a “stora” não ouviu mas teve mesmo piada porque ele é o pior aluno da turma e por isso é o mais admirado pelos colegas. Sim, porque os meninos não podem esperar. Sim, porque os meninos têm um umbigo muito grande e vêem pouco pra lá dele, e vão queixar-se ao Diretor de Turma e aos pais. Sim, os meninos. Os meninos.

Parece que estou a acordar de um pesadelo.

Ainda bem que as pessoas com quem trabalhei este ano não são todas assim. Ainda bem que ao longo da minha vida tenho trabalhado com pessoas trabalhadoras, responsáveis, generosas, preocupadas, interessadas, tolerantes, empreendedoras e simpáticas.

Eu sei que estas pessoas vão sempre existir.


As outras, é preciso ajudá-las a mudar. Ainda vamos a tempo. Iremos?

sexta-feira, 20 de junho de 2014

PARA QUE SERVE UM REI?

GABRIEL VILAS BOAS
DR
Espanha tem um novo rei. Filipe VI sucede ao pai, Juan Carlos, que abdicou após quatro décadas de reinado. Chega ao trono espanhol com 46 anos o príncipe que casou com uma plebeia e cujos súbditos estão desencantados com a sua monarquia. 

Todos os reinados têm os seus desafios, até porque, como diria Ortega y Gasset, o “Homem é ele próprio e as suas circunstâncias”. No entanto, há desafios intemporais e universais que todos os Homens têm de enfrentar qualquer que seja a sua circunstância. 

O grande desafio de Filipe VI é tornar a figura do Rei pedra angular do seu povo. Certamente, Filipe VI sabe perfeitamente qual o papel institucional que lhe cabe, conhece as regras protocolares e as leis do seu país, compreende os anseios do seu povo. A questão que se coloca é outra: que tipo de monarca quer Filipe ser?, ou seja, que grau de comprometimento quer ter com o seu povo e com o seu cargo. 

O povo espanhol sabe bem que tipo de Rei quer. Quer um rei que ame o seu povo, que o entenda, que o saiba unir sem o constranger, que saiba dizer que sim e, sobretudo, dizer que não, dum modo decisivo e coerente. Quer um rei que seja admirado não apenas por ter uma mulher bela e elegante, mas por tornar um povo orgulhoso das decisões do seu rei. 

O povo ama o seu rei e gosta da monarquia. Aceita bem a ideia dum escolhido que vista o papel de herói e o represente com o glamour que só uma casa real pode emprestar. Todavia, um povo do século XXI exige muito mais ao seu Rei. Não baste a Filipe dizer que quer a unidade do país mantendo a diversidade das regiões autonómicas. É necessário construir essa unidade. E essa unidade conquista-se com um grande rei e um reinado exemplar, arguto, próximo das pessoas, paciente e ativo. 

Os grandes reis e os grandes reinados não são um concurso de beleza, um roteiro de visitas ao estrangeiro ou uma cuidadosa gestão de posições políticas que foge dos problemas sem nunca os resolver. É verdade que essa é a marca dos tempos modernos, mas também a razão que afasta reis e rainhas do coração do seu povo. 

Ganhar o respeito, a admiração, o carinho e o amor do povo espanhol é uma tarefa árdua que Filipe e Letizia têm pela frente. E desafios não faltam. Desde logo o referendo separatista na Catalunha, a eterna questão basca ou as desigualdades económicas vividas pelas regiões mais pobres como é o caso da Galiza. Poder-se-á dizer que o Rei não detém o poder legislativo nem tem um ascendente psicológico decisivo sobre o povo. Pois precisam de o conquistar. 

Filipe VI e Letizia Ortiz têm de escrever a sua própria história. Da determinação e sagacidade com que o fizerem dependem um bocadinho a História próxima de Espanha e o futuro da própria monarquia na Europa. 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

A ÉTICA GOVERNAMENTAL VAI MAL DE SAÚDE

GABRIEL VILAS BOAS
DR
Os médicos ameaçam novamente fazer greve daqui a quatro semanas. A maioria de nós deu pouca relevância ao facto e muitos, desatentos, acharão que se trata, no fundo e mais uma vez, de questões salariais ou remuneratórias. Mas não! O problema é o código de ética que o Governo do Ministro Paulo Macedo quer impor ao médicos e outros agentes que trabalham na área da saúde.   

Sem ler ou ouvir as razões dos médicos, poderíamos pensar se tal código só poderia ter por causa os muitos presentes que os médicos recebem dos seus pacientes e que o Ministério da Saúde estava disposto a terminar com essa prática. Ainda que o assunto seja aflorado, não é o que motiva o novo código de ética que os nossos governantes querem impor à classe médica.

O ministério quer que os médicos, enfermeiros e outros agentes sejam obrigados a “guardar absoluto sigilo e reserva sobre qualquer informação que possa afetar ou colocar em causa o interesse da organização”. E acrescenta que todos os colaboradores dos organismos sob a tutela do Ministério da Saúde “devem abster-se de emitir declarações públicas, por sua iniciativa ou mediante solicitação de terceiros, nomeadamente quando possam pôr em causa a imagem do nome do serviço ou organismo, em especial fazendo uso dos meios de comunicação social”.

Dito duma forma simples: não podem falar nada que ponha em causa o bom nome do serviço onde trabalham, ainda que isso seja a mais pura das verdades. Não podem dizer que o governo os obriga a práticas médicas pouco recomendáveis porque menos onerosas, não podem esclarecer ninguém sobre condutas médicas e administrativas que achem lesivas do cidadão, não podem denunciar ordens da tutela que não respeitem os interesses nem a saúde dos utentes, etc. A lista seria extensa e cada um de nós pode imaginar a lista de proibições que os profissionais da saúde passam a estar sujeitos. 

E por que faz isto o Ministério da Saúde? Se observarmos com atenção, os médicos portugueses não têm por hábito denunciar a falta de condições nos hospitais, não costumam envergonhar os serviços onde trabalham com afirmações depreciativas ou bombásticas, não “passam” aos media informações inconvenientes ou falsas, não fazem dos serviços públicos de saúde um centro de negócios. Aliás, os contactos com a comunicação social são sempre pautados pela reserva e discrição e não costuma haver duas versões do Hospital e Centro de Saúde para o mesmo facto. 

O problema do Ministério da Saúde não é a falta de ética dos médicos portugueses, mas a sua ética excessiva, na ótica do governo. Para o Ministro Paulo Macedo e seus pares, era bom que os médicos assistissem sem reação nem denúncia à implementação dum conjunto de práticas médicas que baixassem o nível dos cuidados de saúde ou pusessem em causa esses mesmos cuidados. E, vinculados por esse “tão ético” código de ética, dessem a cara por medidas com as quais discordam profundamente. Mais do que amordaçados, os médicos passariam a assumir, na prática e no terreno, a desqualificação do Serviço Nacional de Saúde. 

O Ministério da Saúde, ao bom estilo de qualquer regime ditatorial, diria o que o médico pode dizer e não pode dizer. É a perversão total da liberdade de expressão e da democracia. O médico português não é um desbocado, um maldizente ou um traidor. O médico português é um cidadão de pleno direito, com liberdade de opinião e com uma responsabilidade acrescida do ponto de vista social, cívico e ético, cuja prática das últimas décadas não autoriza outra tomada de posição que não seja estar do seu lado nesta luta. 

É uma luta fundamental ainda que pouco publicitada pelos órgãos de comunicação social (que também são atingidos pelo código da vergonha), porque em última instância defende o direito dos utentes, a saber, que muitas vezes os médicos e enfermeiros que os atendem não fazem melhor ou diferente porque nem os deixam denunciar o que está mal. 

O problema é antigo e resolve-se quase sempre da pior da maneira: quando não se gosta da mensagem o melhor é “matar” o mensageiro. É o que diz o artigo 3.º do Código de Maquiavel.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

PELOS SANTOS BEIJAM-SE AS PEDRAS

ANABELA BORGES
DR

Junho é o mês dos Santos Populares, com festas e arraiais por todo o país. As mais famosas são as festas de Santo António, de São João e de São Pedro.

As festas dos Santos terão as suas origens remotas na mitologia romana. Juno, esposa de Júpiter e rainha dos deuses, representada pelo pavão, sua ave favorita, deu origem ao nome do sexto mês do ano, Junho, em sua homenagem.

As festas joaninas, ou festas dos santos populares, são comemorações católicas, celebradas em vários países do mundo, historicamente relacionadas com a festa pagã do solstício de verão (no hemisfério norte) e de inverno (no hemisfério sul). Tais celebrações tiveram origem na Idade Média, conhecidas como as Festas Joaninas, Juaninas, ou Juninas. E se alguns afirmam que o nome está directamente relacionado com o nome “Junho”, outros defendem que, em Portugal, ficaram assim conhecidas graças a São João. 

Em Amarante, celebra-se uma das maiores romarias do país, denominadas as “Festas do Junho”. Celebradas sempre no primeiro fim-de-semana de Junho, são três dias muito intensos de festa, que atraem romeiros de todas as partes do país e muitos estrangeiros também. Estas, não temos dúvidas, são festas para celebrar o mês de Junho, o solstício de Verão. E são a grande homenagem a São Gonçalo, o santo padroeiro.

Nesta linha de ideias, São Gonçalo poderá ser considerado o primeiro na linha de sucessão dos santos populares. 

Tal como as restantes festas dos Santos Populares, as Festas do Junho têm direito a tudo: arruadas, ranchos folclóricos, cantores populares, bailaricos, marchas populares, tascas e tasquinhas, romeiros e romeiras, diversões, feiras, exposições, arraiais. É todo um conjunto de tradições de origem cristã, pagã, rural, cultural, sem dúvida com fortes raízes vindas das aldeias recônditas, em volta do vale que é a cidade de Amarante, muitas delas aninhadas nas fraldas do Marão. E vindas, sem dúvida, das eras encastradas nas camadas (in)solúveis do tempo. 

Diz o ditado popular que “Pelos Santos Beijam-se as Pedras”. É mesmo isso. A devoção às festas, numa mistura, sempre muito interessante de analisar, de pagão e cristão, leva as pessoas a embrenharem-se num espírito de alegria, fraternal, comunitário… e de devoção aos copos também. No passado fim-de-semana, a minha filha mais nova, a dada altura da noite, dizia “a festa cheira a bêbado”, e a avó respondia “não há festa sem bêbado”. 

É uma altura em que as pessoas se animam a sair de casa, a misturarem-se nas ruas, a sorrirem umas para as outras. É uma altura bonita do ano.

E, para não fugir à tradição, é a altura de pedir namoro ou de reforçar o que se tem. É tempo de dar oferendas quadras e versinhos, manjericos, ou os doces fálicos do São Gonçalo, e soprar palavras de amor. 

Quem não pede desejos de amor quando o fogo estoira no ar, cheio de efeitos e cores?

O amor, pois, ou não estivessem estas festas ligadas ao solstício de verão e a antigos rituais de fertilidade.

VIVAM OS SANTOS POPULARES!